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Covid-19 chega a todas as cidades de São Paulo, diz governo do estado

Paciente se emociona ao conversar com a família enquanto se recupera da covid-19 no HC de Ribeirão Preto (SP) - André François
Paciente se emociona ao conversar com a família enquanto se recupera da covid-19 no HC de Ribeirão Preto (SP) Imagem: André François

Wanderley Preite Sobrinho

Do UOL, em São Paulo

30/08/2020 18h38Atualizada em 31/08/2020 17h55

Resumo da notícia

  • Segundo boletim da secretaria estadual de Saúde, depois de 6 meses, o coronavírus chegou aos 645 municípios do estado
  • Última cidade sem registro da doença, Santa Mercedes rebate governo estadual e diz que não tem casos
  • Para o pesquisador Miguel Nicolelis, o vírus se espalhou pelas rodovias do estado

Depois de mais de seis meses, o novo coronavírus chegou a todas as 645 cidades São Paulo, segundo o governo estadual. Santa Mercedes, no extremo oeste paulista, entrou para o boletim da Secretaria de estadual de Saúde neste domingo (30), com a confirmação de um caso.

Nesta segunda (31), a Secretaria Municipal de Saúde de Santa Mercedes, disse, porém, que a cidade ainda não registrou nenhum infectato com covid-19. O governo estadual afirmou que a divergência de informação está sendo a investigada.

Entre o primeiro caso, registrado na capital em 26 de fevereiro, e o último município a ter um caso registrado, hoje, 803.404 pessoas foram contaminadas e 29.978 morreram em todo o estado, segundo os dados oficiais.

A pandemia em São Paulo é uma das mais severas em todo o mundo. Se fosse um país, o estado seria o quinto mais afetado em número de casos, atrás apenas de Estados Unidos, Brasil, Índia e Rússia, segundo os números da OMS (Organização Mundial da Saúde). Os registros da organização podem sofrer defasagem de até dois dias, mas são usados como parâmetro durante a pandemia.

O novo coronavírus deixou a capital dez dias depois de registrado pela primeira vez. Em 7 de março, chegou à Santana de Paranaíba, na Grande São Paulo. Um mês depois e a doença já havia tomado toda a região metropolitana, a Baixada Santista, no litoral, e avançava sua interiorização.

Foram necessários mais de três meses, no entanto, para o interior alcançar a capital em número de casos, com 166 mil infecções em cada região em 20 de julho.

O interior ultrapassaria São Paulo dois dias depois, ao atingir 170.515 infectados, quase 3.000 casos a mais que a capital.

Enquanto o vírus se espalhava pelo estado, a capital via a pandemia perder intensidade. Desde o dia 24 de junho, os novos casos diminuem na cidade.

Covid-19 chega a todos os municípios de São Paulo - Reprodução/Governo do Estado de São Paulo - Reprodução/Governo do Estado de São Paulo
Imagem: Reprodução/Governo do Estado de São Paulo

Rodovias paulistas espalharam o vírus

Especialistas acreditam que o coronavírus desembarcou no Brasil por meio dos aeroportos paulistas, provavelmente o Internacional de Guarulhos, na Grande São Paulo. Dali, se espalhou pelos municípios e atravessou estados por meio das rodovias.

"A epidemia no Brasil começou nos centros com alta densidade demográfica e começou a circular nas capitais provavelmente no Carnaval. Então ela começou a se espalhar pela malha rodoviária, com a interiorização no final de abril", diz o coordenador do comitê científico do Consórcio Nordeste, Miguel Nicolelis, que se debruçou sobre a covid-19 em São Paulo.

Como São Paulo é o maior hub rodoviário do país, ele levou o vírus da capital para o interior e para boa parte do Brasil.
Miguel Nicolelis, pesquisador

A disseminação pelas vias é uma das razões apontadas por Nicolelis para os altos índices da pandemia na cidade de Santos, "região de altíssimo fluxo".

Era possível evitar?

Nicolelis acredita que as principais "artérias de disseminação" foram a BR-101 e a BR-116, tanto pelo interior quanto pelo litoral do país.

"O vírus acabou ficando pelas cidades que margeiam essas rodovias", diz. "Mas todas as estradas contribuíram: o vírus foi semeando casos pela Castelo Branco, Dutra, Bandeirantes, Anhanguera. A partir daí, começou a transmissão comunitária no interior."

Para o pesquisador, a pandemia no Brasil poderia ter causado menos vítimas se o governo estadual e as prefeituras tivessem montado barreiras sanitárias nas rodovias.

"As autoridades deveriam ter providenciado barreiras sanitárias, bloqueio de tráfego não essencial, como ônibus intermunicipal e carros de passeio, como fez Wuhan, o epicentro do vírus na China", diz. "Isso tudo aliado à busca ativa de casos e isolamento social adequado."

Faltou estratégia a São Paulo. O estado foi um dos principais, se não o principal responsável por espalhar o vírus. Reduzindo o fluxo, as infecções teriam sido menores também
Miguel Nicolelis, pesquisador

Procurado, o governo estadual não respondeu aos questionamentos do UOL sobre esse assunto.

Em 23 de julho, o secretário estadual de Saúde, Jean Gorinchteyn, disse que a interiorização da pandemia se deve em parte à "banalização" das cidades do interior à flexibilização da quarentena.

"Nós, como médicos, já sinalizávamos a banalização de medidas por algumas cidades do interior de São Paulo, que faziam vistas grossas ao que acontecia principalmente no município de São Paulo", disse.