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Bolsonaro cita 'infrutífera busca de diálogo' ao criticar restrições

Jair Bolsonaro voltou a atacar medidas restritivas, que são indicadas por especialistas para controlar a pandemia - Ueslei Marcelino/Reuters
Jair Bolsonaro voltou a atacar medidas restritivas, que são indicadas por especialistas para controlar a pandemia Imagem: Ueslei Marcelino/Reuters

Do UOL, em São Paulo

03/04/2021 08h58Atualizada em 03/04/2021 09h13

Um dia depois de atacar o isolamento social no pior momento da pandemia do novo coronavírus no Brasil, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a criticar medidas restritivas, dizendo que a fome e desemprego no Brasil são consequências do "fecha tudo" e de uma "infrutífera busca de diálogo" por parte dele.

A declaração chama a atenção porque utiliza às avessas uma cobrança frequentemente feita por governadores e prefeitos, que reclamam da falta de abertura de diálogo por parte do presidente. Desde o início da pandemia, Bolsonaro entrou em conflito com governadores principalmente por se opor a qualquer medida de restrição, considerada fundamental por epidemiologistas para o controle da covid-19.

Na postagem, Bolsonaro compartilhou o link de um site de apoio que opina favoravelmente ao seu discurso, dizendo que o aumento da fome e o desemprego mostram que ele "estava certo".

Porém, vale ressaltar que para grande parte dos especialistas a melhor forma de recuperar a economia é controlando a pandemia de forma efetiva com medidas restritivas, o que evita um alongamento da crise sanitária e permite mais rapidamente uma volta segura.

A última pesquisa Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apontou uma taxa média de desemprego no Brasil de 14,2% no trimestre de novembro a janeiro, a mais alta para um trimestre encerrado janeiro desde 2012, quando começa a série histórica. Isso significa que 14,3 milhões de pessoas estão na fila por um trabalho no país.

Em março, uma carta com a assinatura de mais de 500 assinaturas de economistas, banqueiros e empresários pediu uma política oposta da pregada pelo governo Federal, pedindo a adoção de um roteiro de medidas para enfrentar a pandemia e, ao mesmo tempo, evitar a quebra da economia.

Crítica a governadores na sequência

Logo após falar em busca infrutífera por diálogo, Bolsonaro voltou a atacar os governadores em uma postagem no Facebook, pedindo para ensinarem a ele "como ganhar o pão de cada dia sem trabalhar".

Mais de 3 mil mortes por dia

Ontem, Jair Bolsonaro já tinha feito um post na mesma linha, dizendo sem bases científicas que "trabalhar, muitas vezes, também é uma atividade física".

O estímulo à retomada de atividades essenciais se dá em meio ao pior momento da pandemia no Brasil. Ontem, o país chegou ao total de 328.366 mortos pela covid-19. Atualmente, é o país com o maior número de mortes diárias no planeta: com mais de 3.000 em média por dia, de acordo com o consórcio de imprensa do qual o UOL faz parte.

O país nunca apresentou números tão graves como agora. O mês de março bateu o recorde de mortes por aqui: foram 66.868 mortes no mês só pela doença, mais do que o dobro de junho de 2020, antigo pico da pandemia, com 32.912 óbitos.

Medidas de isolamento são consenso internacional

Apesar dos questionamentos do presidente, é consenso científico internacional que a diminuição da circulação de pessoas resulta diretamente na diminuição da transmissão do vírus, o que faz, consequentemente, com que os índices caiam. Medidas de isolamento com fechamento de serviços não essenciais, como as criticadas por ele, foram adotadas por todos os países que melhor combateram o vírus.

Em junho de 2020, dois artigos publicados na revista científica Nature já apresentavam estimativas dos efeitos iniciais das medidas restritivas. Um deles tratou das medidas de redução de contágio adotadas em 1,7 mil diferentes localidades da Ásia, Europa e EUA, até então, sugeria que mais de 140 milhões de infecções haviam sido "evitadas ou adiadas" graças às restrições. Outro sobre 11 nações europeias calcula que 3 milhões de vidas haviam sido salvas pelas restrições, até 4 de maio.

Por aqui, pesquisadores brasileiros avaliam que lockdown rígido tanto no início da pandemia, entre março e maio de 2020, como no final do ano, teria evitado os dois picos de mortes no país.

Como exemplo, Araraquara, no interior paulista, estava com o sistema colapsado no início de março, quando instituiu um lockdown rígido. Quase trinta dias depois, sua região viu a redução de óbitos em 37% e a cidade chegou a zerar o número de mortes em 24 h na última sexta-feira (26).