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Reportagem

PF apura se chefe da Abin mandou apagar provas e autorizou ação no Paraguai

A Polícia Federal apura suspeitas de que a atual gestão da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), comandada pelo diretor-geral Luiz Fernando Corrêa, determinou a formatação de notebooks com o objetivo de apagar provas sobre os desvios de finalidade na agência.

Esse é um dos esclarecimentos que a PF quer obter do diretor da Abin em depoimento, que será colhido depois de amanhã. A intimação foi revelada pela GloboNews. A diligência será uma das últimas do inquérito, que deve ser encerrado nas próximas semanas.

Além de questionar o diretor sobre uma suspeita de atuação para destruir provas, a PF também busca saber qual foi a participação dele na ação de espionagem da Abin contra o Paraguai. Esse deve ser outro assunto abordado no interrogatório.

Por meio de nota, a Abin informou que o diretor está à disposição das autoridades para prestar quaisquer esclarecimentos, "seja no âmbito administrativo, civil ou criminal, sobre os fatos relatados na imprensa e que remetem a decisões tomadas em gestão anterior da Agência".

Um funcionário da Abin relatou à PF que a ação de espionagem, que consistiu na invasão de computadores de autoridades do governo do Paraguai, foi comunicada a Luiz Fernando e teve sua autorização. Os detalhes do caso foram revelados em reportagem publicada pelo UOL em 31 de março.

Também foi intimado para prestar depoimento o ex-diretor adjunto da Abin Alessandro Moretti. Ele foi o número 2 de Luiz Fernando na época dos fatos apurados pela Polícia Federal. Os depoimentos devem ocorrer de forma simultânea na quinta-feira.

O inquérito da PF sobre a Abin começou por suspeitas do uso indevido de ferramentas de espionagem pela gestão do ex-diretor Alexandre Ramagem durante o governo de Jair Bolsonaro (PL). Fatos encontrados ao longo da investigação, porém, apontaram suspeitas de irregularidades na atual gestão.

Servidores da agência relataram à PF que, após o avanço das investigações, houve uma ordem da direção para recolher todos os notebooks e formatá-los ao longo do ano passado. De acordo com os servidores, a ordem foi disparada depois que um notebook da Abin foi encontrado na posse de Ramagem durante busca e apreensão executada pela Polícia Federal em janeiro do ano passado.

A justificativa oficial da direção era para realizar um controle maior do patrimônio da Abin e encerrar com o acesso remoto às ferramentas da agência, mas não houve explicação para a ordem de formatação das máquinas.

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Luiz Fernando Corrêa, chefe da Abin
Luiz Fernando Corrêa, chefe da Abin Imagem: Leonor Calasans/IEA-USP

O diretor de tecnologia da Abin, Juliano Rodrigues Ferreira, disse à PF que ponderou à direção da agência não ser o momento adequado para realizar aquela ação, mas recebeu a ordem de dar prosseguimento mesmo assim.

"Foi solicitado que todos os notebooks fossem entregues na sede da Abin ou nas superintendências. (...) Por padrão, as máquinas foram formatadas", afirmou em depoimento à PF Juliano Rodrigues Ferreira, diretor de tecnologia da Abin.

Questionado pela PF, o secretário de Planejamento e Gestão da Abin, Rodrigo Aquino, disse que foi implantada uma mudança nas regras para acesso remoto nos computadores e por isso foi necessário o recolhimento. Afirmou, entretanto, não saber se houve formatação dos notebooks.

Outro servidor também relatou, em depoimento, que a direção da agência decidiu entregar à PF somente cinco dos 15 computadores que utilizavam uma ferramenta alvo da investigação chamada First Mile, usada para monitorar a localização de adversários do governo Bolsonaro. Isso, na avaliação dos investigadores, seria mais um indicativo da criação de dificuldades para o avanço do inquérito.

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A defesa de Luiz Fernando Corrêa não foi localizada para comentar.

Homem de confiança do presidente Lula, ele assumiu formalmente a direção da Abin em maio de 2023, após ser aprovado em sabatina no Senado. Anteriormente, ele havia sido diretor-geral da Polícia Federal no primeiro governo Lula.

A PF, porém, descobriu que Luiz Fernando já participava de reuniões internas e dava ordens na agência mesmo antes de assumir o cargo, o que poderia também indicar irregularidades.

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