Pasternak sobre dados da Sputnik enviados à Anvisa: 'ruins e insuficientes'
A microbiologista Natalia Pasternak apontou ontem que os dados da vacina Sputnik V enviados à Anvisa são "ruins e insuficientes" para que seja aprovado o uso do imunizante no país. Ontem, por unanimidade, os cinco diretores da agência reguladora brasileira rejeitaram a importação e o uso da vacina russa no território nacional.
"É complicado você ter poucos dados e dados insuficientes e ruins para avaliar uma vacina. A Anvisa ficou realmente em uma saia justa porque os dados não são suficientes, não foram fornecidos da maneira correta. Os relatórios que a Anvisa pediu vieram incompletos", declarou a microbiologista à GloboNews.
Para a cientista, mesmo que o Brasil não tenha doses para vacinar toda a população, é muito perigoso aprovar uma vacina sem utilizar o mesmo rigor exigido as outras já aprovadas no território nacional e correr o risco de provocar efeitos negativos à saúde dos imunizados.
Além disso, Natalia ponderou que se uma vacina der errado, ela pode colocar a credibilidade da importância da vacinação em perigo e provocar um temor geral da população em ser imunizada com quaisquer outras vacinas.
"A gente não pode correr o risco de perder credibilidade em vacinas como um todo se alguma coisa acontecer com essa [Sputnik]. Porque quando acontece um incidente com vacina são todas as vacinas que perdem credibilidade. As pessoas começam a duvidar de vacinas e não somente daquela vacina [que teve um incidente]. E a gente não pode correr esse risco, inclusive, durante a pandemia. Então, a gente precisa desse cuidado."
Desespero para a aprovação
Sobre o desespero de alguns estados — como, por exemplo, o Consórcio do Nordeste —, em fazer a importação rápida da Sputnik, Natalia explicou que não é possível acreditar que a vacina russa "é que vai nos salvar da pandemia".
Para a cientista, estamos com 392.204 óbitos em razão da covid-19 e alto número de infectados por falta de planejamento, não ter sido realizado o lockdown nos estados e pelo Governo Federal e o Ministério da Saúde não terem comprado as vacinas já disponíveis no mercado e que foram oferecidas anteriormente.
"É claro que a gente quer vacinas, mas vamos imunizar a nossa população com vacinas que foram devidamente apresentadas e aprovadas pela nossa agência regulatória. Enquanto isso não acontece, nós não estamos à mercê da pandemia por falta da [aprovação da] Sputnik. Nós estamos em uma situação difícil na pandemia por falta de planejamento do governo federal e do ministério da saúde. Então a gente não pode colocar toda a esperança e dizer que 'ah, poxa, se a Anvisa não tivesse rejeitado a Sputnik, a gente ia sair dessa no mês que vem', porque isso não é verdade."
A pesquisadora ainda declarou que acredita que a Sputnik "tem tudo" para ser uma boa vacina, mas "eles realmente precisam ser mais precisos na documentação que enviam para as agências regulatórias porque se não não tem como a agência trabalhar".
66 milhões de doses
Segundo a própria Anvisa, até o momento, 14 estados e duas prefeituras enviaram "pedidos de importação da vacina Sputnik V" à agência. São eles: Acre, Alagoas, Amapá, Bahia, Ceará, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Rondônia, Sergipe e Tocantins, e os municípios de Maricá e Niterói.
Se fosse concedida, a liberação pela Anvisa permitiria que 66 milhões de doses já compradas pelos governos fossem enviadas ao Brasil. Deste total, 37 milhões deveriam ser distribuídos à população do Nordeste.
Em um encontro recente com o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, o presidente do Fórum de Governadores e governador do Piauí, Wellington Dias (PT), ofereceu parte do lote dos imunizantes russos ao governo federal.
Pedida por governadores principalmente de estados do Nordeste, a Sputnik V já foi aprovada por agências reguladoras de 17 países, entre elas as da Rússia, da Argentina e do México.
*Com informações de Lucas Valença, em colaboração para o UOL, em Brasília
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