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Avião da Azul está parado e aguarda Saúde para buscar vacinas na Índia

Avião da Azul que trará vacina de Oxford da Índia decola do Aeroporto de Viracopos, em Campinas, rumo ao Recife - Divulgação
Avião da Azul que trará vacina de Oxford da Índia decola do Aeroporto de Viracopos, em Campinas, rumo ao Recife Imagem: Divulgação

Guilheme Castellar

Colaboração para o UOL, do Rio

15/01/2021 20h03Atualizada em 15/01/2021 22h59

O avião da Azul preparado para voar hoje à Índia para buscar a encomenda de 2 milhões de doses da vacina da AstraZeneca/Oxford passou a tarde de hoje em terra no Aeroporto dos Guararapes, no Recife, sem previsão para decolagem. A expectativa era de que ele partisse na sexta-feira (15), rumo à cidade de Mumbai, na Índia, às 23h. Segundo a companhia aérea, a equipe do avião esperava as orientações do Ministério da Saúde, mas, na noite de hoje, a aeronave deixará o Recife de volta a São Paulo.

Com a negativa da Índia em atender imediatamente o pedido do governo brasileiro, dificilmente será mantido o cronograma de decolagem na noite de hoje. Ciente do cenário, o presidente Bolsonaro admitiu, no final da tarde em entrevista ao apresentador a José Luiz Datena, no Brasil Urgente, que a operação deve atrasar "dois ou três dias, no máximo".

Foi tudo acertado para disponibilizar 2 milhões de doses [da vacina Oxford/AstraZeneca]. Só que hoje, neste exato momento, está começando a vacinação na Índia, um país de 1,3 bilhão de habitantes. Então resolveu-se aí, e não foi decisão nossa, atrasar um ou dois dias até que o povo comece a ser vacinado lá, porque lá também tem pressões políticas de um lado e de outro. Isso daí, no meu entender, daqui dois, três dias no máximo nosso avião vai partir e vai trazer essas 2 milhões de vacinas para cá."
Jair Bolsonaro

Procurado pelo UOL, o Ministério da Saúde não se manifestou sobre a operação de importação das doses do imunizante do laboratório AstraZeneca em parceria com a Universidade de Oxford que estão sendo produzidos pelo Instituo Serum, da Índia.

Segundo a imprensa indiana, a vacinação no país terá início neste sábado (16), com um anúncio logo cedo pelo primeiro-ministro Narendra Modi e a aplicação das primeiras doses em profissionais de saúde. Procurada, a Embaixada da Índia em Brasília (DF) não se manifestou sobre a previsão de entrega da encomenda brasileira e nem se há algum acordo formal assinado.

O atraso na encomenda indiana mostra que foi em vão o esforço do governo para cumprir o cronograma anunciado — a ideia era que o avião voltasse já no domingo (17) e que a vacinação acontecesse já na quarta (20) ou quinta-feira (21). Ontem, a Azul confirmou que o cronograma havia sido adiado "devido a questões logísticas internacionais".

Hoje, o próprio ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, se empenhou para garantir a decolagem da aeronave. Em contato telefônico com o chanceler indiano Subrahmanyam Jaishankar, Araújo ouviu que não seria possível atender à demanda brasileira neste momento.

Conforme o UOL apurou junto a fontes diplomáticas, Araújo e Jaishankar conversaram e o chanceler indiano deixou claro que há boa vontade em fornecer as doses produzidas pelo Serum Institute. No entanto, questões logísticas no momento impedem o país asiático de cumprir a previsão do governo brasileiro.

Há uma semana, Bolsonaro chegou a enviar uma carta para o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, pedindo a antecipação "com urgência" do fornecimento dos 2 milhões de doses. A intenção do governo indiano é de atender à demanda brasileira nos próximos dias, mas ainda não há previsão real para isso.

Em nota, a Azul informou que "está pronta para buscar o lote de dois milhões de doses da vacina desenvolvida pela Astrazeneca/Oxford em Mumbai, na Índia", e que "aguarda a definição diplomática entre o Brasil e o governo indiano".

"Muito cedo"

O primeiro alerta de que os planos do governo brasileiro seriam frustrados vieram na quinta-feira (14), quando o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Índia, Anurag Srivastava, disse ser "muito cedo" para confirmar a data de envio das doses compradas pelo Brasil.

Como você deve saber o processo de vacinação está apenas começando na Índia, é muito cedo para dar uma resposta específica sobre o fornecimento a outros países, sobre como ainda estamos avaliando a produção que devemos usar e a entrega. Isso deve demorar algum tempo."
Anurag Srivastava, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Índia

Com a "opção indiana" protelada, o governo federal passou a mirar a "opção chinesa" para tentar lançar a campanha de vacinação contra covid-19 antes do dia 25, data anunciada pelo governador João Dória para aplicação das primeiras doses de CoronaVac em São Paulo. Ainda na sexta-feira, o Ministério da Saúde enviou ofício ao Butantan requisitando seis milhões de doses do CoronaVac.

"Solicitamos os bons préstimos para disponibilizar a entrega imediata das 6 milhões de doses importadas e que foram objeto do pedido de autorização de uso emergencial perante a Anvisa", diz o ofício assinado pelo diretor do Departamento de Logística em Saúde, Roberto Ferreira Dias.

"Ressaltamos a urgência na imediata entrega do quantitativo contratado e acima mencionado, tendo em vista que este Ministério precisa fazer o devido loteamento para iniciar a logística de distribuição para todos os estados da federação de maneira simultânea e equitativa, conforme cronograma previsto no Plano Nacional de Operacionalização da vacinação contra a Covid-19, tão logo seja concedido a autorização pela agência reguladora, cuja decisão está prevista para domingo", continua a nota.

CoronaVac

Sem previsão para a chegada do imunizante da Oxford/AstraZeneca, o Brasil conta no momento apenas com as 10,8 milhões de doses da CoronaVac, desenvolvida pela chinesa Sinovac e pelo Instituto Butantan. Parte dessas doses ainda estão em processo de envasamento nos frascos e rotulação. O governo paulista disse na sexta-feira que vai repassar 4,5 milhões de doses da CoronaVac ao governo federal.

Dessa maneira, 1,5 milhão de doses devem permanecer no estado para a vacinação local. Em entrevista coletiva realizada hoje no Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo, o governador João Doria (PSDB) afirmou que "não faz sentido" o estado entregar todas as 6 milhões de doses que estão prontas para depois receber de volta do governo federal pela campanha nacional de vacinação contra a covid-19.