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Com vacinação alta, novembro tem 94% menos mortes que pico de covid no país

Prefeitura de São Paulo chegou a ter sepultamentos noturnos em abril - Robson Rocha/Agência F8/Estadão Conteúdo
Prefeitura de São Paulo chegou a ter sepultamentos noturnos em abril Imagem: Robson Rocha/Agência F8/Estadão Conteúdo

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Maceió

17/12/2021 04h00Atualizada em 17/12/2021 10h32

Dados dos cartórios de registro civil do Brasil mostram que o mês de novembro foi o oitavo seguido com queda no número de mortes por covid-19. Até ontem, haviam sido registrados 4.827 óbitos pela doença no mês, uma queda de 41,6% em relação a outubro e 94% em relação a março, mês de pico da pandemia no país.

Os dados constam do portal da transparência da Arpen Brasil (Associação dos Registradores de Pessoas Naturais), que traz dados atualizados sobre óbitos no Brasil.

A queda de novembro se torna ainda mais relevante porque, em 2020, foi nesse mesmo mês que houve o fim da inflexão da curva de queda e começou uma nova alta de óbitos de covid-19 no Brasil.

Veja o número de mortos por covid-19 no Brasil por mês:

2020:

  • Março - 726
  • Abril - 10.167
  • Maio - 28.796
  • Junho - 27.677
  • Julho - 30.156
  • Agosto - 26.736
  • Setembro - 19.403
  • Outubro - 14.811
  • Novembro - 14.666
  • Dezembro - 26.824

2021:

  • Janeiro - 32.411
  • Fevereiro - 30.363
  • Março - 83.074
  • Abril - 77.529
  • Maio - 56.394
  • Junho - 49.633
  • Julho - 28.750
  • Agosto - 18.254
  • Setembro - 12.328
  • Outubro - 8.263
  • Novembro - 4.827

Os números dos meses mais recentes ainda podem sofrer alterações para mais por causa de inserções tardias feitas por cartórios no sistema. Entretanto, como o prazo para atualização de dados é de até 15 dias, as mudanças serão em número pouco expressivo.

Diferentemente dos dados do consórcio de imprensa —que atualiza dados pelas datas de confirmação de óbitos das Secretarias estaduais de Saúde—, as mortes registradas pelos cartórios são cadastradas pelo dia de óbito, ou seja, não incluem dados anteriores.

A média móvel diária de mortes pela covid-19 no país segue abaixo de 200 há 13 dias.

Vacina salva

O cenário com menos mortes é fruto direto do avanço da vacinação no país. "Os idosos foram vacinados primeiro, e eram as pessoas que tinham maior taxa de mortalidade. Então é normal que, ali por abril, maio, tivéssemos essa redução. Atribui-se, sem dúvida, à eficácia das vacinas", explica o doutor em epidemiologia e professor Paulo Petry, da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul).

No final de novembro, todas as faixas etárias acima de 40 anos estavam com pelo menos 80% do público-alvo imunizado com duas doses ou dose única (no caso da Janssen). Por isso Petry afirma que, para que essas mortes caiam a patamares mínimos, é necessário que as pessoas mantenham o uso de máscaras e evitem aglomerações.

Precisamos de um pouquinho mais de paciência. Estamos no caminho de encerramento da pandemia para que a doença se torne endêmica, ou seja: o vírus não vai desaparecer, mas não vai causar mais a mortalidade que já causou."
Paulo Petry, da UFRGS

18.jan.2021 - A enfermeira Monica Calazans foi a primeira vacinada no país - Eduardo Anizelli/Folhapress - Eduardo Anizelli/Folhapress
18.jan.2021 - A enfermeira Monica Calazans foi a primeira vacinada no país
Imagem: Eduardo Anizelli/Folhapress

Por conta dessa queda no número de óbitos, desde o final de outubro a covid-19 deixou de ser a doença que mais mata no país, perdendo lugar para os AVCs (acidentes vasculares cerebrais) e infartos. No pico da pandemia, entre março e abril, houve semanas em que a covid-19 respondeu por mais de 50% dos óbitos no país.

"O Brasil vive uma condição particular no mundo, com estabilidade nos indicadores de incidência da covid-19, enquanto outros países, principalmente na Europa, apresentam uma alta na incidência de novos casos", afirma o último Boletim Covid-19 da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz).

Entretanto, o documento pontua que o país parece ter alcançado uma estabilidade na média de mortes. "Há uma média diária de 9.000 casos e 210 óbitos no país. Isto representa um discreto aumento em relação às semanas anteriores. Temos 24 unidades da federação com manutenção, uma com aumento e duas com redução dos casos", diz.

Com a introdução da variante ômicron e a proximidade das festas de Natal, a Fiocruz alerta que o momento exige um esforço ainda maior das autoridades para ampliar a cobertura vacinal.

Em paralelo, ratificamos a importância de outras medidas de prevenção da covid-19, como a exigência do passaporte vacinal em locais públicos e de trabalho, o controle da situação vacinal e testagem de viajantes que chegam e transitam no país; o uso de máscara em ambientes abertos com aglomeração, ambientes fechados públicos; o distanciamento físico; e a higiene constante das mãos."
Fiocruz

Em 2020, a covid-19 foi a principal causa de morte e fez o Brasil bater recorde de óbitos em um ano.

Com a segunda onda ainda mais devastadora, o número de mortos do país neste ano já foi batido em outubro, e 2021 vai fechar com um novo patamar de óbitos —até ontem eram 1.662.262 certidões de óbito cadastradas no sistema da Arpen.