Sobreviventes de incêndio em Santa Maria ainda correm risco de apresentar infecção respiratória
Além de problemas respiratórios pela inalação excessiva de monóxido de carbono, sobreviventes de um incêndio como o da boate Kiss, em Santa Maria (RS), podem apresentar lesões nas vias respiratórias e nos pulmões pela exposição a partículas ou pelo próprio calor da fumaça inalada. Isso expõe o organismo a bactérias, podendo gerar pneumonia e outros problemas alguns dias após o ocorrido.
“Em geral, os sintomas se manifestam nas primeiras horas, mas é possível que uma pessoa tenha sintomas tardios por uma infecção oportunista”, comenta o pneumologista Fábio Pereira Muchão, do AME-Barradas, ligado à Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo.
O ministro da Saúde Alexandre Padilha alertou, nesta segunda-feira (28) que as pessoas que estiveram na boate e que inalaram fumaça ainda podem correr riscos de contrair uma infecção respiratória grave, a chamada pneumolite química.
Segundo o pneumologista Humberto Bogossian, do Hospital Israelita Albert Einstein, a fumaça do incêndio possui partículas que se acumulam nas vias aéreas. "Algumas partículas menores podem chegar perto dos alvéolos pulmonares", explica. Além disso, os gases produzidos durante a combustão podem irritar as vias aéreas. Para se proteger, as células geram um processo de inflamação, que pode resultar em tosse, bronquite e acúmulo de secreção. "Algumas pessoas chegam a excretar fuligem", comenta o médico.
Em alguns casos, existe o risco de edema pulmonar, um acúmulo de líquido que causa falta de ar e pode ser grave. A recomendação para quem esteve em contato com a fumaça, portanto, é procurar o médico caso apresente sintomas como tosse, falta de ar, febre, chiado no peito ou mal-estar.
Vítimas
Quando ocorre um incêndio, uma grande quantidade de monóxido de carbono é produzida. Ao ser inalado, o monóxido de carbono se prende à hemoglobina, proteína presente nas células vermelhas do sangue que tem a função de transportar oxigênio para todo o corpo. Como o monóxido ocupa o lugar do oxigênio, órgãos e tecidos deixam de ser alimentados e o organismo entra em colapso.
A primeira reação, segundo Fábio Muchão, é a pessoa perder a consciência, já que o cérebro deixa de receber oxigênio. A morte por asfixia pode ocorrer em poucos minutos.
O atendimento dos sobreviventes de um incêndio requer o uso de ventilação mecânica para ajudar na oxigenação dos órgãos e tecidos. Segundo o médico, a quantidade de oxigênio usada e a duração do tratamento dependem da extensão das lesões que o paciente teve.
Existem 79 pessoas internadas em unidades de terapia intensiva de um total de 112 feridos no incêndio, que provocou a morte de 231 pessoas.
Cerca de 80% desses internados são pessoas que sofreram intoxicação por inalação de fumaça tóxica, e os 20% restantes são feridos com queimaduras graves.
Respiração e asfixia
Quando você inspira ar através de seu nariz ou boca, ele passa pela epiglote e pela traqueia, até alcançar os brônquios. Dos brônquios, o ar passa para o interior de cada pulmão e então segue por brônquios cada vez mais estreitos até alcançar os alvéolos.
Dentro de cada um dos alvéolos, o oxigênio se espalha para dentro dos vasos capilares pulmonares. Lá, o oxigênio se liga à hemoglobina, proteína presente nas células vermelhas que é rica em dióxido de carbono. A troca de gases ocorre em frações de segundo. O dióxido de carbono deixa o sangue e os alvéolos, e sai quando você expira. Já o oxigênio que ficou no sangue é levado para o coração e para o resto do corpo.
Quando ocorre um incêndio, uma grande quantidade de monóxido de carbono é produzida. Ao ser inalado, o monóxido de carbono se prende à hemoglobina e o corpo fica impedido de receber oxigênio. A primeira reação é perder a consciência, já que o cérebro deixa de ser alimentado. Em questão de minutos, outros órgãos entram em falência e a pessoa morre por asfixia.
Fonte: HowStuffWorks e Fábio Pereira Muchão, pneumologista do AME-Barradas (Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo)
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