Covid-19: Veja por que estudos dão esperança, mas não liberam de quarentena
Enquanto cientistas buscam vacina, cura ou ao menos tratamento para a covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, nota-se, pelo país, o relaxamento do isolamento social. Mas epidemiologistas advertem: estudos envolvendo cloroquina e plasma sanguíneo ainda são preliminares, podem apontar caminhos, mas ainda não liberam os brasileiros da quarentena.
"Temos notícia de remédios saindo, notícias de número de casos relativamente controlados em outros países, mas no Brasil nós sabemos que esta não é a realidade. As pessoas não podem perder a noção de que ainda precisamos do isolamento horizontal".
Ralcyon Teixeira, chefe da Divisão Médica do Hospital Emílio Ribas, em São Paulo.
Isso porque, apesar da esperança trazida pelas pesquisas, até o momento, o único consenso científico no Brasil e no mundo é que não há cura para a covid-19.
Cloroquina e hidroxicloroquina: conclusões precoces
A primeira substância alardeada como "cura" da covid-19 foi a hidroxicloroquina, da família da cloroquina, impulsionada por declarações do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Mas as pesquisas ainda estão em andamento, com pacientes recebendo a substância como parte de estudos em fase inicial.
"Dá para testar um milhão de medicamentos em laboratório, mas este é só o início para eleger uma droga que pode ser que seja boa. Estamos ainda no início deste processo, não passamos disso ainda", afirma o médico infectologista Marcos Boulos, que lidera a Superintendência de Controle de Endemias de São Paulo.
Um estudo da Fiocruz Amazônia, por exemplo, identificou 13% de mortes de pacientes graves que receberam a cloroquina — um pouco abaixo da taxa verificada em estudos internacionais (18%), mas dentro da margem de confiança.
"É muito importante que outras pesquisas saiam para que a gente reúna mais informações. O nível de evidências ainda é muito pequeno", diz o infectologista Marcus Lacerda, que participou desse estudo com 81 pacientes em Manaus.
Plasma sanguíneo: uma aposta
Outra frente aberta no Brasil, em linha com estudos conduzidos nos Estados Unidos e na França, é o teste de plasma sanguíneo de curados em doentes com covid-19. A pesquisa aqui será capitaneada pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e pelos hospitais Albert Einstein e Sírio-Libanês.
A ideia é convocar pessoas que se curaram de uma forma branda da doença, usar os anticorpos em quem ainda têm a infecção e então estudar como estes pacientes reagem.
"Ainda não sabemos se isso pode ser benéfico ou não; ainda temos que estudar. Só vamos estender aos hospitais se o resultado for positivo, se não, vamos investir tempo em outras coisas", pondera Silvano Wendel, diretor do banco de sangue do Hospital Sírio-Libanês.
"É um estudo experimental: doadores e pacientes serão selecionados com cuidado, e não é algo a ser usado de forma indiscriminada"
A intenção é tentar diminuir a gravidade ou ao menos encurtar a duração da doença.
Uma certeza: é preciso seguir testando
Em meio a tantas frentes diferentes, os infectologistas convergem ao dizer que ainda é cedo para atestar a eficácia e a segurança de qualquer tratamento.
"Ainda não dá para tratar [os estudos] como avanços, porque uma pesquisa precisa de muito tempo para ser realizada, e não tivemos tempo para isso", diz o infectologista Marcos Boulos.
"Estas estratégias estão em fase experimental. Podem até mostrar sucesso em alguns momentos, mas é ainda muito precoce", reforça Jean Gorinchteyn, médico do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, de São Paulo.
"Enquanto isso nós temos que continuar vigilantes, impedindo a circulação do vírus na população. Para isso acontecer, as pessoas devem ficar em casa, o isolamento deve ser preservado", aconselha, ecoando o consenso das autoridades sanitárias do Brasil e do mundo.
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