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Brasil vê aceleração de óbitos por covid-19, com mil mortes a cada 3 dias

Um profissional de saúde, usando equipamento de proteção, transporta o corpo de uma pessoa para um caminhão refrigerado durante o surto de doença por coronavírus (COVID-19), no hospital Dr. João Lucio Pereira Machado, em Manaus - BRUNO KELLY/REUTERS
Um profissional de saúde, usando equipamento de proteção, transporta o corpo de uma pessoa para um caminhão refrigerado durante o surto de doença por coronavírus (COVID-19), no hospital Dr. João Lucio Pereira Machado, em Manaus Imagem: BRUNO KELLY/REUTERS

Carolina Marins

Do UOL, em São Paulo

01/05/2020 17h17

Resumo da notícia

  • País contabiliza mil mortes em intervalo de tempo cada vez menor
  • Ministro da Saúde, Teich reconhece agravamento da situação no Brasil
  • Nova verificação mostra que país atingiu 5.000 mortes seis dias antes do anunciado

O Brasil está assistindo a uma aceleração na curva de óbitos por covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus. O intervalo de tempo vem se revelando cada vez menor para registrar mil novas mortes, estando hoje entre dois ou três dias.

Segundo dados oficiais, até o país ultrapassar 1.000 mortes, passaram-se 24 dias. Sete dias depois, já havíamos superado as 2.000 mortes. Foram mais seis dias para passar 3.000, apenas dois dias para superar 4.000, mais três dias até os 5.000 e outros três até os mais de 6.000 desta sexta-feira.

  • 17 de março: 1ª morte
  • 10 de abril: 1.056 mortes
  • 17 de abril: 2.141 mortes
  • 23 de abril: 3.313 mortes
  • 25 de abril: 4.016 mortes
  • 28 de abril: 5.017 mortes
  • 1ª de maio: 6.329 mortes

Hoje o Ministério da Saúde confirmou 6.329 mortes, Nesta semana, batemos um novo recorde de óbitos em 24 horas e superamos o total de óbitos ocorridos na China, país onde a doença surgiu. O marco causou uma mudança no discurso do ministro da Saúde, Nelson Teich, sobre o avanço da pandemia.

"Como a gente tem uma manutenção desses números elevados e crescente, a gente tem que abordar isso como um problema, como uma curva que vem crescendo, como um agravamento da situação", afirmou na terça (28).

    Dias antes, Teich havia minimizado os recordes diários de morte que o país tem batido, culpando o atraso para computar os números.

    O ministro reconheceu na coletiva de imprensa de ontem que o país pode chegar a bater 1.000 mortes a cada dia.

    "Em relação a um possível número de mortes, e hoje estamos em 435 [confirmadas nas últimas 24 horas], o número de 1.000, se tivermos um crescimento significativo na pandemia, é possível acontecer. Não quer dizer que vai acontecer. A gente tem que acompanhar a cada dia para tomar as decisões", disse.

    Atraso no registro de mortes

    O acúmulo citado pelo ministro se dá pela demora da Saúde em computar os mortos. A maioria dos óbitos confirmados geralmente ocorreu em dias anteriores.

    Na atualização de ontem, por exemplo, a pasta incluiu óbitos que aconteceram em 22 de março.

    Graças às atuações retroativas, percebe-se que o país tem atingido os marcos no número de óbitos dias antes do que informa o número oficial. Quanto mais atrás no tempo se analisam os dados, maior fica a discrepância entre o número de mortes anunciadas numa data e as que efetivamente ocorreram até então.

    Análise das primeiras mil mortes mostra até o dobro de discrepância e confirma projeções do UOL feitas em 12 de abril.

    O marco das 4.000 mortes, por exemplo, foi batido em 22 de abril, quando o dado oficial informava 2.906. As 3.000 mortes chegaram em 16 de abril, quando o dado oficial era de 1.924 óbitos. O de 2.000 mortes ocorreu em 11 de abril, quando o dado oficial era 1.124. Quando aos primeiros 1.000 óbitos foram computados, o dado oficial informava apenas 432.

    Pelos dados atualizados, a aceleração fica:

    • 15 de março: 1ª morte
    • 20 dias depois, em 4 de abril: 1.025 mortes
    • 7 dias depois, em 11 de abril: 2.090 mortes
    • 5 dias depois, em 16 de abril: 3.013 mortes
    • 6 dias depois, em 22 de abril: 4.087 mortes

    Queda no isolamento social

    Para o médico do Hospital das Clínicas da USP, Evaldo Stanislau, essa é uma aceleração que poderia ter sido evitada por meio da adesão ao isolamento social.

    A adesão ao resguardo tem diminuído nos últimos dias e está muito abaixo do que esperam os governos estaduais. Em São Paulo, o governador João Doria disse que não será possível afrouxar a quarentena com o índice de isolamento abaixo de 50%.

    Segundo ele, o estado precisa de um índice acima de 60% e o mais próximo possível de 70% para evitar um colapso do sistema de saúde.

    O ministro da Saúde, contudo, questiona se será possível iniciar liberação do isolamento com a curva em ascensão. "Não dá para você começar uma liberação quando você tem uma curva em franca ascendência. Tem cidades que nem estão com a curva caindo e já tem flexibilização."

    Uma pesquisa Datafolha divulgada na última quarta-feira (29) mostrou que a proporção de brasileiros que defendem que pessoas fora dos grupos de risco deveriam sair para trabalhar passou de 37%, no início de abril, para 41% em 17 de abril, e para 46% na pesquisa realizada nesta segunda-feira (27).

    Já aqueles que apoiam o isolamento completo, incluindo quem está fora dos grupos de risco, passaram de 60% no início de abril para 56% no dia 17 e, agora, para 52%.