Paulistano ainda deve usar máscara nos próximos anos, diz secretário de SP
O secretário municipal de Saúde de São Paulo, Edson Aparecido, afirmou hoje, que o uso de máscara "é um costume que veio para ficar" pelos próximos anos por conta da pandemia do coronavírus. A declaração foi feita no UOL Entrevista, conduzido pelo colunista Diogo Schelp e a jornalista Gabriela Sá Pessoa.
Esse é um mecanismo de prevenção que as pessoas devem usar o máximo que puderem até que tenha um processo de disseminação mais consolidado da pandemia, e tenho impressão de que esse é um costume que veio para ficar. Vai mudar o costume das pessoas. O uso da máscara, se possível, vai ser muito bom se for usado por muito tempo ao longo deste e dos próximos anos.
Aparecido afirma que a Prefeitura de São Paulo espera percentuais de isolamento social de até 70% com a medida de estabelecer feriadão entre os dias 20 e 24 de maio. A medida foi sancionada hoje pelo prefeito Bruno Covas (PSDB).
Na sexta-feira (15), segundo dados do governo do estado, o índice isolamento social foi de 47%.
"Normalmente, nos sábados, domingos e feriados, aumenta os índices de isolamento", disse o secretário. "No último sábado, tivemos índice de 53%. Se com os feriados chegarem a 65%, a 70%, seguramente vai ter impacto significativo em junho. Estamos tratando de junho. O impacto dessa medida será 15 dias para frente, Os modelos mostram isso, e todos estamos torcendo por isso."
Ainda segundo o secretário, é possível baixar a aceleração da curva do contágio neste período.
"A curva é crescente permanentemente. É segurar a velocidade para que logo mais fique estável. Esse é o grande objetivo. Vamos ver o resultado dos índices de isolamento na terça [após o feriado] para ver quais outras medidas podemos tomar", acrescentou.
Possibilidade de lockdown
Questionado sobre a possibilidade de decreto de um bloqueio total da circulação de pessoas (lockdown) na capital paulista, Aparecido não entrou em detalhes, e afirmou não haver plano definido. O convencimento da população, segundo o secretário, também é etapa importante.
Na Europa, o poder local passou a convencer a sociedade quando a doença passou a ter rosto, quando morreu parente, vizinho. Mas uma medida como essa precisa ser muito bem construída, é a última alternativa.
Ele também rejeitou a possibilidade de São Paulo decretar o bloqueio total isoladamente, sem adesão das demais cidades do estado. "Não, de forma alguma. Aí é cometer um erro gravíssimo. Precisamos sentar com a polícia, o Ministério Público, a Justiça, a imprensa. Não é uma visão individual", disse Aparecido.
O secretário ainda afirmou que um plano de lockdown estadual "está na mesa, mas nunca foi detalhado" pelo governador João Doria (PSDB-SP).
Casos suspeitos vão ser confirmados
Para o secretário municipal de Saúde, Edson Aparecido, os números registrados até aqui seriam inferiores à realidade da pandemia.
Ainda hoje, o coordenador do Centro de Contingência ao Coronavírus em São Paulo, Dimas Covas, demonstrou preocupação ao afirmar que "o vírus está vencendo".
"Nós temos um alto índice de contaminação e de óbitos. Em São Paulo, há mais de 40 dias, tomamos a decisão de também levar em conta os óbitos suspeitos para fazer o planejamento do enfrentamento da pandemia", disse Aparecido.
Segundo o secretário, o tempo vai mostrar que esses óbitos suspeitos se deram devido à covid-19.
Troca de ministros afeta ações em São Paulo
O Ministério da Saúde passou por duas trocas de comando durante a pandemia do novo coronavírus. E para o secretário municipal da Saúde de São Paulo, a instabilidade na pasta afeta todo o combate à covid-19 no país.
Titular do ministério deste o início do governo Jair Bolsonaro (sem partido), em janeiro de 2019, Luiz Henrique Mandetta deixou a função em 16 de abril. O sucessor, Nelson Teich, saiu do posto em 15 de maio. Atualmente, Eduardo Pazuello é o ministro interino da Saúde.
"Na hora que não tem o cérebro que planeja as ações da saúde, evidente que reflete no conjunto da rede. A troca dos ministros em um mês ocasiona problemas na estratégia da saúde", acrescentou.
País "dividido" dificulta isolamento, diz secretário
Na cidade de São Paulo, uma das metas é conseguir mais insumos para o combate à pandemia, de respiradores a leitos de UTI.
"Acreditamos que possamos fazer a contratação de 800 leitos de UTI. Chegaremos a 500 até o final de maio. Fizemos chamamento com preço mínimo igual para todos, R$ 2,1 mil por um leito de UTI. Isso tem sido um pulmão muito importante neste momento", listou.
Aparecido disse que a periferia da cidade precisa de ações específicas para evitar aglomerações. Mas lembrou: com o Brasil dividido, é mais difícil adotar medidas eficazes.
"Temos uma sociedade dividida. Em São Paulo, seis milhões de pessoas estão recolhidas e seis milhões estão andando na cidade. O país está dividido. Isso agravou muito a situação do Brasil, não só de São Paulo. É um problema real. Apesar de todo esforço de governos locais, você tem um país dividido."
Capacidade do sistema de saúde de SP
O secretário afirma que o sistema de saúde da capital paulista vai conseguir tratar todas as pessoas que ficarem doentes — se a população respeitar as medidas de isolamento social.
O mecanismo é esse, espalhar [a incidência de contágios] ao longo do tempo para que o sistema de saúde possa tratar quem ficar doente. Vamos salvar as pessoas mesmo existindo a pandemia. O que não pode é que todo mundo fique doente ao mesmo tempo, essa é a grande questão.
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