Sociedade Brasileira de Infectologia: "Cloroquina não deve ser recomendada"
A SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia) elaborou um documento hoje em que orienta a não recomendação "de rotina" das substâncias cloroquina e hidroxicloroquina para tratamentos de covid-19. O informe da instituição é divulgado após o governo federal publicar uma recomendação para que o sistema público de saúde passe a prescrever os remédios a pacientes com sintomas leves do novo coronavírus.
A substância foi alvo de embate entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e os ex-ministros da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM) e Nelson Teich. Ambos se posicionaram de forma cética ao medicamento, levando em consideração as conclusões do meio científico, que não vê em eficácia comprovada no tratamento contra a covid-19.
Os estudos clínicos atuais com cloroquina ou hidroxicloroquina, associada ou não à azitromicina, permitem concluir que tais medicamentos, até o presente momento, não mostraram eficácia no tratamento farmacológico de COVID-19 e não devem ser recomendados de rotina
Sociedade Brasileira de Infectologia
O órgão admite que "é muito atraente e desejável" que um medicamento como a hidroxicloroquina, barato e relativamente abundante, possa ser benéfico para os pacientes, mas deixa claro que não há qualquer comprovação científica de que a substância seja eficaz. A instituição cita que, no momento, o uso da cloroquina deve ser feito exclusivamente em pesquisas clínicas.
"O governo, ao permitir o uso pelo SUS, faz com o que o remédio possa ser prescrito pelo médico sem custo para o paciente. Mas nós, da SBI, temos de compartilhar a parte científica. A cloroquina, a hidroxicloroquina, alguns vermífugos que mostraram efeito antiviral no laboratório, não tiveram efeitos benéficos em humanos", disse hoje o presidente da SBI, Clovis Arns Cunha, em entrevista a uma rádio no Paraná.
Para estabelecer a eficácia das substâncias, a SBI diz que ensaios randomizados e com grupo de controle (espécie de padrão para que um estudo clínico seja considerado cientificamente relevante) têm de ser feitos.
"Estes devem ter os seguintes critérios: o paciente deve ter a mesma chance de ser "sorteado" (escolha aleatória, sem interferência do pesquisador, que geralmente é feito por um programa simples de computação) para receber o tratamento 'padrão' juntamente com o(s) medicamento(s) em estudo, também chamado medicamento(s) experimental(ais), ou de ser alocado no grupo controle, que representa o grupo de pacientes que vão receber somente o tratamento "padrão", sem qualquer medicamento em teste.", diz o informe.
A SBI afirma que a única indicação científica sobre a substância é que ela pode ser prejudicial aos pacientes. "Alguns estudos mostraram seu potencial malefício, podendo causar alteração cardiológica, verificada no eletrocardiograma (prolongamento do intervalo QT), que está associada a uma maior chance de arritmias ventriculares, potencialmente fatais", diz o documento divulgado hoje.
"A preocupação que temos é que estudos clínicos já feitos mostraram efeitos colaterais. E um que nos preocupa muito como médicos é que cloroquina (usada contra a malária) e hidroxicloroquina (contra doenças reumáticas) não mostraram efeitos colaterais significativos. Mas ao serem usadas na covid-19, por conta delas causarem vários graus de inflamação no organismo, esses pacientes tiveram problemas cardíacos", argumentou Clovis Arns Cunha.
E em alguns pacientes, especialmente os idosos, o problema foi de arritmia, e alguns foram a óbito. Por isso estamos alertando, como fazem todas as sociedade científicas do mundo: isso vale aqui, nos EUA, na Europa
Clovis Arns Cunha, presidente da SBI
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