Covid: Governo de SP pune quem faz a lição de casa, diz associação de bares
A Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) de São Paulo disse estar "decepcionada" com a decisão do governo do estado de restringir o horário de funcionamento dos estabelecimentos. Segundo o presidente da entidade, a medida pune "quem faz a lição de casa" e deixa de fora comércios ambulantes. Ele diz que pretende acionar a Justiça para reverter a situação.
Hoje, a equipe de João Doria (PSDB) anunciou que os bares devem fechar às 20h —antes o horário permitido era até as 22h. Ao mesmo tempo, houve ampliação de dez horas para 12 horas no funcionamento do comércio. As medidas começam a valer a partir da 0h01 de amanhã (12).
Os restaurantes podem ficar abertos até as 22h, como prevê a fase amarela do Plano São Paulo, mas deverão encerrar a venda de bebida alcoólica até as 20h. O mesmo funciona para as lojas de conveniência.
"Nós estamos decepcionados e preocupadíssimos", disse o presidente da Abrasel em São Paulo, Percival Maricato. "A medida é injusta e contraproducente. Houve um erro muito grande do governo do estado, que puniu quem faz a lição de casa e é responsável."
De acordo com Maricato, os bares e restaurantes conseguem obedecer os protocolos de segurança, enquanto o real problema estaria nas aglomerações em outros locais. "A televisão está mostrando a 25 de março, o comércio no Brás, a praia, o pancadão, o transporte público, há pouco tempo tivemos as eleições...Não faltam motivos para aumentar a pandemia."
Ele diz que a associação vê com receio a possibilidade de mais estabelecimentos fecharem com a medida. "A gente esperava um movimento maior no fim do ano para pagar as contas, como 13º salários, banco, locador, etc. Esperávamos até que o governo, reconhecendo o nosso esforço, liberasse as mesas nas calçadas, que são menos contaminantes, e ele fez o contrário, restringiu ainda mais até o ponto que torna inviável o funcionamento."
Para ele, a medida correta seria ampliar o funcionamento dos estabelecimentos assim como fez com o comércio, além de trabalhar com a conscientização da população a cerca da pandemia. "Deveria sentar toda a sociedade civil na mesa, as igreja, os sindicatos, os comerciantes e fazer um esforço de conscientização. Mas o governo quis fazer tudo sozinho."
Sobre a restrição de venda de bebidas até às 20h em restaurantes e lojas de conveniência, Maricato chamou a medida de "totalitária" e "inconstitucional". "É uma intervenção na iniciativa privada, na liberdade econômica. Intervenção extremamente totalitária dos direitos do cidadão".
Segundo ele, a associação pretende entrar com uma ação judicial para reverter a decisão. "Não vamos aceitar isso passivamente".
Aumento de internação de jovens
A decisão do governo paulista vale para todo o estado. Mas as prefeituras têm autonomia para acatarem ou não as medidas. Em contrapartida, o governo afirma que deverá acionar o MP-SP (Ministério Público do Estado de São Paulo) em caso de descumprimento das normas.
Segundo o governo paulista, as novas regras se fazem necessárias devido ao aumento das internações entre jovens. Entre março e novembro, a faixa etária com maior demanda por leitos se dava entre 55 e 75 anos.
Nas últimas três semanas, caiu para a faixa entre 30 e 50 anos. Pessoas de 20 a 39 anos —principal público dos bares— representam 40% das internações e 3,6% dos óbitos.
Para o presidente da Abrasel em São Paulo, no entanto, não vai ser um decreto que vai "impedir os jovens de saírem de casa".
*Colaboraram: Lucas Borges Teixeira, Douglas Porto, Stella Borges e Allan Brito
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