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Pela medicina ecológica, cuidado com a saúde deve levar em conta o meio ambiente

O novo ambiente urbano em que boa parte da população vive é fonte de inúmeras doenças - Thinkstock
O novo ambiente urbano em que boa parte da população vive é fonte de inúmeras doenças Imagem: Thinkstock

Ana Sachs

Do UOL, em São Paulo

16/01/2013 06h00

Em tempos de aquecimento global e preocupação cada vez maior com a natureza, um movimento na área médica ainda pouco difundido no Brasil parece ter tudo a ver com o momento. Trata-se da medicina ecológica ou ecomedicina, que parte do princípio de que a saúde humana só pode ser entendida levando em consideração também o local onde se vive. Segundo esse movimento, alterações bruscas e rápidas no meio ambiente têm ligação direta com algumas das principais doenças que afetam o ser humano nos dias de hoje.

A origem da medicina ecológica é incerta, mas os primeiros estudos sobre o impacto do meio ambiente na saúde surgiram em 1965, quando foi fundada a Academia Americana de Medicina Ambiental. Acredita-se que foi nos anos 1990 que o movimento ganhou força nos EUA e na Europa.

“A primeira pessoa a empregar esse termo (ecological medicine) foi a arqueóloga americana Carolyn Raffensperger, que hoje é a presidente da ONG Science and Environmental Health Network”, conta o clínico geral Alex Botsaris, especialista em medicina chinesa pela Universidade de Pequim.

Autor do livro "Medicina ecológica – Descubra como cuidar da sua saúde sem sacrificar o planeta" (Ed. Nova Era), o médico tenta trazer ao país os conceitos do movimento, ainda bastante incipiente por aqui. “Não é possível separar a saúde do planeta da saúde dos indivíduos. Quem estuda e se aprofunda em ecologia e outras ciências ambientais descobre logo que a vida não é um fenômeno isolado”, diz.

A medicina ecológica se baseia no conceito de indivisibilidade, no qual todas as espécies do planeta têm algum grau de interdependência. Se muitas delas ficam ameaçadas e o meio ambiente muda de forma rápida e intensa, a saúde da biosfera como um todo é posta em risco. E isso inclui o ser humano, que também faz parte do conjunto. “Ou seja, temos que ter ações tanto para a saúde do planeta como dos indivíduos, ao mesmo tempo”, afirma Botsaris. Parece meio óbvio - e é -, só que esse conceito básico tem sido esquecido.

Tido como inadequado, agressivo e contaminado, o novo ambiente urbano em que boa parte da população vive hoje é considerado a fonte de inúmeras doenças e males que atualmente assolam a humanidade e crescem vertiginosamente em todo o globo, segundo a medicina ecológica. Suas causas principais são a poluição e a contaminação de alimentos por resíduos químicos. 

"A cada ano a indústria química introduz cerca de 2.000 moléculas novas no meio ambiente e não sabemos quais as consequências disso. São medicamentos, defensivos agrícolas, fungicidas, produtos para plásticos, derivados de petróleo, metais pesados, inúmeras substâncias tóxicas”, cita o médico.

Estamos começando a andar para trás em saúde e qualidade de vida. Aquele pensamento de que a longevidade do homem iria aumentar nos próximos anos não vai se confirmar

Alex Botsaris, médico

Isso sem falar no estresse gerado pela vida nas cidades que, na avaliação de Botsaris, é um dos principais males causados pelo ambiente atual. O médico classifica-o de duas formas: o estresse continuado, aquele sentido com frequência por um longo período, e o estresse cerebral, que é quando a demanda excessiva é exclusiva para o cérebro e não há contrapartida física. De acordo com ele, ambas estão ligadas ao aumento de problemas psiquiáticos na sociedade, como ansiedade, depressão, insônia e síndrome do pânico.

Todos esses agentes externos fazem com que os seres humanos estejam cada vez menos saudáveis, mesmo com todos os avanços tecnológicos. “Podemos dizer que quase tudo está de certa forma errado. É por isso que, apesar do aumento do custo da saúde e do investimento em tecnologia, estamos começando a andar para trás em saúde e qualidade de vida. Aquele pensamento de que a longevidade do homem iria aumentar nos próximos anos não vai se confirmar”, argumenta Botsaris.

Com isso, uma das propostas da medicina ecológica é monitorar e reduzir o uso e a propagação desses químicos como forma de manter a saúde do planeta e, consequentemente, a do homem. “A causa provável da maioria das doenças, cuja incidência está aumentando, é ambiental: infarto, pressão alta, diabetes, ansiedade, depressão, câncer, doenças neurodegenerativas, infertilidade e alergias, entre outras”, acredita o clínico geral.

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A alimentação também adquire novo status na medicina ecológica. Ela é um dos pilares da prática e vai muito além de uma simples orientação para se tornar uma necessidade básica e fundamental.

“A medicina ecológica valoriza muito a alimentação e a digestão. Afinal, ela é uma das principais interações entre o organismo e o meio ambiente. Por isso, preocupa-se muito mais com a qualidade dos alimentos e em ofertar uma alimentação mais rica e farta em nutrientes essenciais. A proposta é cuidar muito da alimentação mesmo no indivíduo saudável”, explica Botsaris.

Para viver em conformidade com a natureza e, consequentemente, em equilíbrio, o movimento prega, ainda, um retorno a hábitos antigos. “É preciso viver o mais naturalmente possível, evitar os exageros e se proteger dos excessos da tecnologia. Precisamos também de contato com natureza e estimular menos o cérebro”, indica o médico.