Turistas lotam mercados no litoral em lockdown: "Pedi máscaras e xingaram"
Apesar dos aparentes esforços das prefeituras, uma quantidade significativa de turistas está ultrapassando os bloqueios e chegando às cidades da Baixada Santista e litoral sul de São Paulo, como ficou demonstrado na noite de ontem pelo caos gerado em dezenas de supermercados e hipermercados. As cidades decretaram lockdown, devido ao avanço do coronavírus.
Desde ontem, em menos de 24 horas, 45 mil veículos já desceram a serra, segundo dados da Ecovias. Os nove municípios da região se esforçam, sem muito sucesso, em tentar conter a chegada dos turistas em barreiras sanitárias instaladas nas entradas das cidades. O megaferiado na capital paulista, que começou ontem (26) e vai até o dia 3, foi uma forma encontrada pelo prefeito Bruno Covas (PSDB) para esvaziar a cidade, com o objetivo de conter a disseminação do vírus.
Filas imensas se formaram nas portas dos estabelecimentos, com moradores e turistas disputando espaço. No lockdown coordenado pelas cidades, os hipermercados, supermercados, mercados, mercearias, açougues, peixarias e quitandas podem funcionar de segunda à sexta-feira, das 6 às 20 horas, e aos finais de semana apenas por delivery. A princípio, a regra é válida até 4 de abril.
Moradora de Praia Grande, a comerciante Maria do Rosário Peres, 56, esteve ontem aguardando em uma dessas filas, num supermercado na Vila Sônia. Ela disse ter ficado revoltada com um grupo de jovens turistas que insistia em não respeitar as normas sanitárias: estavam todos sem máscara, gritando e gesticulando muito.
Essa gente vem para a nossa cidade fazer arruaça? Eu perdi a paciência com eles, pedi para que colocassem a máscara, mas começaram a me xingar. Eu já estava havia uns 40 minutos na fila quando eles chegaram. Um deles avançou pra cima de mim. E ninguém que estava na fila ajudou. Acabei indo embora sem comprar nada"
Não muito distante dali, em São Vicente, a fila em frente a um supermercado na região central da cidade parecia não ter fim. Ela dava uma volta completa ao redor do quarteirão e o tempo de espera para entrar chegou a duas horas.
"Foi uma loucura", contou a dona-de-casa Isabel Soares, 68 anos. "Tinha muita gente de fora da cidade fazendo compras. Teve umas pessoas na fila que até reclamaram, lembrando que a gente está em lockdown aqui. Quando chegou a minha vez de entrar, não consegui comprar nem as batatas e nem a mistura que eu precisava para fazer a janta. Já tinham levado tudo. Carne, linguiça, até salsicha."
Motorista com covid barrado
Em Praia Grande, na última quarta-feira (24), agentes de trânsito abordaram um veículo com placa de São Paulo, cujo motorista havia sido diagnosticado com covid-19. Ele carregava consigo uma sacola de remédios e foi orientado a retornar à sua cidade de origem, para cumprir o isolamento social em casa.
"Esse é o tipo de situação que nos preocupa. Esse motorista entendeu as orientações e retornou para a sua cidade. Mas muitos não têm a mesma consciência", desabafou o secretário de Cultura e Turismo de Praia Grande, Mauricio Petiz.
"Sabemos de muitas pessoas de outras cidades que vêm para cá em busca de atendimento. Ou seja, já sabiam que estavam doentes", confirmou ao UOL uma profissional de enfermagem que pediu para não se identificar e que trabalha numa unidade de saúde em Santos. "Como eles ou as famílias têm apartamentos aqui, conseguem comprovar residência."
Segundo dados da Prefeitura de Santos, o bloqueio sanitário instalado na entrada da cidade abordou, em três dias, 528 veículos. Destes, apenas 15 foram impedidos de seguir viagem. O que equivale a 2,84% do total.
"Até o final da manhã de hoje (27), o movimento está baixo, sem a necessidade de retorno de veículos de fora da região para as cidades de origem. A medida restritiva está sendo cumprida e não estamos encontrando dificuldades durante as abordagens", informou o secretário de Segurança do município, Sérgio Del Bel.
"Foi fácil chegar em Santos", contou o autônomo Elias Bispo dos Santos. "Vim na quinta-feira à noite, com a minha esposa e os nossos três filhos, estamos na casa da minha mãe. Eu soube que tinha bloqueio no Saboó (uma das chegadas ao município), então entrei por São Vicente. Vi que tinha bloqueio também, mas ninguém parou a gente."
De acordo com informações da prefeitura de São Vicente, as barreiras instaladas na entrada do município têm caráter meramente educativo. Desde quinta-feira, foram realizadas 516 abordagens a motoristas que desciam a serra e os agentes prestaram informações sobre as restrições em vigor em toda a Baixada Santista. Não há informações de veículos proibidos de seguir viagem.
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