Em menos de uma semana, homem perde pai e avó por coronavírus em SP
A vida do servidor público Thiago Alves Flor, 36, virou de ponta cabeça em pouquíssimo tempo. Ele perdeu o pai e a avó materna no intervalo de seis dias. Os dois morreram com o mesmo diagnóstico que foi confirmado por exames: covid-19.
A família, que mora em Presidente Prudente (a 556 quilômetros de São Paulo), ainda cumpre quarentena prolongada, por cautela. "Eu, minha mãe, duas cunhadas, uma sobrinha e um irmão testamos positivo. Isso sem falar no meu tio e primos que tiveram contato com a minha avó e não fizeram exames. Talvez estejam infectados", contou Thiago ao UOL.
A tragédia familiar começou em 25 de abril quando o pai de Thiago, o sargento reformado da Polícia Militar Luiz Flor, 69, precisou ser internado com problemas respiratórios. "Meu pai já teve casos de pneumonia em anos anteriores. Pensamos que poderia ser mais um caso, mas não foi", recorda.
O exame demorou para sair. As amostras foram enviadas para um laboratório particular de Belo Horizonte/MG e para o Instituto Adolfo Lutz, na capital paulista. O diagnóstico veio dez dias depois.
Nesse meio tempo, os demais membros da família já estavam contaminados. A certeza da avalanche de casos veio no mesmo dia da morte de Luiz. "Quando ficamos sabendo que meu pai testou positivo, levei minha família para fazer exames em um laboratório particular na cidade de Tupi Paulista. Recebi a ligação para ter o diagnóstico, mas estávamos atrás da papelada para enterrar meu pai."
O enterro seguiu os protocolos de segurança para evitar a contaminação de mais pessoas. Foi feito cerca de seis horas depois da confirmação da morte. "É uma cena que vai ficar marcada na minha memória para sempre. Não conseguimos enterrar meu pai com o mínimo de dignidade. Ele foi jogado naquele buraco para sempre", desabafa o servidor público.
Mãe de dez filhos
No dia seguinte ao enterro, quem começou a passar mal foi a avó de Thiago, uma senhora de 89 anos. Terezinha Floriana dos Santos Alves era mãe de dez filhos e tinha muitos netos, bisnetos e tataranetos. Partiu cinco dias após ser internada.
"Ela sempre ficou quietinha dentro de casa, desde o começo da quarentena. Mas dependia dos cuidados da minha família. Deve ter sido infectada em alguma das idas até a casa dela para dar assistência", conta.
Dona Terezinha não tinha nenhuma doença. No último check-up feito este ano, deixou até o médico surpreso: ela era lúcida e saudável.
O enterro seguiu exatamente o mesmo protocolo: rápido, frio e extremamente triste. "Perdi meu pai e minha avó em menos de uma semana. Não quero que ninguém passe o que estamos passando. Mas as pessoas só vão acordar quando morrer alguém na família", desabafa Thiago.
Família está isolada
Neste momento, a família está isolada em casa, mesmo com todos assintomáticos. Flor tenta segurar a onda e dá forças para a mãe, Edna Alves Flor, 68.
"O difícil é você viver uma situação em que, em tão pouco tempo, perder duas pessoas. A minha mãe é minha vida", desabafou Edna, em lágrimas, ao UOL. "Procurem ficar em casa, pelo amor de Deus. O difícil é o fim da história."
O servidor público vai esperar mais alguns dias para fazer o exame novamente. Assim que tiver a certeza de que está recuperado da doença voltará para Brasília, onde mora com a esposa e dois filhos.
"Alertei meu pai, desde o começo, para os riscos da doença. Ele não dava muita importância e seguia a vida normal. A última vez que o vi, foi em dezembro do ano passado, quando me despedi dele na rodoviária de Brasília. Não sabia que seria a última vez", finaliza Thiago.
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