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Nova variante do coronavírus preocupa OMS, e países fecham fronteiras

Thaís Augusto

Do UOL, em São Paulo*

26/11/2021 10h59Atualizada em 26/11/2021 18h45

A nova variante do coronavírus, encontrada na África do Sul, é motivo de preocupação entre cientistas e autoridades, que começam a bloquear as fronteiras para evitar a propagação da cepa. Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), a B.1.1.529 é a variante mais "significante" detectada até agora e tem alto potencial de propagação.

A variante tem uma proteína de espigão diferente daquela do coronavírus original, na qual se baseiam as vacinas contra covid-19. Isso aumenta a preocupação de que a B.1.1.529 possa "escapar" da proteção dos imunizantes. A Bélgica detectou hoje o primeiro caso da nova variante na Europa.

Segundo a Agência de Segurança da Saúde do Reino Unido, a cepa também foi identificada em Botswana e Hong Kong.

David Nabarro, enviado especial da OMS para o combate ao coronavírus, disse ser "apropriada" a preocupação sobre a nova variante. "Vou te dizer o porquê: o vírus parece ter uma capacidade maior de escapar das defesas que todos nós construímos como resultado das vacinas que recebemos desde o início deste ano", afirmou em entrevista à BBC.

A Pfizer anunciou que levaria cerca de 100 dias para desenvolver e produzir uma vacina sob medida para a nova variante do coronavírus, caso necessário. Um porta-voz da farmacêutica informou que a empresa já está estudando a B.1.1.529 e deve divulgar os primeiros dados "em no máximo duas semanas".

Hoje, os especialistas da OMS se reúnem para discutir a nova variante e definir um nome, mas a agência adiantou que demorará "várias semanas" para entender melhor o impacto da cepa e determinar sua virulência.

A variante B.1.1.529 tem um número "extremamente alto" de mutações e potencial "muito alto" de disseminação, estimou o virologista brasileiro Tulio de Oliveira, que mora na África do Sul e é diretor do Krisp, um centro especializado no estudo do coronavírus em Durban, onde foi descoberta a variante beta em 2020.

A África do Sul, que é o país mais afetado pelo vírus no continente, registrou 22 casos da variante, principalmente em jovens. Em todo o continente africano, apenas 7% dos 1,3 bilhão de habitantes estão totalmente vacinados.

Agora, a Europa se apressa para bloquear as fronteiras e impedir o avanço da variante, mas um epidemiologista da Universidade de Hong Kong disse que já pode ser tarde demais para endurecer as restrições de viagem.

Temos que admitir que muito provavelmente este vírus já está em outros lugares. Então, se não fecharmos a porta agora, provavelmente será tarde demais.
Ben Cowling, epidemiologista da Universidade de Hong Kong

O coronavírus provocou mais de 5,16 milhões de mortes em todo o mundo desde que foi descoberto na China no final de 2019, embora a OMS considere que os números reais podem ser muito maiores.

Europa fecha fronteira, mas Brasil resiste

Autoridades globais reagiram com alarme à nova variante do coronavírus detectada na África do Sul. União Europeia e Reino Unido anunciaram controles de fronteira mais rigorosos, enquanto cientistas tentam determinar se a mutação é resistente a vacinas.

O Reino Unido pediu que os britânicos que estejam voltando da África e de locais próximos entrem em quarentena.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, recomendou hoje a suspensão de todos os voos para países afetados da África e citou um "freio de emergência" a ser que implementado na União Europeia.

Segundo ela, a medida ajudará a "limitar a disseminação" da variante. França, Itália e Alemanha já anunciaram restrições para viagens. A Europa, que já superou 1,5 milhão de mortos na pandemia, vive há semanas um preocupante aumento dos casos de covid-19.

A Índia também proibirá voos da África do Sul e de países vizinhos. Nos Estados Unidos, o infectologista e conselheiro da Casa Branca, Anthony Fauci, disse que é necessário ter mais informação sobre a nova variante antes de determinar bloqueios.

No Brasil, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) publicou uma nota técnica, hoje, recomendando que o governo adote medidas de restrição para viajantes e voos vindos de seis países da África em razão da identificação da nova variante no continente, mas o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) descartou a implantação de de barreiras sanitárias.

Hoje, em conversa com apoiadores, Bolsonaro afirmou "que está vindo uma nova onda de covid", mas rebateu a sugestão de um apoiador para o "fechamento" de aeroportos do Brasil.

"Tem que aprender a conviver com o vírus", repetiu o presidente, que classificou a sugestão do apoiador como "loucura".

No programa UOL News, o presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, explicou que não é possível deter a variante, mas que dá para atrasar a sua entrada no Brasil. "Vamos tentar retardar, diminuir, fazer com que chegue em menor número".

Em nota técnica a estados e municípios hoje, o Ministério da Saúde recomendou que se aumente a testagem e o rastreamento de contato de pessoas com contato com áreas de risco e se notifique imediatamente casos suspeitos.

O Brasil registrou 613.697 mortes por covid-19 desde o início da pandemia, em março de 2020. Os dados foram obtidos pelo consórcio de veículos de imprensa, do qual o UOL faz parte, junto às secretarias estaduais de Saúde.

Bolsas de todo o mundo caem com temor

As Bolsas de todo o mundo registram perdas hoje diante do temor pela descoberta da nova variante do coronavírus na África do Sul. No Brasil, a Bolsa abriu estável, mas chegou a cair 3,89%, seguindo a tendência do mercado global.

Na B3, as ações que mais caíram estão relacionadas ao mercado do turismo. Às 13h17, os papéis da Gol (GOLL4) caíam 13,9%, os da Azul (AZUL4), 12,85%, os da CVC (CVCB3), 12,49% e os da Embraer (EMBR3), 9,89%.

As principais Bolsas da Europa não escaparam da tendência e iniciaram o dia com quedas expressivas. O STOXX 600, um índice que reúne informações de 17 países europeus, já abriu em queda e às 17h30 (horário local) caía 3,72%.

Nos Estados Unidos, os índices abriram em forte queda hoje após o feriado de Ação de Graças. Os papéis de viagens, bancos e commodities liderando as perdas.

*Com Reuters e AFP