Refugiada síria centenária sonha em voltar a ver a neta na Alemanha
Atenas, 24 dez 2017 (AFP) - "É melhor ir agora do que mais tarde", diz Laila, uma mulher nascida em 1907 na cidade síria de Kobane, que realizou a perigosa travessia do mar Egeu e agora quer viajar para a Alemanha, onde está refugiada sua neta, Nasrin.
Laila Saleh chegou sã e salva à ilha grega de Lesbos no começo de novembro, depois de cruzar o mar em um bote inflável com outras 15 pessoas.
Ela viajou levada nos ombros de seu neto Halil, de trinta anos, irmão de Nasrin. No barco também ia seu filho, Ahmad, pai de Halil, sua nora, a mulher de Halil, e seus dois filhos.
"Ficamos na fronteira entre Kobane e a Turquia durante dois dias. Foi difícil. Depois levamos dois ou três dias em ônibus para chegar a Izmir (no oeste, em frente à costa grega), onde ficamos em um hotel, esperando o sinal dos traficantes para cruzar o Egeu", conta Halil.
"Não imagina como sofremos para levantá-la e colocá-la no barco", relata Saousa, a mulher de Halil, de quem os filhos não desgrudam.
Apesar do rosto ter ficado vincado com o passar do tempo, Laila mantém um olhar vivo com o qual segue os movimentos de seus bisnetos ao redor.
Ela só conversa com a nora, que traduz para o curdo as perguntas dos jornalistas.
- 'Ver Nasrin antes de morrer' -"Não posso mais andar (...) Se tivesse um carro, gostaria de ver Nasrin antes de morrer", murmurou. Nasrin foi criada por ela e, junto com sua irmã, Berivan, fugiu de Kobane em 2015, em meio à guerra civil, e conseguiu asilo na Alemanha.
"Melhor ir agora do que depois. Deus dirá", disse.
Mas é realmente uma centenária? Pergunta difícil, já que nenhum membro de sua família sabe a data exata de seu nascimento, embora seus documentos indiquem claramente o ano de "1907".
A agência da ONU para os refugiados (Acnur) não tem dúvidas e em 1º de dezembro, "data de seu aniversário", publicou um tuíte para comemroar seus "110 anos".
"Laila Saleh, refugiada de Kobane, aos 110 anos" o "único que quer é voltar a reencontrar sua neta, Nasrin", acrescentou a Acnur.
De qualquer forma, nota-se que a mulher é bem idosa.
Perguntada sobre o segredo para sua longevidade, ela responde que é "a manteiga árabe".
Halil contou que lembra das histórias contadas por sua avó, de quando era jovem e preparava a manteiga com leite de vaca.
Laila se levanta com a ajuda da nora e consegue dar um par de passos sozinha. Sua memória lhe falta e ela perde a referência de onde está.
Felizmente, a guarda costeira detectou a embarcação e transferiu a família para o acampamento lotado de Moria, na ilha de Lesbos, conhecido pelas instalações insalubres e as penosas condições que os refugiados precisam suportar.
Laila passou a primeira noite na Grécia, sob o relento, junto com a família, antes que os trabalhadores da Acnur a instalassem com sua nora em um contêiner, um pouco mais confortável.
Depois de uma semana, foram transferidos a um apartamento em Mitilene, principal aglomeração de Lesbos, e no final de novembro, conseguiram viajar para Atenas, como parte dos refugiados mais vulneráveis.
Os demais devem permanecer na ilha, esperando a tramitação de seu pedido de asilo.
- Esperando 2019 - Kobane, uma das três principais cidades curdas, foi o primeiro símbolo da luta contra o grupo extremista Estado Islâmico (EI), expulso da zona em janeiro de 2015, após quatro meses de combates contra as forças curdas, assistidas por bombardeiros da coalizão internacional.
"Embora a situação tenha melhorado em Kobane, ali não há mais nada: nossa casa foi destruída e não tem mais trabalho", lamentou Saussa, que perdeu seu irmão durante a guerra, o mesmo destino de outros netos de Laila.
Segundo a tradição, em Kobane a mãe fica morando na casa do filho caçula, que deve se ocupar dela, explicou Ahmad.
"Há quem diga que a trouxemos para facilitar os processos de asilo, mas isso não é verdade, nós sempre vivemos juntos, não poderíamos deixá-la", afirmou.
Seus irmãs e irmãs continuam morando em Kobane.
Mas, segundo a lei, a família não tem o direito à reagrupação familiar com Nasrin, que vive na Alemanha.
