Após apagão de dados, Rio registra 195 mortes por covid em 48 horas
Após um dia de 'apagão' no registro de dados, o Rio contabilizou 195 mortes e 3.294 infectados por covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, nas últimas 48 horas. Com isso, o estado já soma 12.114 óbitos e 138.525 casos confirmados.
Ainda há outras 1.172 mortes em investigação. Até o momento, 117.262 pacientes se recuperaram da doença. A Secretaria de Estado de Saúde do Rio (SES) disse que o 'apagão', que impediu a divulgação dos dados relacionados à pandemia ontem, está relacionado a uma instabilidade nos sistemas oficiais de notificações, que comprometeram a contabilidade dos registros.
A cidade do Rio já contabiliza 7.703 mortes por covid-19, o equivalente a 64% dos casos registrados no estado. São Gonçalo, na região metropolitana, aparece em 2º lugar no número de óbitos, com 551 casos, seguida de Duque de Caxias (493), Nova Iguaçu (391) e São João de Meriti (274). A capital fluminense soma 66.909 infectados, seguida de Niterói (7.725), São Gonçalo (6.927), Nova Iguaçu (3.759) e Duque de Caxias (3.707).
Em um fim de semana de muito sol e pouca fiscalização, os cariocas foram às praias do Rio e descumpriram determinações impostas pelas medidas de flexibilização da quarentena da prefeitura. Ontem à tarde, guardas municipais usaram arma de choque para imobilizar um homem que teria se recusado a usar a máscara de proteção na praia de Copacabana.
No mesmo dia, na praia do Arpoador, zona sul carioca, o UOL flagrou dezenas de pessoas jogando altinhas (um jogo de futebol em que a bola não pode tocar no chão) e futevôlei. A cena se repetiu hoje. À tarde, guardas municipais usaram arma de choque para imobilizar um homem que teria se recusado a usar a máscara de proteção na praia de Copacabana.
Média móvel de mortes cai pela metade na capital
Apesar dos elevados índices, a média diária de mortes por covid-19 caiu pela metade em quase um mês na cidade do Rio, mesmo em meio a medidas de flexibilização. No estado, a redução foi de 48%, segundo estudo feito pela Fiocruz com dados do governo estadual.
Na sexta-feira (17), a média móvel diária, calculada com base nos óbitos registrados em uma semana, foi de 91 óbitos no estado —52 deles na capital fluminense. A comparação foi feita com base nos dados de 20 de junho, quando o índice indicou 176 mortes no estado, com 114 casos na cidade do Rio.
Apesar de pequenas oscilações na curva, a queda se manteve desde então. O indicador é o mais adequado para observar a tendência da epidemia, por equilibrar as variações abruptas dos números ao longo da semana.
Menos internações, menos casos
Com base no cruzamento de dados entre as vagas no sistema de saúde no estado do Rio e a média móvel diária de mortes por covid-19, é possível constatar que os períodos com os mais altos índices de óbitos coincidem com maiores taxas de ocupação de leitos.
Entre o fim de maio e o começo de junho, um dos picos da doença, havia mais de 2.200 pacientes internados com covid-19 no Rio. Hoje, são cerca de 700 pessoas hospitalizadas em decorrência da pandemia nas unidades federais, estaduais e municipais, com média de 40 altas por dia.
Em 28 de maio, primeiro pico de acordo com a média móvel, a ocupação de leitos de UTIs era de 86%, com fila de 220 pessoas com sintomas da doença à espera de transferência. Para se ter uma ideia, a taxa de ocupação hoje é de 35% dos leitos de UTIs, com 41 pacientes à espera de transferência.
O que dizem os especialistas
Especialistas veem relação entre os índices de internações no sistema de saúde e óbitos. O médico Daniel Soranz, pesquisador da Escola Nacional de Saúde da Fiocruz, diz que maio foi o período crítico da doença no estado, em meio ao caos no sistema de saúde.
O Rio enfrentou um cenário catastrófico. Muita gente morreu ao mesmo tempo e ainda não tinha hospital de campanha pronto. Agora, vejo um declínio constante no número de casos e de pacientes internados por covid. Já houve a flexibilização há mais de 30 dias e nada aconteceu. Mas isso não significa que não devemos mais nos preocupar com possíveis surtos
Daniel Soranz, pesquisador da Fiocruz
Ele diz que houve um índice de mortes acima do esperado em maio e no começo de junho e, por isso, a queda verificada nas últimas semanas estaria mais relacionada a uma comparação com esse índice elevado do que a uma ação capaz de reduzir os índices.
O infectologista André Siqueira, do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, da Fiocruz, não descarta a possibilidade de um novo aumento de mortes nas próximas três semanas em decorrência das medidas de afrouxamento. "Não podemos achar que a tempestade já passou. A flexibilização ocorreu de forma rápida, causando aglomerações. Não podemos descartar um novo aumento de mortes", alerta.
O cientista Domingos Alves, professor de Medicina da USP, questiona a queda na média móvel diária no Rio. Segundo o especialista, que integra o Covid-19 Brasil, grupo de pesquisadores que monitora dados sobre a pandemia no país, os índices voltarão a aumentar nos próximos dias em decorrência da flexibilização.
O Rio abriu igrejas e causou novas aglomerações. Teve ainda esse caso do Leblon, com bares lotados no começo do mês. Nos próximos dias, vamos ver as consequências disso. Estamos em um período de queda. A questão é: vamos manter?
Domingos Alves, professor de Medicina da USP
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