Após Teich e Mandetta, Pazuello passa por processo de fritura no governo
Após as demissões dos ministros Nelson Teich e Luis Henrique Mandetta (DEM), que ocuparam a pasta da Saúde durante a pandemia do novo coronavírus, o recém-efetivado general Eduardo Pazuello entrou em um processo de fritura dentro do governo. O militar passou três meses e meio como interino e foi efetivado em setembro.
Se com os dois ex-ministros o embate com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) teve como principais fatores o uso da cloroquina para tratamento da covid-19 e as medidas restritivas por conta da pandemia, com o general a situação envolve uma das vacinas que poderá ser utilizada para imunizar os brasileiros.
Ontem, o ministério da Saúde anunciou que compraria 46 milhões de doses da CoronaVac, vacina contra o coronavírus desenvolvida pelo Instituto Butantan, em São Paulo, em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac Life Science.
Hoje, Bolsonaro desautorizou o acordo costurado por Pazuello, adotando tática de fritura similar ao que foi feito com Mandetta e Teich (leia mais abaixo).
Em publicação nas redes sociais, o presidente disse que não vai firmar acordo por nenhuma vacina não autorizada pela Anvisa e que o povo brasileiro não será "cobaia". Ainda chamou a CoronaVac de "vacina chinesa de João Doria".
"Não se justifica um bilionário aporte financeiro num medicamento que sequer ultrapassou sua fase de testagem. Diante do exposto, minha decisão é a de não adquirir a referida vacina", escreveu.
Um documento assinado por Pazuello aprofundou o atrito entre o militar e o presidente. A pasta da Saúde enviou ao Instituto Butantan uma carta de intenções para adquirir a vacina. "Informo a intenção em adquirir 46 milhões de doses da referida vacina (Vacina Butatan - Sinovac/Covid-19)", diz o documento assinado por Pazuello.
Na manhã de hoje, Bolsonaro disse que mandou cancelar o documento. "Não abro mão da minha autoridade", afirmou o presidente.
As declarações de Bolsonaro contradizem o empenho do governo em produzir, divulgar e incentivar o uso da cloroquina, medicamente que não possui qualquer eficácia comprovada contra a covid-19. O Exército brasileiro havia produzido até julho 3 milhões de comprimidos do medicamento. Os custos da produção, de mais de R$ 1,5 milhão, são alvo de investigação do Ministério Público de Contas e do TCU.
Relembre as demissões de Teich e Mandetta e a semelhança com a situação de Pazuello:
Nelson Teich
O médico oncologista permaneceu menos de um mês como ministro da Saúde. Teich defendeu publicamente posições contrárias às de Bolsonaro. Além de afirmar que o distanciamento social deveria ser uma medida de combate à pandemia do novo coronavírus,
Teich se mostrou receoso com o uso da cloroquina no tratamento contra a covid-19, já que a substância pode desencadear efeitos colaterais. O presidente, por sua vez, é um dos principais defensores da medicação.
Como com Pazuello, Teich foi desautorizado publicamente pelo presidente. No mais célebre dos embates, o então ministro ficou sabendo durante entrevista coletiva que Bolsonaro assinara um decreto incluindo academias, salões de beleza e barbearias entre os serviços essenciais, isto é, que podem trabalhar mesmo durante a quarentena. Teich admitiu que não foi consultado. "Saiu hoje?", reagiu à época ao ser questionado por um repórter.
Luiz Henrique Mandetta
A passagem de Mandetta pelo ministério foi mais longeva, mas marcada por rusgas com o presidente durante a pandemia. Além da cloroquina, medicamente o qual o ex-ministro nunca apoiou, o protagonismo de Mandetta incomodou Bolsonaro. A defesa do agora ex-ministro para que o país siga as recomendações da OMS (Organização Mundial da Saúde) para brecar a proliferação da doença no país também gerou atrito.
Em processo de fritura semelhante ao de Teich e Pazuello, Mandetta foi questionado publicamente por Bolsonaro em vários momentos. O presidente chegou a fazer reuniões sobre o coronavírus sem a presença do ministro. A gota d'água foram as críticas que fez ao presidente durante uma entrevista ao Fantástico, da TV Globo.
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