E em vista da quantidade de pedidos existente, sua primeira entrevista para conseguir o asilo na Grécia está prevista para janeiro de 2019 - uma espera longa demais para Laila.
"Nós não sabemos o que fazer. Ficar ou tentar ir embora?", pergunta-se Halil.
Laila Saleh chegou sã e salva à ilha grega de Lesbos no começo de novembro, depois de cruzar o mar em um bote inflável com outras 15 pessoas.
Ela viajou levada nos ombros de seu neto Halil, de trinta anos, irmão de Nasrin. No barco também ia seu filho, Ahmad, pai de Halil, sua nora, a mulher de Halil, e seus dois filhos.
"Ficamos na fronteira entre Kobane e a Turquia durante dois dias. Foi difícil. Depois levamos dois ou três dias em ônibus para chegar a Izmir (no oeste, em frente à costa grega), onde ficamos em um hotel, esperando o sinal dos traficantes para cruzar o Egeu", conta Halil.
"Não imagina como sofremos para levantá-la e colocá-la no barco", relata Saousa, a mulher de Halil, de quem os filhos não desgrudam.
Apesar do rosto ter ficado vincado com o passar do tempo, Laila mantém um olhar vivo com o qual segue os movimentos de seus bisnetos ao redor.
Ela só conversa com a nora, que traduz para o curdo as perguntas dos jornalistas.
- 'Ver Nasrin antes de morrer' -"Não posso mais andar (...) Se tivesse um carro, gostaria de ver Nasrin antes de morrer", murmurou. Nasrin foi criada por ela e, junto com sua irmã, Berivan, fugiu de Kobane em 2015, em meio à guerra civil, e conseguiu asilo na Alemanha.
"Melhor ir agora do que depois. Deus dirá", disse.
Mas é realmente uma centenária? Pergunta difícil, já que nenhum membro de sua família sabe a data exata de seu nascimento, embora seus documentos indiquem claramente o ano de "1907".
A agência da ONU para os refugiados (Acnur) não tem dúvidas e em 1º de dezembro, "data de seu aniversário", publicou um tuíte para comemroar seus "110 anos".
"Laila Saleh, refugiada de Kobane, aos 110 anos" o "único que quer é voltar a reencontrar sua neta, Nasrin", acrescentou a Acnur.
De qualquer forma, nota-se que a mulher é bem idosa.
Perguntada sobre o segredo para sua longevidade, ela responde que é "a manteiga árabe".
Halil contou que lembra das histórias contadas por sua avó, de quando era jovem e preparava a manteiga com leite de vaca.
Laila se levanta com a ajuda da nora e consegue dar um par de passos sozinha. Sua memória lhe falta e ela perde a referência de onde está.
Felizmente, a guarda costeira detectou a embarcação e transferiu a família para o acampamento lotado de Moria, na ilha de Lesbos, conhecido pelas instalações insalubres e as penosas condições que os refugiados precisam suportar.
Laila passou a primeira noite na Grécia, sob o relento, junto com a família, antes que os trabalhadores da Acnur a instalassem com sua nora em um contêiner, um pouco mais confortável.
Depois de uma semana, foram transferidos a um apartamento em Mitilene, principal aglomeração de Lesbos, e no final de novembro, conseguiram viajar para Atenas, como parte dos refugiados mais vulneráveis.
Os demais devem permanecer na ilha, esperando a tramitação de seu pedido de asilo.
- Esperando 2019 - Kobane, uma das três principais cidades curdas, foi o primeiro símbolo da luta contra o grupo extremista Estado Islâmico (EI), expulso da zona em janeiro de 2015, após quatro meses de combates contra as forças curdas, assistidas por bombardeiros da coalizão internacional.
"Embora a situação tenha melhorado em Kobane, ali não há mais nada: nossa casa foi destruída e não tem mais trabalho", lamentou Saussa, que perdeu seu irmão durante a guerra, o mesmo destino de outros netos de Laila.
Segundo a tradição, em Kobane a mãe fica morando na casa do filho caçula, que deve se ocupar dela, explicou Ahmad.
"Há quem diga que a trouxemos para facilitar os processos de asilo, mas isso não é verdade, nós sempre vivemos juntos, não poderíamos deixá-la", afirmou.
Seus irmãs e irmãs continuam morando em Kobane.
Mas, segundo a lei, a família não tem o direito à reagrupação familiar com Nasrin, que vive na Alemanha.
E em vista da quantidade de pedidos existente, sua primeira entrevista para conseguir o asilo na Grécia está prevista para janeiro de 2019 - uma espera longa demais para Laila.
"Nós não sabemos o que fazer. Ficar ou tentar ir embora?", pergunta-se Halil.
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