Chefe da Anvisa cita número 'macabro' de mortes e cobra vacina a crianças
O diretor-presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Antonio Barra Torres, cobrou explicações do Ministério da Saúde pela demora em iniciar a vacinação contra a covid-19 de crianças de 5 a 11 anos, já autorizada pela agência há uma semana. Para Barra Torres, a pasta deve dizer por que escolhe atrasar a campanha enquanto o país registra "estatística macabra" de mortes nessa faixa etária.
"Nós temos 301 crianças mortas na faixa de 5 a 11 anos desde que a covid-19 começou até o início de dezembro. Nestes 21 meses, numa matemática simples, nós temos um pouquinho mais de 14 mortes de crianças ao mês, praticamente uma a cada dois dias. Então acho que essa informação à sociedade se faz necessária", disse o chefe da Anvisa em entrevista ao jornal O Globo.
Ele também criticou a opção do Ministério da Saúde por abrir uma consulta pública sobre o tema e só divulgar a decisão final em 5 de janeiro de 2022 — 20 dias depois de a Anvisa ter liberado a vacinação de crianças contra a covid-19.
"Quais são as entidades que já se manifestaram pela qualidade, segurança e eficácia dessas vacinas? A Anvisa (...), o Conass [Conselho Nacional de Secretários de Saúde], o Conasems [Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde] e também a própria Câmara Técnica de assessoramento do Ministério da Saúde, a CTAI. Então qual será a entidade científica que falta ser consultada neste país?", questionou.
Entendo que o Ministério precisa apresentar à sociedade a justificativa do porquê de nós mantermos inalterada uma estatística macabra [de mortes de crianças]. (...) Essa vacina é usada no mundo inteiro. No dia de hoje, são mais de 7 milhões de doses aplicadas. (...) Então são perguntas que, na verdade, não dizem respeito ao regulador [Anvisa]. As perguntas que acabei de fazer são perguntas como cidadão.
Antonio Barra Torres, ao Globo
A vacinação de crianças entre 5 e 11 anos com o imunizante da Pfizer foi liberada pela Anvisa há uma semana, no último dia 16. Para a tomada de decisão, a agência analisou um estudo feito com 2.250 crianças que comprovou que o imunizante é seguro e eficaz, com benefícios que superam os riscos.
Não há previsão para o início da campanha para o público infantil, uma vez que o Ministério da Saúde não comprou doses pediátricas da vacina. Em nota divulgada na semana passada, a Pfizer informou que o contrato para fornecimento de 100 milhões de doses em 2022 inclui a possibilidade de entrega das versões modificadas, mas o envio depende de um pedido do governo brasileiro.
Ameaças de morte
Em outubro, a possibilidade de incluir o público infantil na campanha de vacinação contra a covid-19 já havia motivado ameaças de morte a diretores da Anvisa. Segundo Barra Torres, as intimidações são uma "clara tentativa" de interferência no trabalho da agência e são estimuladas nas redes sociais, inclusive, pelo presidente Jair Bolsonaro (PL).
"Nós já temos mais de 170 ameaças compiladas", contou ao Globo. "Há postagens dizendo: 'Não mexam com nossas crianças'. Nós não estamos mexendo com criança alguma, nós estamos fazendo o trabalho de analisar documentos e dizer se eles estão ou não atingindo os níveis necessários. Essas pessoas estão, sim, interferindo de maneira muito ruim no trabalho da agência, estimulados por uma série de informações veiculadas [nas redes]."
Nós temos declarações muito infelizes do senhor presidente da República nesse sentido. Tivemos uma em 16 de dezembro, que foi o pedido quanto aos nomes de envolvidos [na aprovação da vacina para crianças]. A frase em si, se retirada do contexto, pode parecer apenas o exercício do supremo mandatário do país, livre direito, de solicitar a informação que julgar necessária. Mas, quando essa frase é colocada no contexto, na entonação e em tudo o que foi dito naquela mesma live, se entende que a intenção não era essa.
Antonio Barra Torres, ao Globo
No último domingo (19), em nota, a Anvisa informou que as ameaças de violência se intensificaram e, por isso, enviou ofícios ao GSI (Gabinete de Segurança Institucional), ao Ministério da Justiça, à PGR (Procuradoria-Geral da República) e à Polícia Federal pedindo proteção aos membros da agência, além de novas investigações.
A demanda foi feita na sexta-feira (17). Até agora, seis dias depois, a PF ainda não decidiu se vai ou não oferecer proteção aos servidores ameaçados, segundo apurado pelo UOL.
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