Mãe pega covid com a filha, mas não sabe que ela morreu há 7 dias

No dia 4, a jovem Nathalia Cavalcante, 19, morreu vítima de covid-19 em Palmeira dos Índios, no sertão de Alagoas. Ela morava com a mãe, Mariselma, 45, que também se contaminou e está internada desde o dia em que a filha morreu.

Para preservar Mariselma durante seu tratamento, a família decidiu não contar sobre a morte da filha. Primeiro, eles querem esperar que ela melhore. "Ela ainda não sabe da Nathalia. A gente acha que vai interferir na recuperação dela", diz Nayane, irmã de Nathalia.

Ela conta que as duas sempre foram muito próximas. "Elas moravam juntas, só as duas na casa da minha mãe. Eu e meu outro irmão somos casados e minha mãe é separada do meu pai há muitos anos já", afirma.

Para manter o segredo, Mariselma não tem acesso a nenhum meio de comunicação na enfermaria.

Ela está internada em um hospital de campanha no município de Campo Alegre (AL) desde a segunda-feira (8). Antes, ficou na UPA (Unidade Pronto Atendimento) de Palmeira dos Índios. Na noite dessa internação, sem ela saber, a filha morria no hospital ali perto.

A gente fica indo visitar minha mãe todo dia, faz chamadas de vídeo dela para a família. Mas, como lá não pode ficar acompanhante, a gente optou por não falar sobre minha irmã.
Nayane Cavalcante, irmã de vítima de covid

Doente por dias e falta de exame

Nayane conta que Nathalia e sua mãe tiveram uma gripe forte entre o final de janeiro e o início de fevereiro. "Imaginamos que a imunidade delas estava baixa. Elas fizeram testes para covid e deram negativos. Depois disso, ficaram bem", diz.

No domingo de Carnaval, dia 14 de fevereiro, Nathalia viajou para Maceió com Nayane e apresentou diarréia e dor de cabeça.

Achamos que fosse algo que ela tivesse comido e tratamos como uma infecção alimentar. Não passou de forma alguma pela nossa cabeça associar os sintomas ao covid.
Nayane Cavalcante, irmã de vítima de covid

Elas voltaram para casa no dia 18. "No dia seguinte, ela começou a sentir dor na garganta. Fez mais dois testes para covid: um deu inconclusivo, outro deu negativo. Deu duas entradas na UPA tossindo bastante, com muito cansaço e febre", diz.

Foi medicada lá e não passaram remédio para tomar em casa. Na segunda vez, passaram um xarope expectorante. "No dia 1º, fez o exame e passou muito mal enquanto esperava. Foi quando foi internada com muita tosse e falta de ar."

Na UPA, um exame de sangue apontou infecção por bactéria. Ficou internada e fez novo exame. "No dia seguinte, saiu o resultado positivo para covid", conta.

Segundo a irmã, foram solicitados uma tomografia e raio-x do tórax, mas as máquinas estavam quebradas.

Em nota, a Prefeitura de Palmeira dos Índios informou que o aparelho teve um problema durante uma manutenção da energia elétrica no dia 1º, em que "teve uma das placas queimada". O equipamento já foi reativado.

No dia 3, Nathália teve um agravamento e foi transferida para a UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do Hospital Regional Santa Rita. "Só tínhamos informações pelos médicos plantonistas. E sempre eram as mesmas: que ela estava estável, tossindo, cansada e saturação oscilando."

Na quinta-feira, foi a mãe que piorou. Com um cansaço forte, foi internada também com covid-19. "Ela também já tinha feito três testes antes e tinham dado negativo", diz a filha.

À noite, Nathalia piorou de novo, e os médicos decidiram intubá-la. "Em cinco minutos, ela teve uma parada cardíaca. Tentaram reanimá-la por 53 minutos, mas ela não voltou", conta.

Nathalia era obesa, mas, segundo Nayane, não tinha nenhuma doença: "Ela fazia academia, se alimentava bem, não tinha problema respiratório nem cardíaco", diz.