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Ex-chefe de departamento da Saúde diz que resposta do governo é pífia

Infectologista e pesquisador da Fiocruz, Júlio Croda foi diretor departamento de imunização e doenças transmissíveis na gestão Mandetta - Erasmo Salomão/Ministério da Saúde
Infectologista e pesquisador da Fiocruz, Júlio Croda foi diretor departamento de imunização e doenças transmissíveis na gestão Mandetta Imagem: Erasmo Salomão/Ministério da Saúde

Do UOL, em São Paulo

04/06/2020 09h49Atualizada em 04/06/2020 18h22

O ex-chefe do departamento de imunização e doenças transmissíveis do Ministério da Saúde na gestão de Luiz Henrique Mandetta, Julio Croda, disse ao El País que a equipe previa uma falta de respostas efetivas do governo durante a pandemia de coronavírus.

"A gente sentia dentro do governo que não existia união sobre o que deveria ser feito e que a resposta seria pífia, como está sendo. Saí antes que houvesse qualquer impacto desnecessário para o setor técnico", afirma ele, que pediu demissão no dia 23 de março, quase um mês antes da demissão de Mandetta.

Na avaliação de Croda, não há um alinhamento do governo federal com estados e municípios. "Os estados vão tomando as atitudes sem nenhum apoio do Ministério da Saúde. O Rio Grande do Sul tem um programa de flexibilização, São Paulo lançou o seu, Minas Gerais também tem um plano... Mas não existe nenhuma definição técnica do Ministério da Saúde", aponta.

Mandetta e Nelson Teich — que ficou 28 dias no cargo — defendiam medidas de isolamento social para achatar a curva de transmissão da covid-19 e tentar diminuir assim o número de infectados e mortes. "Em nenhum momento esse assunto é revisitado, existe um esquecimento do ponto de vista técnico", diz Croda.

O médico lembra que a situação começou a ficar mais complicada em março, quando o então secretário nacional de Vigilância em Saúde Wanderson de Oliveira, recomendou que estados considerassem o distanciamento. Segundo ele, o ministro da Casa Civil, Braga Netto, não aceitou muito bem a ideia.

Croda ainda explica que ouviu de Solange Vieira, que chefia a Superintendência de Seguros Privados no Ministério da Economia, que "é bom que as mortes se concentrem entre os idosos... Isso melhorará nosso desempenho econômico, pois reduzirá nosso déficit previdenciário", em referência ao grupo de risco covid-19.

De acordo com informações da agência de notícias Reuters, o relato foi confirmado por outra autoridade. Procurada pela agência, Solange não respondeu. Já o ministério da Economia informou que ela observou os impactos de vários cenários "sempre com foco na preservação de vidas" e que a participação na reunião atendeu um convite de Mandetta.

O pesquisador alerta que provavelmente o Brasil caminhe para a chamada imunidade de rebanho — contaminar o maior número de pessoas para imunizar a comunidade, elevando o risco de morte.

"Vai ser um experimento natural que vai levar meses. Até lá vai morrer muita gente sem assistência. E a doença já circula principalmente entre os mais pobres, que contam com menos leitos de internação. Vai ser muito triste o que vai acontecer no Brasil", afirma. Até ontem, o país registrou mais 1.349 mortes confirmadas em 24 horas, levando o total para 32.548 óbitos. O número de infectados era de 584.016.

Em nota enviada por sua assessoria de comunicação, a Superintendência de Seguros Privados (Susep) informou que "as declarações atribuídas a Solange Vieira em recente matéria jornalística sobre a pandemia covid-19 são inverídicas". Leia a íntegra da nota:

"Esclarecemos que as declarações atribuídas a Solange Vieira em recente matéria jornalística sobre a pandemia COVID-19 são inverídicas. Reiteramos que, a convite do então ministro Luiz Henrique Mandetta, a economista esteve em março no Ministério da Saúde (MS), para contribuir com os modelos de projeção decorrente da pandemia utilizados por aquela pasta. Na ocasião, foram observados os cenários apresentados e seus impactos, com foco sempre na preservação de vidas. A economista declara seu repúdio a toda e qualquer ilação que impute a alguma análise proferida juízo de valor em sentido contrário ao direito à vida e à saúde para todos, de qualquer idade, a qualquer tempo. Medidas legais cabíveis sobre o assunto estão sendo analisadas."