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Embaixador brasileiro na Venezuela volta a Caracas, em gesto de 'boa vontade'

17.mai.2017 - O ministro da Defesa, Raul Jungmann, conversa com correspondentes internacionais em Brasília - Evaristo Sa/AFP
17.mai.2017 - O ministro da Defesa, Raul Jungmann, conversa com correspondentes internacionais em Brasília Imagem: Evaristo Sa/AFP

Em Brasília

17/05/2017 18h47

O embaixador brasileiro na Venezuela, Ruy Pereira, reassume o cargo na próxima segunda-feira (22), após o congelamento das relações bilaterais em agosto de 2016, devido às críticas de Caracas ao impeachment da então presidente Dilma Rousseff - anunciou o ministro da Defesa, Raul Jungmann, nesta quarta (17).

"Na próxima segunda-feira, o embaixador do Brasil, num gesto de boa vontade do Brasil, estará reassumindo seu lugar na Venezuela", declarou Jungmann, em referência à profunda crise política, social e econômica, pela qual passa o país caribenho.

"Você não pode perder nenhuma possibilidade de ajudar na mediação", alegou, insistindo em que o Brasil deve ajudar a encontrar "canais de interlocução".

Segundo Jungmann, o Brasil passou a acolher entre 6.000 e 8.000 venezuelanos por dia.

A maioria entra e sai, cruzando a extensa fronteira comum de 2.200 quilômetros, mas outros ficam.

O fluxo de pedidos de refugio saltou de um único pedido em 2010 para 1.805 no ano passado.

Citando um trabalho acadêmico, Jungmann disse que um conflito no vizinho caribenho poderia levar ao deslocamento de até 2,5 milhões de pessoas, a maioria para a Colômbia.

"Isso dá uma ideia da preocupação que temos", afirmou.

"Tem que torcer para o melhor, mas se preparar se alguma coisa acontecer que piore a situação. E uma piora da situação significa uma pressão migratória. E aí nós temos que ter estruturas para receber, acolher essas pessoas" na fronteira, ressaltou o ministro em uma entrevista coletiva com correspondentes estrangeiros.

O Brasil prepara um plano de de contingência para uma crise migratória em sua fronteira com a Venezuela, caso o conflito político e social no vizinho se agrave, anunciou Jungmann.

O representante brasileiro em Caracas havia sido convocado para consultas no mesmo dia em que o governo venezuelano anunciou a retirada de seu embaixador e que o presidente Nicolás Maduro ordenou o congelamento dos vínculos políticos e diplomáticos.

A reação contra o impeachment, que pôs fim a um ciclo de mais de 13 anos da esquerda brasileira no poder, gerou atrito com os governos de Bolívia, Equador e Cuba, os quais se identificam com o ideal socialista.

O longo período que Caracas ficou sem um embaixador brasileiro em seu território foi definido como "uma medida diplomática incomum" por uma fonte do Ministério das Relações Exteriores (MRE).

Desde o início dos protestos contra Maduro, em 1º de abril, uma espiral de violência se formou, resultando em 42 mortes até agora. Não há sinais de que o fim desses confrontos esteja perto.

O Brasil teve um papel decisivo no processo de suspensão da Venezuela do Mercosul, ao acusá-la de não cumprir seus compromissos comerciais e políticos - entre eles a causa democrática do bloco.

Também manifestou, reiteradamente, sua preocupação com denúncias de violações dos direitos humanos e com a adoção de medidas de exceção por parte do governo.

Consultado pela AFP, um assessor do Itamaraty garantiu que o regresso do embaixador "é um tema que está em estudo, mas ainda não foi tomada nenhuma determinação a respeito". Mais cedo, o MRE havia dito não dispor de informações sobre o assunto.