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Luana Araújo: Ômicron no país só foi identificada por iniciativa individual

Colaboração para o UOL, no Rio

01/12/2021 09h11Atualizada em 01/12/2021 10h05

A infectologista Luana Araújo fez, no UOL News desta manhã, um alerta sobre a identificação dos primeiros casos da variante ômicron do novo coronavírus no Brasil. Em entrevista à apresentadora do Canal UOL Fabíola Cidral, ela viu com preocupação o fato do exame que detectou a nova cepa no país ter sido feito por iniciativa dos infectados e não em uma testagem de rotina.

Os dois primeiros casos da ômicron no Brasil foram registrados em São Paulo em um casal que vive na África do Sul e tentava retornar ao país no dia 25 de novembro pelo Aeroporto de Guarulhos. O homem, de 41 anos, e a mulher, 37, procuraram o laboratório localizado no aeroporto, quando testaram positivo para a covid-19. Eles chegaram ao Brasil no dia 23.

"O que me deixa muito aflita, e imagino que deixe muitas outras pessoas aflitas, é o fato de esse caso só ter sido identificado, assim como outros que estão em suspeição e estão sendo acompanhados, por iniciativas individuais. São iniciativas dos pacientes", afirmou Luana.

Covid-19: o que se sabe até agora sobre a variante ômicron

A médica disse que "não existe uma política de saúde pública" de testagem em massa no Brasil. Para ela, o país vive "um dia da marmota, aquela coisa que se repete e repete, e a gente não consegue sair do lugar".

A gente precisa ter muita parcimônia, não só quando fala da variante, mas quando fala inclusive o número de casos no Brasil. É claro que os números mostram que isso caiu, a vida real mostra que isso caiu, mas quando a gente menos testa, menos a gente sabe o que está acontecendo. E esse é o momento de fundamental testagem exatamente para compreender a eventualidade de emergência de uma variante nova, entender a repercussão epidemiológica disso
Luana Araújo

Comprovante de vacinação

Luana diz ser "fundamental" o Brasil exigir o comprovante vacinal de quem entra no país, seja pelos aeroportos ou pelas fronteiras terrestres. A medida ainda não foi adotada pelo governo federal, apesar da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) defender o contrário.

"A gente faz isso para a febre amarela, não é novidade para ninguém... Inexiste vontade política de colocar isso em prática, porque isso mostraria que a gente precisa mudar muita coisa na política de saúde pública de condução da pandemia, coisa que nunca aconteceu... Cientificamente a gente não tem absolutamente nenhuma razão para não fazer isso. Em termos de política de saúde pública não existe razão para não fazer, uma vez que o mundo inteiro faz. Há precedentes no próprio país. As razões que seriam óbvias inexistem", afirmou a médica.

Ainda no UOL News desta manhã, o sanitarista e fundador e ex-presidente da Anvisa Gonçalo Vecina também defendeu a exigência do comprovante vacinal para quem chega ao país. Ele afirmou que a medida deveria ser feita juntamente com a testagem, e voltou a criticar o fechamento das fronteiras para países africanos por causa da ômicron.

Fechar o país não é o caminho. O caminho correto seria ter um sistema de vigilância em fronteiras com exames de identificação do vírus e capacidade de realização posterior de quarentena e segmento de pessoas que fossem contatadas, que estaríamos identificando se foram ou não infectadas
Gonzalo Vecina

Réveillon e Carnaval

Tanto Luana quanto Vecina defenderam a suspensão das festas de fim de ano, como Natal e o Réveillon, e a realização do Carnaval do ano que vem. Até o momento, pelo menos dez capitais e o Distrito Federal cancelaram a comemoração de virada do ano. Já o evento de fevereiro enfrenta maior resistência pelas cidades.

"Sou contra quaisquer uma dessas festas, seja esta agora do Réveillon, Natal, etc, seja a do Carnaval. Apesar de estar distante, não sei como vai ser o futuro. Para tomar uma decisão hoje é não", disse Vecina.

Os dois especialistas dizem ser difícil controlar o acesso de pessoas imunizadas a eventos como esses. Luana ainda destaca a diferença na cobertura vacinal entre as cidades.

Essa disparidade da cobertura vacinal que a gente está falando é que leva a essa conclusão. Nesse momento não tem lógica, principalmente na sombra da emergência de um outro problema. A partir da ômicron, por exemplo, não tem razão de na maior parte do país se fazer qualquer tipo de festa neste sentido
Luana Araújo