Ter dinheiro não vai salvar ninguém, diz médico do Centro de Contingência
Ter ou não um bom plano de saúde não fará diferença caso o sistema colapse no estado de São Paulo. Essa é a mensagem do Centro de Contingência do Coronavírus em São Paulo, que pede para que a população aperte o isolamento social em meio à explosão de casos e siga as regras de restrição.
Com quase 90% das vagas de UTIs (unidades de tratamento intensivo) do estado ocupadas e grande parte dos hospitais privados saturada, os especialistas alertam para o óbvio: o vírus não escolhe faixa de renda. Na última quinta-feira (11), o estado anunciou uma fase emergencial do Plano São Paulo, com redução dos serviços essenciais e restrições à circulação de pessoas.
Ter dinheiro não vai salvar ninguém. Se o sistema esgota, esgota para todo mundo. É só você ver a situação dos hospitais particulares. Não adianta se apoiar [no plano de saúde], tem que entender a gravidade da pandemia e do momento que a gente está vivendo. Não dá mais para subestimar esse vírus.
Paulo Menezes, coordenador do Centro de Contingência
Na semana passada os principais hospitais privados de referência no estado, como Albert Einstein e Beneficência Portuguesa, já indicavam falta de leitos de UTI, com o rápido crescimento das internações em fevereiro.
Menezes, que há tempos fala sobre a necessidade de aumentar o distanciamento social, reforça que as pessoas têm de entender que "estamos no pior momento" e que o vírus tem de "ser levado a sério", independente de idade ou classe social.
"Há pessoas que aparentemente não entenderam que esse vírus é muito forte. Muito forte. Se confiam em idade ou em hospital, mas, na situação que está, pode faltar para todos", disse o epidemiologista ao UOL. "Por isso, é importante reforçar o isolamento social. Só é para sair quem realmente precisa. Se não, fica em casa."
João Gabbardo, coordenador-executivo do Centro de Contingência, fez alerta semelhante na coletiva no Palácio dos Bandeirantes ontem. Segundo ele, se a população não seguir as recomendações, vão ser os médicos, não o poder aquisitivo, que determinarão os leitos.
Se não conseguirmos implementar medidas [restritivas] e não aumentar isolamento social, muita gente vai morrer, muita gente com plano de saúde bom não vai ter leitos. Empreendedores de sucesso morrerão com muito dinheiro na conta. Assim como morrerão trabalhadores informais e pessoas da classe média. Não vai ter leito para todo mundo. Os médicos que vão ter que optar por quem vai ocupar leitos.
João Gabbardo, coordenador-executivo do Centro de Contingência
Com as medidas decretadas ontem, que preveem mais restrições a bares, restaurantes, escritórios e outras atividades, o governo paulista prevê a redução de circulação de pelo menos 4 milhões de trabalhadores a partir de segunda-feira (15).
À noite, das 20h às 5h, também foi estipulado uma espécie de toque de recolher. O governo recomenda que as pessoas só saiam de casa por motivos emergenciais, como saúde e trabalho, e não mais para passear. Medidas mais rígidas já eram uma solicitação antiga do Centro de Contingência.
"A mensagem é clara: não devemos circular após esse horário, a não ser que haja necessidade absoluta", disse Menezes. "[Haverá] proibição de uso de praias e parques. Mesmo que seja para não haver aglomerações, pessoas usam esse espaço para encontro. É proibição completa de qualquer aglomeração."
Fase emergencial
A fase emergencial, anunciada pelo governo, deve durar até 30 de março. Nesse período, ficam suspensos os eventos esportivos (como campeonato de futebol) e as celebrações religiosas. As escolas estaduais terão um recesso antecipado e a Secretaria Estadual da Educação recomendou a mesma medida para as redes municipal e particular.
Lojas de materias de construção saem da lista de atividades essenciais e, portanto, terão que fechar. Bares e restaurantes não terão atendimento presencial —o drive-thru pode funcionar das 5h às 20h, fora do horário do toque de recolher. O serviço de delivery está liberado.
Não foi anunciada alteração no transporte público, mas o governo sugeriu horários de entrada diferenciados para os setores que continuarão funcionando, para tentar evitar aglomeração em ônibus, trens e metrôs.
*Colaboraram Allan Brito, Leonardo Martins e Rafael Bragança
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