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Anvisa repudia fala de Bolsonaro e diz que trabalha pautada na ciência

Do UOL, em São Paulo

17/12/2021 13h20Atualizada em 17/12/2021 13h49

A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) divulgou hoje uma nota repudiando ameaças ao trabalho do órgão, após o presidente Jair Bolsonaro (PL) dizer que iria pedir os nomes dos responsáveis pela decisão de autorizar a vacina da Pfizer contra a covid-19 para crianças de cinco a 11 anos.

No comunicado, a agência diz que suas decisões em relação à análise de vacinas são pautadas na ciência e que "seu ambiente de trabalho é isento de pressões internas e avesso a pressões externas."

A Anvisa está sempre pronta a atender demandas por informações, mas repudia e repele com veemência qualquer ameaça, explicita ou velada que venha constranger, intimidar ou comprometer o livre exercício das atividades regulatórias e o sustento de nossas vidas e famílias: o nosso trabalho, que é proteger a saúde do cidadão Trecho de nota divulgada pela Anvisa

A nota acrescenta que todas as resoluções do órgão "estão direta ou indiretamente atreladas ao nome de todos os nossos servidores, de um modo ou de outro".

No comunicado, a Anvisa relembrou ainda o episódio em que seus diretos foram alvos de ameaças de morte em razão da possibilidade de incluir o público infantil na campanha de imunização contra a covid e afirmou que se encontra "no foco e no alvo do ativismo político violento".

A nota é assinada pelo diretor-presidente do órgão, Antonio Barra Torres, e por quatro diretores — Meiruze Sousa Freitas, Cristiane Rose Jourdan Gomes, Romison Rodrigues Mota e Alex Machado Campos.

Ontem, em sua tradicional live semanal, Bolsonaro voltou a criticar a exigência de vacinação e o passaporte sanitário, e disse que avaliaria com a primeira-dama Michelle se vai ou não imunizar a filha Laura, de 11 anos.

"Eu pedi extraoficialmente o nome das pessoas que aprovaram a vacina para 5 a 11 anos. Nós queremos divulgar o nome dessas pessoas", afirmou Bolsonaro. "A responsabilidade é de cada um. Mas agora mexe com as crianças, então quem é responsável por olhar as crianças é você, pai. Eu tenho uma filha de 11 anos de idade e vou estudar com a minha esposa bastante isso aqui."

A decisão da Anvisa de liberar o imunizante da Pfizer para o público infantil foi anunciada ontem pela manhã. Os técnicos da agência analisaram um estudo feito com 2.250 crianças, divididas em dois grupos. Dois terços tomaram vacina e um terço tomou placebo (substância que não tem efeito no organismo) em um esquema de duas doses, com intervalo de 21 dias.

A pesquisa comprovou que o imunizante é seguro e eficaz, com benefícios que superam os riscos.

O Ministério da Saúde, no entanto, ainda não decidiu se vai comprar vacinas para crianças. Mesmo com aval da Anvisa, cabe ao governo federal fazer a compra das doses pediátricas e decidir sobre sua inclusão no PNI (Programa Nacional de Imunização).

Questionado pelo UOL sobre quando pretende comprar as vacinas aprovadas ontem pela agência reguladora, o ministério respondeu em nota que ainda "analisará a decisão da Anvisa sobre o uso de vacinas da Pfizer em crianças de 5 a 11 anos na Campanha Nacional de Vacinação contra a Covid-19".

Hoje, o ministro Marcelo Queiroga afirmou que não é consensual a vacinação nesta faixa etária, e destacou que a pasta quer discutir o assunto de maneira aprofundada. A Pfizer informou que não há prazo de entrega ao Brasil para as doses pediátricas do imunizante.

Associação classifica fala como 'método fascista'

A Univisa (Associação dos Servidores da Agência Nacional de Vigilância Sanitária) divulgou uma nota de repúdio ao que classificou como "tentativas de intimidação ao corpo técnico" do órgão após a fala do presidente.

"A intenção de se divulgar a identidade dos envolvidos na análise técnica não traz consigo qualquer interesse republicano. Antes, mostra-se como ameaça de retaliação que, não encontrando meios institucionais para fazê-lo, vale-se da incitação ao cidadão, método abertamente fascista e cujos resultados podem ser trágicos e violentos, colocando em risco a vida e a integridade física de servidores da Agência", diz trecho do comunicado.

Já o gerente geral de Medicamentos da Anvisa, Gustavo Mendes, disse, no UOL News desta manhã, não ver preocupação sobre a possível divulgação dos nomes dos responsáveis pela aprovação.

"Meu nome sai na resolução que aprova (o uso da vacina da Pfizer em crianças), já está publico isso, é de fácil acesso. Me sinto muito tranquilo, porque quando aceitei o desafio de ser gerente geral de Medicamentos sabia que esse tipo de decisão era parte do meu trabalho. Como tenho respaldo da equipe técnica, a segurança de que fizemos um trabalho que foi amplamente discutido, me sinto muito tranquilo sobre essa situação", disse ele.

Veja abaixo o comunicado na íntegra divulgado pela Anvisa:

Em relação às declarações do Sr. Presidente da República durante "Live" em mídia social no dia 16 de dezembro de 2021 a Agência 'Nacional de Vigilância Sanitária comunica:

A Anvisa, órgão do Estado Brasileiro, vem a público informar que seu ambiente de trabalho é isento de pressões internas e avesso a pressões externas.

O serviço público aqui realizado, no que se refere à análise vacinal, é pautado na ciência e oferece ao Ministério da Saúde, o Gestor do Plano Nacional de Imunização - PNI, opções seguras, eficazes e de qualidade.

Em outubro do corrente ano, após sofrer ameaças de morte e de toda a sorte de atos criminosos, por parte de agentes antivacina, no escopo da vacinação para crianças, esta Agência Nacional se encontra no foco e no alvo do ativismo político violento.

A Anvisa é líder de transparência em atos administrativos e todas as suas resoluções estão direta ou indiretamente atreladas ao nome de todos os nossos servidores, de um modo ou de outro.

A Anvisa está sempre pronta a atender demandas por informações, mas repudia e repele com veemência qualquer ameaça, explicita ou velada que venha constranger, intimidar ou comprometer o livre exercício das atividades regulatórias e o sustento de nossas vidas e famílias: o nosso trabalho, que é proteger a saúde do cidadão.