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Opositores hondurenhos vão às ruas defender vitória eleitoral

15/12/2017 21h05

Tegucigalpa, 15 dez 2017 (AFP) - Simpatizantes da oposição de esquerda bloquearam nesta sexta-feira (15) as ruas em várias cidades de Honduras, apesar da repressão policial, para proclamar a vitória de seu candidato, Salvador Nasralla, nas eleições de 26 de novembro.

Na capital, os simpatizantes da Aliança Opositora contra a Ditadura, de Nasralla, ergueram barricadas com pedras e atearam fogo em pneus para bloquear as ruas.

Policiais e militares apagavam as fogueiras e removiam as barricadas para possibilitar a passagem de veículos, observaram jornalistas da AFP.

Quase três semanas depois das eleições, o Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) não proclamou um ganhador, embora o resultado final dê uma leve vantagem ao presidente Juan Orlando Hernández, de 49 anos, aspirante a reeleição pelo Partido Nacional (PN, direita).

- Veículo militar em chamas -A aliança opositora, comandada pelo ex-presidente Manuel Zelaya, convocou os protestos em todo o país para denunciar a "fraude" nas eleições e pedir que Nasralla, um apresentador de televisão de 64 anos, seja declarado presidente.

Na saída norte da capital, os manifestantes queimaram um caminhão do exército, enquanto os militares lançavam bombas de gás lacrimogênio.

O porta-voz dos bombeiros, Oscar Triminio, informou, através de redes sociais, que em Ocotepeque, nordeste, manifestantes incendiaram a sede policial e publicou fotografias do incêndio.

"Não vamos deixar que este ditador que perdeu as eleições se sente na cadeira presidencial", disse à AFP um manifestante que não se identificou, enquanto bloqueava a rua na colônia Miraflores, um setor de classe média no leste de Tegucigalpa.

"Estamos abrindo as vias para manter a calma. Eles podem protestar porque é um direito, mas de forma pacífica", disse um oficial da polícia.

Centenas de bloqueios se espalharam por todo o país. Em San Pedro Sula, a segunda cidade do país (norte), dezenas de policiais lançaram bombas de gás lacrimogêneo aos manifestantes.

Desde domingo passado o TSE - que até o dia 26 de dezembro para proclamar um ganhador-, está dedicado a resolver impugnações apresentadas por partidos de oposição para que as eleições sejam anuladas e sejam novamente convocadas.

A aliança impugnou a votação e a contagem, ao apontar que houve "alteração por dolo das atas do escrutínio" para assegurar a reeleição de Hernández.

Um grupo de intelectuais vinculados à aliança propôs um governo provisório encarregado de "uma transição ordenada".

O sacerdote jesuíta Ismael Moreno, que assinou a proposta, explicou à AFP que sua proposta é anular as eleições conforme a Carta Democrática da Organização de Estados Americanos (OEA) e nomear um governo de transição a partir de 27 de janeiro - quando vence o mandato de Hernández--, para que convoque novas eleições.

Este governo de transição convocaria previamente um plebiscito para decidir se mudariam cláusulas "pétreas" que proíbem a reeleição ou se Hernández poderia participar das eleições. Caso contrário, o PN teria que mudar o candidato.

- "A fraude é realidade" -Hernández se candidatou à reeleição graças a uma resolução da Sala Constitucional da Corte Suprema, que decidiu a favor de um recurso contra uma proibição estabelecida na carta magna.

O TSE deu uma vantagem a Hernández com 42,95% dos votos apurados frente a 41,42% de Nasralla. Em um primeiro resultado, com 57% dos votos contados, o TSE havia dado uma vantagem de cinco pontos a Nasralla.

Essa vantagem era considerada "irreversível", mas depois de uma série de interrupções no sistema de informática, o resultado se reverteu a favor do presidente.

Luis Zelaya, candidato do Partido Liberal (PL, direita), terceiro colocado na votação, declarou que Nasralla ganhou as eleições, segundo as atas que tem em seu poder.

"Que o Partido Nacional cometeu fraude?! É uma realidade, ninguém vai apagar isso do imaginário coletivo, o Tribunal Supremo Eleitoral perdeu toda credibilidade" - sentenciou Luis Zelaya.

O candidato liberal disse que o povo "votou contra a reeleição ilegal".

"Os protestos prejudicam a economia, mas no final o continuismo (de Hernández) prejudica mais", publicou Nasralla no Twitter.