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Bolsonaro usa vídeo de junho de 2020 para minimizar gravidade da pandemia

Presidente compartilhou vídeo que mostra números da covid-19 divididos pela população do país. Comparação esconde momento real da pandemia - Mateus Bonomi/AGIF/Estadão Conteúdo
Presidente compartilhou vídeo que mostra números da covid-19 divididos pela população do país. Comparação esconde momento real da pandemia Imagem: Mateus Bonomi/AGIF/Estadão Conteúdo

Do UOL, em São Paulo

01/04/2021 14h48

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) usou hoje um vídeo de junho de 2020 como forma de tentar minimizar a gravidade da pandemia de covid-19, que vive seu pior momento no país, com novo recorde de mortes diárias registrado ontem. Bolsonaro compartilhou um trecho do Jornal da Band em que o programa jornalístico faz uma ponderação sobre os números do coronavírus em relação à quantidade de habitantes do país.

O programa foi ao ar na TV Bandeirantes em 10 de junho do ano passado. À época, o Brasil vivia ainda o início do momento mais crítico da primeira onda da pandemia, que duraria até agosto. Naquele dia, morreram 1.300 pessoas por covid-19 segundo dados do consórcio de mídia do qual o UOL faz parte. Ontem, foram 3.950 óbitos registrados em 24 horas.

No vídeo, que foi publicado no YouTube pelo vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (Republicanos), filho do presidente, e compartilhado por Bolsonaro em seu canal no Telegram, o Jornal da Band mostra que o Brasil era o terceiro país em um ranking com números absolutos de mortes, e o segundo em casos confirmados da covid-19 (assista ao vídeo original abaixo).

Logo depois, o programa pondera que, se considerados os números divididos por cada milhão de habitantes, ou seja, contando o tamanho da população brasileira, a situação seria bem diferente. O país estaria em 19º no ranking de mortes e em 32º lugar em casos confirmados. A emissora, porém, não divulga qual foi a fonte dos dados.

O vídeo publicado por Carlos Bolsonaro é intitulado como: "Mais alguns segundos de verdades que você não verá em certa emissora de TV".

À época, em 10 de junho, o Brasil somava 39.797 mortes pela covid-19 segundo dados do consórcio. Até ontem, o país já registrava 321.886 óbitos.

Dados relativizam momento crítico

Tanto em junho do ano passado como agora, a mera comparação dos números da covid-19 em relação à população de cada país esconde o momento de avanço da pandemia no Brasil, que tem seu número de habitantes estimado em 212 milhões.

post - Reprodução/Telegram - Reprodução/Telegram
Post de Bolsonaro no Telegram sobre vídeo de junho de 2020
Imagem: Reprodução/Telegram

O UOL fez um levantamento sobre os dois momentos usando dados da plataforma Our World In Data, que usa informações fornecidas pela Universidade Johns Hopkins, referência em números da covid-19 no mundo.

Atualmente, nossa situação pouco mudou em relação aos números totais divididos pela população, com o país na 18ª colocação no ranking de mortes (1.512,59 óbitos) e na 34ª posição em casos confirmados (59.977,34).

No entanto, os números de mortes e casos diários por cada milhão de habitantes mostram melhor o momento crítico, tanto agora como na primeira onda da doença.

Em 10 de junho, o Brasil era o terceiro país com mais mortes diárias (5,99), atrás apenas de Suécia (7,72) e Chile (10,04). Agora, segundo dados de ontem, o país é a sexta nação com mais óbitos registrados nas últimas 24 horas, com 18,2 pessoas morrendo diariamente por cada milhão de habitantes.

À época do vídeo, o Brasil também estava entre os países com mais casos diários confirmados em relação à população, aparecendo em sexto no ranking. Agora, a nação fica apenas na 29ª posição, o que pode indicar subnotificação, já que os hospitais lotados levam pessoas a não procurarem atendimento em casos leves, ficando assim sem um diagnóstico da doença.

De "gripezinha" a "mimimi"

Desde o início da pandemia, Bolsonaro tem adotado como estratégia minimizar a gravidade da covid-19. Ainda em março do ano passado, ele se referiu à doença como "gripezinha" e afirmou que não teria problemas ao contrair o novo coronavírus pelo seu "histórico de atleta".

Desde então, o presidente colecionou momentos em que relativizou as mortes, com o pretexto de salvar a economia. Mais recentemente, no início do mês passado, falou em parar de "frescura e mimimi". "Vão ficar chorando até quando?", afirmou.

Enquanto isso, segue pregando contra as medidas de isolamento social e desafiando governadores e prefeitos que tentam adotar lockdowns para conter a circulação do vírus e diminuir a pressão sobre o sistema de saúde.

No seu último pronunciamento em rede nacional, há pouco mais de semana, mentiu ao falar sobre suas ações na pandemia e mudou de tom sobre a importância da vacinação contra a covid-19, após demorar para buscar acordos por imunizantes e chegar a desdenhar da CoronaVac, a vacina de origem chinesa do Instituto Butantan que fornece a grande maioria das doses ao PNI (Programa Nacional de Imunização) do Ministério da Saúde.