Mainardi acusa Prevent Senior de tentar ocultar causa da morte de seu pai
Em artigo publicado em sua coluna no site "O Antagonista", na sexta-feira (24), o jornalista Diogo Mainardi acusa a operadora de saúde Prevent Senior de tentar ocultar a causa da morte de seu pai, Enio Mainardi. O jornalista, escritor e publicitário faleceu em agosto do ano passado em decorrência do novo coronavírus. A empresa é suspeita de fraudar atestados de óbito e omitir a covid como causa da morte de pacientes.
Hesitei um bocado antes de escrever esta coluna. Meu pai era cliente da Prevent Senior. Ele morreu de covid em agosto do ano passado, no hospital Sancta Maggiore. Quando anunciei sua morte, os bolsonaristas abarrotaram as redes sociais com mentiras, negando que ele houvesse morrido de covid.
Diogo Mainardi em artigo intitulado "A vala comum do bolsonarismo"
"O motivo pelo qual hesitei em escrever sobre a Prevent Senior foi esse meu envolvimento pessoal e direto. Falei diversas vezes sobre a morte de meu pai, sem o menor constrangimento, mas não citei o plano de saúde porque meu juízo estava envenenado pela dor. Além disso, eu queria evitar que seu nome fosse novamente conspurcado pelos bolsonaristas, que o usaram para acobertar seus crimes", prossegue Mainardi.
Só resolvi escrever sobre o tema na quarta-feira, depois que a CPI da Covid acusou a Prevent Senior de ter fraudado os atestados de óbito de Anthony Wong e Regina Hang. Assim como meu pai, eles morreram de covid. Assim como meu pai, eles estavam internados no hospital Sancta Maggiore. Assim como meu pai, houve a tentativa de ocultar a causa de suas mortes...
Ao UOL, a assessoria da Prevent Senior diz lamentar "a tristeza do colunista, mas reafirma nunca ter escondido ou subnotificado óbitos".
A Prevent Senior, que já é alvo de investigações no Ministério Público, na Polícia Civil e na CPI da Covid, é acusada de supostamente pressionar seus médicos conveniados a tratar pacientes com substâncias do "kit covid", como hidroxicloroquina, que não tem eficácia comprovada contra a covid-19.
Ela também é suspeita de ter conduzido um estudo sobre a hidroxicloroquina no tratamento da doença sem avisar pacientes nem seus parentes. Tal estudo teria omitido mortes de pacientes, influenciando o resultado para dar a impressão de que o medicamento seria eficaz.
O procurador-geral de Justiça, Mario Sarrubbo, criou uma espécie de força-tarefa —composta pelos promotores Everton Zanella, Fernando Pereira, Nelson dos Santos Pereira Júnior e Neudival Mascarenhas Filho— para investigar as denúncias contra a Prevent Senior.
Diante das acusações, a empresa vem argumentando que não havia orientação direta para uso da hidroxicloroquina ou cloroquina porque os médicos são livres para prescrever o medicamento que julgarem mais adequado para cada paciente.
A empresa também nega que tenha adulterado qualquer estudo clínico. Há suspeita de que pacientes que morreram em decorrência da covid tiveram seus atestados de óbito emitidos sem referência à doença causada pelo coronavírus, como a mãe do empresário Luciano Hang, apoiador do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
Omissão e desorganização
Em março de 2020, quando os casos começaram a aumentar, a Prefeitura de São Paulo abriu investigação contra a rede de hospitais por ela supostamente não ter comunicado o governo de São Paulo do teste positivo de covid-19 em um paciente no momento do diagnóstico. O estado só soube depois que a pessoa morreu, conforme apuração feita pela reportagem do UOL.
A prefeitura manteve a cobrança de informações e o respeito a protocolos de isolamento dos pacientes no hospital. Fiscalização feita pelo município e pelo governo estadual encontrou superlotação e desorganização em um hospital do grupo na capital paulista. Nessa época, ao menos oito colaboradores da Prevent foram internados em leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva).
Em vídeo veiculado no dia 31 de março, o então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, chamou a atenção para o alto nível de transmissão e mortes de covid-19 dentro de hospitais da rede.
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