Pacientes com comorbidade ficam sem vacina por falha em saúde do Rio
O número de pessoas com comorbidades vacinadas contra a covid-19 na cidade do Rio de Janeiro ficou abaixo do esperado pela prefeitura. Parte dos elegíveis para a receber a imunização não conseguiu garantir o seu direito por problemas alheios à sua vontade, como falta de médicos para comprovação de laudos e informações confusas sobre os critérios para a vacinação.
Augusto Gomes, 19, desistiu de vacinar na repescagem —marcada para sábado (5) para tentar cumprir a meta de 750 mil pessoas com comorbidades vacinadas— e vai aguardar a sua vez no calendário por idade. Morador da Pavuna, na zona norte, o rapaz é portador de bronquite grave e está há meses sem conseguir se consultar na Clínica da Família Epitácio Soares Reis.
Augusto diz que há falta de médicos na unidade —o que acontece desde antes da posse do prefeito Eduardo Paes (PSD), em janeiro. Por isso, ele não tem laudo médico ou receitas recentes de medicamentos para comprovar a gravidade da doença que o habilita para vacinar.
"Me sinto bem inseguro para sair e procurar emprego", diz Augusto, que mora com os pais. Embora eles já tenham se vacinado, ele teme contaminá-los.
Já estive pior em relação a isso, já fiquei indignado. Mas agora me contentei, meu medo é pegar a doença de bobeira, mas estou me cuidando. Já me convenci que só me vacino em outubro [pela idade]
Augusto Gomes, 19, desempregado
Procurada pelo UOL na terça-feira (1º), a SMS (Secretaria Municipal de Saúde) afirmou que que "a Clínica da Família Epitácio Soares Reis tem médicos e os pacientes que precisam de assistência são atendidos com prioridade".
'Postos fazem seus próprios critérios de vacinação'
Para vacinar, é preciso apresentar laudos ou exames que comprovem a comorbidade, segundo o PNI (Plano Nacional de Imunização). Receitas de medicamentos isoladas também são suficientes.
Entretanto, o grau que leva cada a doença a constar como elegível para vacinação varia. Nos casos de diabetes, qualquer tipo vale. Mas nos casos de hipertensão, a pessoa tem que tomar ao menos três remédios e ainda assim não conseguir controlá-la.
A produtora cultural Alessandra dos Santos, 37, enfrentou sua primeira crise de hipertensão aos 16 anos. Aos 24, passou por uma crise que levou ao diagnóstico de hipertensão grave.
Desde então, ela faz tratamento para a doença. Nos últimos anos, o tratamento é feito na Clínica da Família Wilma Costa, na Ilha do Governador, zona norte do Rio. Mesmo assim, Alessandra não conseguiu se vacinar somente com as receitas na unidade.
Ela vai tentar novamente no próximo sábado, mas agora em outro posto de vacinação. De acordo com o que relatou, já ouviu de tudo: há postos que vacinam somente com laudos e receitas, há postos que vacinam somente com receitas e há postos que sequer exigem mais de uma medicação.
A reportagem confirmou que os critérios para a vacinação realmente não são unificados.
Um rapaz de 30 anos, que preferiu não se identificar, relatou que fez uma peregrinação para tentar se vacinar com o laudo que atesta sua doença psicossocial.
"Rolou apreensão porque, apesar de ter o direito, li relatos na internet de pessoas que não conseguiram, mesmo com a documentação em dia", disse.
Sua primeira tentativa foi no posto montado no Hotel Fairmont Rio, em Copacabana, na zona sul. Lá, teve uma negativa. "Justificaram que meu diagnóstico não é de uma deficiência permanente."
Entretanto, no posto de vacinação montando no Jockey Club Brasileiro, no Jardim Botânico, zona sul, conseguiu se vacinar sem problemas. "Não fizeram nenhum questionamento, só leram a documentação e me encaminharam para a aplicação."
A reportagem também ouviu outros dois casos de portadores de doenças psicossociais que não conseguiram se vacinar. Um deles desistiu após a primeira tentativa. O outro, mesmo indo a mais de um posto, não conseguiu se vacinar.
A Secretaria Municipal de Saúde não respondeu aos questionamentos sobre fiscalização, denúncia e acompanhamento dos critérios para a vacinação. Os nomes das pessoas também foram exigidos neste caso —e foram negados pela reportagem.
Mas, em nota, reiterou os critérios para a vacinação que já constam no PNI. Adicionou, também, que "paciente em tratamento regular para doença crônica (desde que incluída na lista de comorbidades do Programa Nacional de Imunizações) na rede municipal de Saúde deve se vacinar contra a covid-19 na própria unidade onde é acompanhada, que tem todo seu histórico clínico em cadastro, dispensando a necessidade do laudo médico".
A capital fluminense terminou no último domingo (30) a vacinação de pessoas maiores de 18 anos com comorbidades, mas apenas 65% desse público tomou a primeira dose contra a covid-19. A prefeitura fez uma estimativa de 750.914 moradores com comorbidades no município do Rio, entretanto foram aplicadas a 1ª dose em apenas 494.091.
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