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Falta de insumos e Bolsonaro: os desafios de Mandetta no combate ao vírus

Luiz Henrique Mandetta na coletiva em que disse que fica no Ministério da Saúde - Foto: Adriano Machado/Reuters
Luiz Henrique Mandetta na coletiva em que disse que fica no Ministério da Saúde Imagem: Foto: Adriano Machado/Reuters

Do UOL, em São Paulo

07/04/2020 01h30

Resumo da notícia

  • Boatos de demissão e reunião interministerial monopolizaram debates na segunda-feira
  • Calendário de pagamento de auxílio de R$ 600 ficou sem resposta
  • Crise diplomática com a China pode prejudicar negociação de insumos médicos

O já desafiador cenário do combate à covid-19 ganha um novo foco de tensão com as incertezas acerca da manutenção de Luiz Henrique Mandetta no Ministério da Saúde. A última queda de braço entre ele e o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) dominou as discussões da segunda-feira devido à forte especulação em torno de sua possível demissão iminente.

Com isso, assuntos igualmente importantes no enfrentamento da crise gerada pelo novo coronavírus ficaram em segundo plano. É o caso do calendário para o pagamento do auxílio emergencial de R$ 600, que ficou sem respostas. Também da tensão criada pelo ministro da educação, Abraham Weintraub, com a China, principal produtor de insumos hospitalares que são essenciais no tratamento de infectados, e que acabou em segundo plano.

No início da noite, Mandetta, que havia se ausentado da entrevista coletiva diária da pasta para comparecer a uma reunião interministerial, fez um pronunciamento afirmando que permaneceria no cargo e se valendo mais uma vez da metáfora do "médico que não abandona paciente". Ele afirmou que seguirá trabalhando com "ciência, foco e planejamento". Não há garantia, contudo, sobre até quando ele se manterá no cargo.

"Nós vamos continuar, porque continuando a gente vai enfrentar nosso inimigo. Nosso inimigo tem nome e sobrenome: é a covid-19. Temos uma sociedade para tentar proteger. Médico não abandona paciente, eu não vou abandonar", declarou o ministro, bastante aplaudido na ocasião.

O ambiente de desgaste político ficou claro em declarações sobre o dia ter "rendido pouco" e sobre funcionários da pasta terem chegado a esvaziar suas gavetas e as do ministro. Apesar de não ter se referido diretamente à ameaça de demissão, Mandetta deixou claro que caberá ao presidente definir uma nova equipe se assim achar necessário.

A permanência do ministro é tida como uma vitória momentânea da ala militar do governo, capitaneada pelo ministro da Defesa, Fernando Azevedo, e operacionalizada pelo chefe da Casa Civil, Walter Braga Neto. Luiz Eduardo Ramos, da Casa Civil, também é citado como um dos que convenceram Bolsonaro que o movimento seria desastroso.

Parlamentares governistas fortaleceram a defesa do ministro com receio de que ele poderia atribuir à troca e, consequentemente, ao governo, os aumentos previstos nos números de mortes. Algo que poderia ser fatal às pretensões eleitorais de muitos deles.

O apoio popular que ele tem, já registrado em pesquisa Datafolha na última sexta, também ficou claro nos panelaços que ocorreram em diversas cidades em seu apoio. Por conta disso, cientistas políticos avaliam que seria um risco político enorme demitir o ministro neste momento.

Em disputa estão, por um lado, a condução política da crise. O isolamento social e o uso da hidroxicloroquina no tratamento dos pacientes seriam pontos centrais na rixa entre o ministro e seu superior. O fim do primeiro e a adoção do segundo são defendidos pelo presidente e pelo deputado federal Osmar Terra (MDB-RS), que chegou a ser cotado como novo nome para a pasta.

Por outro lado, Mandetta estaria gerando ciúmes em Brasília por seu protagonismo na crise e já foi acusado de agir como "dono da verdade". Na semana passada, Bolsonaro deixou isso claro ao dizer que faltava "humildade" a ele. Não ajudou a participação dele em uma live de uma famosa dupla sertaneja no final de semana. No domingo, o presidente cravou: "virou estrela".