Aviação síria efetua ataques de violência sem precedentes
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Sana Handout/EFE
Pessoas se reúnem ao redor do local onde um carro bomba explodiu, em Jaramana, próximo a Damasco
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DAMASCO, 29 Out 2012 (AFP) -A aviação síria efetuou nesta segunda-feira (29) os ataques mais violentos desde que entrou em ação no conflito no país, enquanto o mediador internacional, Lakhdar Brahimi, se rendeu à evidência de que a situação apenas piorou.
"Houve mais de 60 ataques durante o dia em todo o país, principalmente nas regiões de Damasco e Idleb (noroeste). É a utilização mais violenta de caças-bombardeiros desde a entrada da aviação nos combates" no final de julho, afirmou Rami Abdel Rahman, diretor do Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).
"O regime tenta ganhar terreno. Há combates em todas as regiões visadas por esses ataques", acrescentou.
Segundo um registro provisório do OSDH, a violência deixou pelo menos 80 mortos -- 33 civis, 28 soldados e 19 rebeldes -- nesta segunda-feira em todo o país.
Cessar-fogo foi ignorado
Desde sexta-feira (26), data em que o Exército e rebeldes se comprometeram a interromper os combates durante os quatro dias da festa muçulmana do Eid al-Adha, mais de 400 pessoas morreram.
Dois atentados foram registrados em Damasco e em sua periferia, deixando pelo menos onze mortos e dezenas de feridos.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, manifestou sua "profunda decepção" com o fracasso e exortou o Conselho de Segurança da ONU, os Estados influentes do Oriente Médio e todas as partes envolvidas a "trabalhar por um cessar-fogo".
Afirmando que os rebeldes tinham violado "a trégua declarada", efetuando novos ataques, o Exército sírio indicou nesta segunda-feira, em um comunicado, que pretende continuar a "cumprir seu dever constitucional de defender a nação e de esmagar o terrorismo, com o objetivo de restaurar a segurança e a estabilidade em cada centímetro quadrado" do país.
Segundo uma jornalista da AFP, os bombardeios foram tão intensos durante duas horas nesta segunda-feira de manhã que os vidros dos apartamentos tremiam no centro de Damasco.
Os bombardeios tiveram como alvo principalmente as fazendas de Harasta, no subúrbio nordeste de Damasco, indicou o OSDH, com sede no Reino Unido.
Em outro episódio de violência, a artilharia também bombardeou Douma, onde três civis morreram, e vilarejos nas imediações, segundo o OSDH.
"Esses ataques aéreos em terras agrícolas e nos pomares das imediações visam a impedir que os rebeldes se reagrupem nessas áreas e tentem reforçar suas posições", explicou uma fonte de segurança em Damasco.
Atentado perto de uma padaria
Na periferia de Damasco, um atentado com carro-bomba perto de uma padaria em Jaramana deixou 11 mortos, incluindo mulheres e crianças, segundo a rede de televisão oficial síria, que exibiu em suas imagens prédios destruídos.
Esta localidade favorável ao regime de Bashar Assad, onde vivem principalmente cristãos e drusos, já havia sido atingida por dois atentados com carros-bomba, em 28 de agosto e em 3 de setembro, que haviam deixado no total 32 mortos, segundo o OSDH.
De acordo com a rede de televisão oficial, um outro atentado com carro-bomba deixou um número ainda indeterminado de vítimas nesta segunda-feira em Hajar al Aswad, bairro no sul da capital do qual Exército e rebeldes disputam o controle.
Em uma carta publicada nesta segunda-feira, o Ministério sírio das Relações Exteriores queixou-se do Conselho de Segurança da ONU por seu silêncio no atentado com carro-bomba que deixou pelo menos oito mortos na sexta-feira à tarde em um bairro do sul de Damasco.
"A incapacidade do Conselho de condenar este ataque estimulou os terroristas a continuarem com seus crimes", considera o ministério.
Em Aleppo (norte), os rebeldes tentam desde sábado de tomar o bairro de Zahra, onde fica situada a sede dos temíveis serviços de inteligência da Aviação, de acordo com seus moradores.
Mediador internacional fala em guerra civil
"A crise é muito perigosa, a situação vai de mal a pior", considerou Brahimi, em visita a Moscou para consultas com o ministro russo das Relações Exteriores Serguei Lavrov, aliado de Damasco.
"Se isto não é uma guerra civil, não sei o que é. Toda a comunidade internacional deve se unir para ajudas o povo sírio a encontrar uma saída para esta crise", acrescentou o mediador da ONU e da Liga Árabe.
Lavrov também se mostrou pessimista: "Eles se enfrentam cada vez mais na Síria (...). O objetivo para todos os sírios é suspender os confrontos e ir à mesa de negociações".
A chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, lamentou nesta segunda-feira em um comunicado a retomada da violência, desejando que "as partes possam chegar a um acordo e respeitas um futuro cessar-fogo que sirva de base para um processo político".