Retardar acesso de crianças a vacinas é incompreensível, diz infectologista
O presidente do departamento de infectologia da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria), Marco Aurélio Sáfadi, disse considerar "incompreensível" que o Ministério da Saúde atue de forma a retardar o acesso da população às vacinas contra o coronavírus. Sáfadi comentou a possibilidade de o presidente Jair Bolsonaro (PL) impedir que crianças de 5 a 11 anos recebam a dose da vacina da Pfizer, que foi autorizada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) na semana passada. O governo federal quer realizar uma audiência pública sobre o assunto.
Em entrevista à CNN Brasil, Sáfadi disse haver "entendimento por partes de todas as sociedades científicas" de que existe a necessidade de estender o benefício da vacinação também às crianças. Para ele, é necessário compreender que as vacinas têm o papel de "proteger das formas graves da doença" e que o "atraso na tomada de decisões tem um risco, um preço".
Para o infectologista, a iniciativa do Ministério da Saúde, sob o comando de Marcelo Queiroga, de querer uma audiência pública para ouvir os brasileiros a respeito desse assunto, já foi respondida com a ampla adesão à aplicação do imunizante em adolescentes. Portanto, ele afirma que "retardar o acesso da população ao benefício da vacina é incompreensível".
Não consigo imaginar que isso aconteça. Por mais que existam obstáculos, tenho certeza que eles não terão sucesso, e eu pauto a minha fala exatamente no que a gente viveu até agora em relação ao que a vacina proporciona. A própria adesão da população à vacinação dos adolescentes já mostra de forma muito clara aquilo que o Ministério está querendo ouvir: Ele quer saber o que a população pensa sobre a vacinação das crianças. Basta olhar a adesão que tivemos da vacinação nos adolescentes e o que isso representou em termos de prevenção de casos, hospitalizações e mortes. Insistir nesse tipo de cenário para a tomada de decisões me parece algo insensato. É louvável entender a população, mas retardar o acesso da população ao benefício da vacina é, na minha opinião, incompreensível"
Na entrevista, Marco Aurélio Sáfadi disse haver "dados inquestionáveis" de que "nenhuma doença hoje no Brasil acomete mais crianças de forma grave como a covid-19" e "nenhuma outra doença passível de prevenção por vacinas vitimou tantas crianças brasileiras como a covid".
"Então é prioritária a vacinação desse grupo etário. É difícil compreender a necessidade de uma audiência pública. Não há dúvidas de que a população brasileira quer a vacinação para os seus filhos, ela é importante. Aqueles que eventualmente não se sentirem ainda seguros em utilizar a vacina, a gente respeita essa decisão, mas isso em absoluto não pode significar o atraso da oferta àqueles que precisam dela, crianças que fazem parte do grupo de risco e precisam ser protegidas, sobretudo diante da chegada de uma variante mais transmissível", declarou, ressaltando o perigo da variante ômicron, que se espalha de forma mais rápida pela população.
Por fim, o infectologista disse que a dose da vacina da Pfizer a ser utilizada nas crianças de 5 a 11 anos não é a mesma aplicada nos adolescentes e na população adulta, e ressaltou que o imunizante ainda não está disponível no país. "Existe necessidade de negociação com o laboratório para a aquisição", completou.
Secretário de Saúde de SP critica demora
Ontem, secretário de Saúde do estado de São Paulo, Jean Gorinchteyn, criticou a demora para iniciar a vacinação de crianças, classificada por ele como uma "falta técnica grave". Ele criticou a decisão do Ministério da Saúde de adiar a proposta sobre a imunização do público infantil para janeiro.
Gorinchteyn ressaltou que a imunização desse grupo foi bem recebida por especialistas e sociedades médicas, que reconhecem a importância da proteção para crianças.
A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) autorizou a inclusão deste grupo no calendário vacinal na última quinta-feira (15). Mas ainda não há previsão para o início da campanha para o público infantil.
O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, disse que a pasta fará uma audiência pública em 4 de janeiro de 2022 para discutir a imunização das crianças. O resultado da decisão será divulgado no dia 5.
STF dá 48 horas para inclusão de crianças no PNI
Na sexta-feira (16), o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Ricardo Lewandowski deu um prazo de 48 horas para que o governo federal apresente a complementação do PNI para incluir as crianças, com detalhes sobre o início e o fim da campanha de vacinação.
O cronograma deve viabilizar "a cobertura vacinal adequada de toda a população infantil antes da retomada das aulas, bem como a previsão de um dia nacional (Dia D) para vacinação, ou mesmo a designação de possíveis datas para a realização de grandes mutirões de incentivo e vacinação".
A decisão atende a uma ação movida pelo PT, que citou a posição favorável da Anvisa à vacinação de crianças contra a covid-19, anunciada na última quinta-feira (16).
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