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Anvisa passa longe de qualquer tipo de politização, diz diretor da agência

Antonio Barra Torres diz que decisões da Anvisa são pautadas por questões técnicas - Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Antonio Barra Torres diz que decisões da Anvisa são pautadas por questões técnicas Imagem: Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Luciana Amaral

Do UOL, em Brasília

13/11/2020 13h37

A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) "passa longe de qualquer tipo de politização" em relação à vacina CoronaVac em desenvolvimento contra a covid-19 pelo Instituto Butantan em parceria com o laboratório chinês Sinovac, afirmou hoje o diretor-presidente da agência, Antonio Barra Torres, em audiência virtual a parlamentares.

"A Anvisa não deseja, não quer e passa longe de qualquer tipo de politização a respeito desta questão e de qualquer outra. É a mesma Anvisa que atuou na liberação dos testes rápidos; é a mesma Anvisa que atuou na liberação dos respiradores; é a mesma Anvisa que atuou nos insumos para que as pessoas fossem entubadas em UTIs. É a mesma. Não mudou absolutamente nada, não houve troca de corpo técnico", declarou.

Barra Torres e o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, foram convidados a prestar esclarecimentos na comissão mista do Congresso Nacional que acompanha ações relacionadas à pandemia do coronavírus. O convite aconteceu após politização e críticas do Instituto Butantan à forma como os estudos clínicos da vacina CoronaVac foram interrompidos pela Anvisa por um "evento adverso grave". Segundo apuração do UOL, a morte do voluntário foi registrada como suicídio.

A Anvisa informou que foi avisada de um acontecimento grave com um dos voluntários e não havia recebido todas as informações necessárias para permitir a continuidade dos estudos. A agência autorizou a retomada dos testes na quarta (11) após dizer que o caso havia sido esclarecido. O Butantan reclama que foi avisado pela imprensa e não havia motivo para a suspensão.

Em meio ao anúncio da suspensão, presidente Jair Bolsonaro (sem partido) usou as redes sociais para dizer que ganhou do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), pois o Butantan é ligado ao governo estadual. Embora já tenham posado como aliados, ambos têm uma rixa por motivações eleitorais visando 2022. A fala junto ao histórico de Bolsonaro de desconfiar da CoronaVac pelo fato de ela ser, em parte, chinesa, gerou críticas de polarização e potencial interferência política do presidente da República na Anvisa. No início da pandemia, Barra Torres chegou a ficar ao lado de Bolsonaro em ato em frente ao Palácio do Planalto sem máscara.

Hoje, Barra Torres disse que a suspensão temporária dos testes da CoronaVac foi tomada por decisão de comissão interna técnica e independente composta por 18 especialistas. "Foi este grupo que tomou essa decisão, e ele toma essas decisões de maneira soberana e autônoma para manter toda a questão técnica na área técnica".

Ele defendeu que, quando a Anvisa decidiu pela interrupção dos testes, isso foi oficiado ao Butantan por e-mail 40 minutos antes de ser divulgado no portal da agência. O diretor do Butantan afirmou que o e-mail só chegou por volta das 21h e não havia funcionário de plantão para lê-lo naquele momento. Covas avaliou que a ação criou um "conflito desnecessário", porque, quando divulgada, houve a politização.

"Isso aí [politização] obviamente não é positivo, obviamente não é positivo; é negativo e tem implicações, sim. Há implicações, inclusive, na compreensão da importância da vacina. Estamos vivendo um problema muito grave de vacinação. Termina agora a vacinação da poliomelite e do sarampo com a menor adesão dos últimos anos: a adesão está em torno de 40%, 45%, sendo que o esperado seria acima de 85%. Então, todas as questões relativas à vacina - se toma vacina, se é obrigatória a vacina, se a vacina é segura, se a vacina é chinesa - obviamente têm impacto na população", considerou.

Dimas Covas ainda falou que não é atribuição da Anvisa "cuidar, em primeiro lugar, da segurança do estudo", mas, sim, do processo. "A obrigação principal da segurança é do pesquisador, é do centro de pesquisa, porque eles estão em contato imediato com o acontecimento", acrescentou.

Tanto Barra Torres quanto Covas procuraram demonstrar que o episódio está "superado" e não vai afetar a credibilidade do Butantan. Covas ressaltou que o instituto, nas últimas duas décadas, foi o maior fornecedor de vacinas e soros ao Ministério da Saúde.

O diretor-presidente da Anvisa falou que "o que pode gerar resistência na população é não tratar a rotina como rotina", como acontece numa interrupção em protocolo vacinal. Ele lembrou que testes das vacinas da AstraZeneca e da Janssen também foram interrompidos para análises ao tomarem conhecimento de potenciais problemas e, depois de esclarecidos, retomados.

"Se tivesse sido tratado desde o princípio como um fato do desenvolvimento vacinal, portanto um fato rotineiro e ligado exclusivamente à área técnica, não estaríamos tendo essa conversa com os senadores e a população não estaria preocupada com o que está acontecendo", disse.

Barra Torres falou que funcionários da Anvisa visitarão, na China, as fábricas dos insumos utilizados para produzir as vacinas da Sinovac e da AstraZeneca - essa em desenvolvimento com a Universidade de Oxford e com acordo com a Fiocruz. A inspeção ocorrerá em dezembro, mas a comitiva irá antes ao país por ter de cumprir quarentena de 14 dias ao chegar.