Lockdown impedirá interiorização da covid no RJ, diz sanitarista da Fiocruz
Resumo da notícia
- Estudo prevê falta de vagas em UTIs nos próximos dois meses
- Pesquisadora defende apoio da rede privada em "crise humanitária"
- Sanitarista descarta tese de imunização da população
A médica sanitarista Cristiani Vieira Machado, vice-presidente de Educação, Informação e Comunicação da Fiocruz, diz acreditar que é preciso fazer o lockdown no Rio —isolamento radical com bloqueio de estradas e circulação reduzida— para impedir a interiorização do novo coronavírus e recuperar o sistema de saúde, cujo colapso deve perdurar ao menos pelos próximos dois meses.
Em entrevista ao UOL, ela também defende a colaboração da rede privada para combater o que chama de "crise humanitária", contesta teses de imunização daqueles que contraíram o vírus e não estabelece prazos para um afrouxamento da quarentena. "É uma doença nova", justifica.
Na opinião de Cristiani, a proposta de lockdown deve se concentrar na capital e nos municípios da região metropolitana do Rio, onde há maior incidência de pessoas infectadas pelo vírus. A Fiocruz elaborou os estudos que embasaram o ofício com proposta de bloqueio enviado na última quinta-feira (7) ao MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) por Wilson Witzel (PSC), governador do Rio.
A maior parte dos municípios do estado já tem casos confirmados de covid. Mas a concentração ainda está na região metropolitana. As medidas precisam ser mais rigorosas, impedindo a interiorização da doença. Estudos mostram que isso já acontece em vários estados brasileiros
Cristiani Vieira Machado, médica sanitarista e pesquisadora da Fiocruz
Enquanto o estudo sobre lockdown pedido pelo governo do RJ não é revelado, Witzel estendeu o decreto de isolamento social até o dia 31 deste mês. O governador também tem dito que as decisões sobre a ampliação do bloqueio cabem aos municípios. Hoje, Niterói começa a implantação de "bloqueio total".
Levantamento feito pela Fiocruz prevê a lotação das UTIs (Unidades de Terapia Intensiva) no estado fluminense a partir da próxima quarta-feira (13). Segundo a análise, baseada em uma projeção da evolução da epidemia e da disponibilidade de leitos, só seria possível contar com vagas nessas unidades a partir de 22 de julho, o que para a sanitarista torna a necessidade do lockdown urgente.
"Se não fizermos isso [lockdown] agora, o colapso e o isolamento vão ser ainda mais prolongados", alerta.
Sem previsões de afrouxamento
Segundo a pesquisadora, só o bloqueio radical, com monitoramento a cada 15 dias, permitiria a recuperação do sistema de saúde.
"Nós precisamos conter a transmissão do vírus para reduzir o número de pessoas internadas. Se não tiver UTI, muita gente que poderia se recuperar vai morrer. Não vamos conseguir dar conta, se não houver medidas de distanciamento social mais rígidas", argumenta.
Para ela, ainda é prematuro fazer uma previsão de afrouxamento da quarentena, o que só será possível a partir de julho. Em uma nova onda, diz ela, a doença pode atingir áreas que ainda não foram impactadas.
"Como é uma doença nova, não sabemos como vai evoluir ao longo do tempo. Ainda há muitas dúvidas sobre o padrão de evolução dessa epidemia. Os estudos estão mostrando que não vamos ter uma população imunizada. Podemos ter outra onda e outros focos num país grande e diverso como o Brasil", projeta.
'Problema de um é o problema de todos'
Em meio ao colapso, Cristiani defende uma medida que permita o uso da rede privada para atender o número crescente de pessoas infectadas pelo vírus.
Num momento de crise humanitária, o problema de um é o problema de todos. Uma das propostas seria a de inclusão dos leitos privados para atender pessoas com necessidade de cuidados intensivos
Outra ação importante, segundo a pesquisadora, é o fortalecimento da produção nacional de insumos e equipamentos. "Há uma dependência do mercado internacional. Isso reforça a necessidade de fortalecer a produção nacional de insumos e equipamentos, como máscaras e respiradores. Também é preciso investir em pesquisa", analisa.
A sanitarista também aponta para a necessidade de medidas voltadas para a população em vulnerabilidade social, que ajudem a mantê-las dentro das suas casas, estancando a proliferação do vírus.
Há muitas pessoas no mercado informal, sem vínculos trabalhistas, que precisam ser amparadas. Os governos têm que colocar recursos para criar medidas de proteção social. A prioridade agora é salvar vidas. Se não tomarmos uma atitude, a situação no Brasil vai ficar mais dramática do que na Espanha, Itália e EUA
Mensagens contraditórias confundem população
Cristiani Vieira Machado também destaca a importância de estabelecer um diálogo claro com a população.
Isso requer uma ação coordenada entre as esferas de governo e a população. A comunicação precisa ser clara e mais direta, sem mensagens contraditórias, que acabam confundindo as pessoas
A pesquisadora da Fiocruz também demonstra preocupação com o avanço da pandemia para as favelas do Rio, onde há maiores aglomerações e menos possibilidades de garantir o isolamento social com mais eficiência.
"Estamos perdendo muitas vidas e podemos perder mais. É preciso que haja um esforço grande do poder público e da sociedade para conter o avanço dessa epidemia", enfatiza.
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