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Doença rara faz mulher expelir membrana pelos olhos no interior de SP

Wagner Carvalho

Em Bauru (SP)

26/08/2013 16h42

Um caso raro, um verdadeiro desafio para a medicina. Moradora em Lins, no interior de São Paulo, Laura Casari Ponce, 34 anos, sofre de uma doença que a faz expelir uma espécie de membrana pelos olhos. O fato se repete há 19 anos. Sempre que a professora contrai uma conjuntivite, o fenômeno acontece. As lágrimas se cristalizam e em poucos minutos surge uma membrana branca resistente e elástica na cavidade interna do olho.

Laura passou por mais de 30 médicos oftalmologistas, mas nenhum foi capaz de descobrir o motivo da jovem expelir esse tipo de membrana do olho direito. Afastada das salas de aulas e abalada psicologicamente, Laura confia no tratamento que começou há cerca de 40 dias em Bauru, a 104 km de Lins,  para ficar livre da doença.

De acordo com o médico Raul Gonçalves de Paula, que soube do caso de Laura depois de assistir a uma reportagem pela TV, o fato é único no mundo. “Até agora não se tem nenhum relato na medicina de um caso assim. Temos apenas uma experiência alemã in vitro, mas não existe relato algum de registro da doença em seres humanos”, afirma o oftalmologista.

Nos dois olhos

Na última semana, Laura ligou em desespero para o médico, informando que o fenômeno que até então afetava apenas o olho direito havia começado também no esquerdo. “Esse fato elucidou várias perguntas para as quais nós, que estamos cuidando do caso, não tínhamos respostas”, afirma o médico.

Raul acredita que a formação das placas acontece devido a uma infecção causada pela bactéria Staphylococcus aureus que faz com que as  lágrimas de Laura se cristalizem e as membranas se formem. "Esse tipo de bactéria é comum na pele dos seres humanos", explica o médico. De acordo com ele, a própria lagrima possui uma defesa natural contra a ação dessa bactéria, mas no caso de Laura essa defesa não existe.

O oftalmologista explica que o uso de um colírio especial isolou a bactéria no olho direito e isso fez com que o olho esquerdo começasse a formar as membranas. Apesar de deixar Laura ainda mais preocupada, para o médico o fato de ela passar a expelir a membrana pelo olho esquerdo também, torna mais fácil a busca por uma explicação para  o fato analisando o lado químico.

Laura passou a última semana inteira no hospital sendo observada pelo oftalmologista. Com um quadro agudo de conjuntivite, a jovem chegou a expelir 30 membranas em um só dia. “Ela ficou do meu lado e teve vezes que as membranas se formavam num espaço pequeno de tempo, num intervalo de quatro a sete minutos”, conta o médico.

  • Divulgação

    O oftalmologista Raul Gonçalves de Paula mostra uma das membranas dos olhos de Laura Casari Ponce colocada em um pote para exame

Tratamento

A professora segue o tratamento com colírios especiais e nitrato de prata, o último, um medicamento que geralmente é usado pela oftalmologia em recém-nascidos para prevenir a conjuntivite. O médico afirma que aguarda alguns testes que estão sendo feitos com a membrana expelida por Laura para desvendar o quebra-cabeça. Enquanto isso, a educadora aguarda em casa o quadro atual de conjuntivite regredir para retomar o tratamento.

De acordo com a mãe da jovem, Marisa Ponce, a filha está muito abatida. Apesar de o médico tentar tranquiliza-la a todo o momento, o fato do olho esquerdo também começar a expelir a membrana mexeu muito com o psicológico de Laura.

A professora sofre muito por não poder dar aulas e também pelo preconceito. “Minha filha está muito abalada psicologicamente, o assédio por parte da imprensa e a curiosidade por parte das pessoas tem mexido muito com ela”, afirma a mãe que pretende levar Laura para passar por uma avaliação com um psicólogo nos próximos dias.

Resistente e elástica

  • Divulgação

    Em detalhe, uma das membranas retiradas dos olhos da professora Laura Casari Ponce

O oftalmologista explica que apesar de todo o mistério que envolve o caso, os riscos para a visão de Laura são pequenos. Apesar da quantidade de membranas expelidas, elas se formam numa espécie de bolsa que existe abaixo do olho e a saída causa apenas uma irritação, mas não chega a agredir o globo ocular.

Ao mesmo tempo em que realiza o tratamento, o oftalmologista Raul de Paula segue com diversos testes com as membranas expelidas até o momento. Ele conserva uma membrana em água de injeção e percebeu que, aos poucos, ela foi se decompondo.

Em outro teste a membrana conservada no álcool 46 graus se tornou resistente, elástica e praticamente inquebrável. “É cedo para qualquer conclusão. Nossa expectativa é encontrar uma cura para o caso da Laura e contribuir em muito para a medicina ao desvendar esse caso raro”, afirma.