Com pai intubado, enfermeiro vive 'dois lados' da pandemia ao mesmo tempo
Formado em enfermagem há cinco anos, Jackson Costa, 26, nunca pensou que estaria na linha de frente de uma pandemia, situação que só tinha visto "nos livros da escola". Há um ano, ele trabalha na remoção e transporte de pacientes de covid-19.
Funcionário de uma empresa privada de ambulância, ele chega a transportar dez pacientes no mesmo dia.
Há duas semanas, passou a encarar "os dois lados" da pandemia: seu pai, de 55 anos, está intubado no Hospital do M'Boi Mirim, na zona sul de São Paulo.
Enquanto reza pela recuperação dele, Costa ajuda a salvar outras pessoas doentes. Por volta das 15h30 de quarta-feira (31), havia acabado de transportar um paciente em estado grave para o Hospital do Campo Limpo, também na zona sul da capital.
"Quando a gente está só desse outro lado, acaba não se emocionando tanto, porque são muitos pacientes. Eu hoje estou vivendo os dois lados. Meu pai está no 15° dia de intubação", conta Costa.
A situação está bem crítica. A gente não aguenta mais. A gente entra 7h, mas o horário da saída é sempre uma incógnita. A gente pega o paciente, até conseguir liberar a vaga, transferir, fazer todo o trâmite da remoção, leva um tempo. O que era para sair às 19h, acaba às 20h, 21h, 22h. Se Deus quiser, isso vai acabar.
Jackson Costa, enfermeiro
Mesmo circulando entre hospitais e conhecendo médicos e profissionais da saúde, Costa precisou aguardar na fila por uma vaga de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) para o pai.
"Conheço bastante gente, mas a gente infelizmente cai numa fila de espera. Tem o sistema que direciona para onde vão os pacientes, e tivemos que aguardar também nesta mesma fila. A gente fica muito aflito, muito angustiado. Tem dia que apresenta melhoras, tem dia que não. A gente fica apreensivo."
O fluxo de remoção de pacientes de covid-19 não para. Os pacientes que chegam às UBSs (Unidades Básicas de Saúde) ou AMAs (Assistências Médicas Ambulatoriais) e apresentam piora são transferidos para UPAs (Unidades de Pronto Atendimento).
De lá, se há vaga, vão para hospitais maiores. Quando apresentam melhora, voltam para outras unidades, liberando o leito para quem está mais grave. Mais trabalho para o enfermeiro Jackson Costa.
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