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Kellyanne Conway, a voz mais séria do 'trumpismo', agora na Casa Branca

22/12/2016 17h54

Nova York, 22 dez 2016 (AFP) - Eficaz e persuasiva, Kellyanne Conway, a loira estrategista republicana que conseguiu levar Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, será a mulher com mais poder na Casa Branca.

Magra, elegante e mãe de quatro filhos, Conway, de 49, fundou há alguns anos seu próprio instituto de pesquisa e foi a primeira mulher a dirigir uma campanha à presidência vitoriosa. A partir de 20 de janeiro, será uma "conselheira próxima" de Trump, anunciou a equipe de transição do presidente eleito, em nota divulgada nesta quinta-feira (22).

Conway "conservará na Casa Branca seu papel de assessora próxima do presidente e trabalhará com funcionários de alto perfil para aprovar e aplicar eficazmente as prioridades legislativas e as iniciativas do governo", explicou o comunicado.

O próprio Trump lembrou nesta quinta-feira que Kellyanne Conway "é uma assessora e estrategista de confiança, que desempenhou um papel determinante na vitória".

"Defende meu programa sem descanso e com tenacidade e sabe comunicar nossa mensagem muito bem, de maneira eficaz. Estou feliz que seja parte da minha equipe principal na Ala Oeste" da Casa Branca, acrescentou.

Conway disse à rede CNN que seu novo emprego "possivelmente" incluirá assessoria "na comunicação, análise de dados e estratégia".

Será uma das poucas mulheres em um gabinete formado majoritariamente por homens brancos e milionários.

Os ouvidos de TrumpConway "será os ouvidos do presidente", porque sua poderosa posição lhe permitirá assessorá-lo em todos os temas que quiser, explicou à AFP o diretor-adjunto do Instituto de Pesquisa da Quinnipiac University, Peter A. Brown.

"Tentará influir nele na direção que quiser. Não é uma coincidência que Mitt Romney não tenha sido designado como secretário de Estado. Ela se opôs abertamente a essa nomeação", lembrou Brown, citando o ex-inimigo de Trump nas prévias republicanas.

Na campanha, Romney chegou a dizer que o então candidato era um "charlatão" e uma "fraude".

"Não necessariamente Trump faz tudo o que ela diz, mas certamente a escuta", acrescentou.

Essa especialista em pesquisas, que é filha de uma mãe solteira e trabalhou em um cassino antes de entrar para a George Washington University e obter um diploma de Direito, foi fundamental para a surpreendente vitória do "outsider" republicano contra a veterana democrata Hillary Clinton.

Conway assumiu a direção da campanha na reta final, depois da saída de Corey Lewandowski, em meio às denúncias de que este último tratava mal jornalistas mulheres.

Desde que assumiu o cargo, administrou com destreza as gafes e os piores excessos de Trump, enfatizando o que era bom e relativizando o que era ruim, pedindo desculpas pelos ataques, além de reaproximar seu chefe dos pesos-pesados do Partido Republicano. Muitos deles haviam dado as costas a Trump.

Enquanto isso, ia conquistando a confiança do magnata e afagando seu ego.

Foi a voz mais séria e elegante da polêmica campanha de Trump, seu lado mais profissional. Conseguiu, inclusive, ganhar o respeito de seus críticos e a confiança da família do agora presidente, cujos filhos a adoram.

'Poker face'Ser mulher foi uma grande vantagem quando Trump foi acusado de assédio sexual por várias mulheres, comentou o professor Gabriel Kahn, da Escola Annenberg de Comunicação e Jornalismo da University of Southern California (USC).

"O fato de ter conseguido, na cara dura, ir de programa em programa de televisão explicar todas essas transgressões, inconsistências, inúmeros erros e outras coisas, isso foi uma ferramenta eficaz para fazer a loucura parecer normal", disse Kahn à AFP.

Hábil na arte da comunicação política, Conway conseguiu fazer que os escandalosos comentários de Trump "não parecessem tão horríveis, simplesmente porque é uma mulher loira e branca, atraente e articulada", completou.

Em seu primeiro discurso após a vitória eleitoral de 8 de novembro, às 3 da manhã, Kellyanne Conway foi a primeira pessoa a quem Trump agradeceu, com um beijo na bochecha, depois de sua família. Depois, quando tiraram uma foto juntos, Trump a pegou pela cintura e, sorridente, fez para ela seu "ok" característico, enquanto a estrategista saudava a multidão.

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