RJ: Secretário diz que pandemia é hiperdimensionada e 6 mil mortes é pouco
O secretário de Saúde do Rio de Janeiro, Fernando Ferry, minimizou hoje os números da pandemia do coronavírus no estado fluminense. Mesmo com a federação sendo a segunda mais afetada do país, atrás apenas de São Paulo, e tendo ultrapassado as 6 mil mortes anteontem, Ferry disse que o impacto no estado foi "hiperdimensionado".
"O que estava acontecendo na Europa fez com que nós tivéssemos muito medo. Foi hiperdimensionado. Não só nos hospitais de campanha, mas nos regulares. Todo mundo ficou preocupado", disse hoje o secretário em entrevista à CNN Brasil. Ferry assumiu a pasta em meados de maio, após a saída do então secretário Edmar Santos em meio a denúncias de fraudes.
"Alugamos um contêiner frigorífico achando que encheríamos ele de cadáveres, e não foi necessário. Porque com o tempo aprendemos a manejar essa doença. A epidemia está numa curva descendente", acrescentou Ferry, que se tornou secretário quando o Rio ainda somava 2.614 mortes pelo coronavírus.
"Vejam que 6 mil óbitos está sendo um número até pequeno para a gravidade dessa epidemia", disse o secretário. "Está sendo uma surpresa aqui no Rio de Janeiro, num estado de 16 milhões de pessoas, a gente só ter 6 mil mortos", completou. Como base de comparação, a Índia, com mais de 1 bilhão de habitantes, tem números parecidos com o do Rio.
Ciente das denúncias de fraudes que motivaram sua nomeação, Ferry garantiu que tem sido cuidadoso ao montar sua equipe. "Eu tenho convocado pessoas muito técnicas, com doutorado, conduta ilibada, sem histórico de absolutamente nada, de fraudes ou qualquer outra coisa. São pessoas idôneas, a maioria médicos", contou.
Hospitais de campanha sem previsão
Dos sete hospitais de campanha prometidos pelo governador Wilson Witzel (PSC), apenas o do Maracanã foi entregue até agora e o atraso nos demais tem gerado críticas e dúvidas se eles realmente serão entregues a tempo de combater a epidemia no estado. Ferry adiantou apenas que pretende inaugurar a unidade de São Gonçalo até o final da semana que vem.
"O cronograma que foi passado é irreal. O governador solicitou que o secretário de Obras fizesse uma vistoria local. Hoje à tarde vou estar recebendo um relatório real, feito por engenheiros do estado", afirmou. "A antiga contratada passava informações para a gente que não eram reais."
A empresa citada por Ferry é a Iabas (Instituto de Atenção Básica e Avançada à Saúde), que era responsável pela montagem e gestão dos sete hospitais de campanha. A OS (Organização Social) foi afastada dessas funções anteontem por Witzel, com as responsabilidades sendo assumidas pelo governo estadual.
Respiradores só para emergências
Ferry ainda admitiu que a compra junto à China de 135 respiradores, que estão parados no aeroporto do Galeão, pode não ajudar no longo prazo a combater a pandemia no Rio de Janeiro. Isso porque, segundo o secretário, os equipamentos são "carrinhos de anestesia" e podem ser usados apenas de forma emergencial pelos pacientes com a covid-19.
"Essa foi uma questão que eu me deparei e que a gente tem que resolver. A todo momento a antiga contratada (Iabas) me falava que eram respiradores, que estavam no aeroporto e não estavam liberando. E eu ligo para a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e me dizem que são carrinhos de anestesia. Eles servem para serem usados emergencialmente, mas não conseguem manter por um tempo prolongado", explicou.
"Existe uma diferença entre os respiradores e os carrinhos. Então precisaríamos de 135 anestesistas para operar, não conseguiríamos", concluiu o secretário.
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