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Quatro dias de manifestações no Irã

31/12/2017 19h05

Teerã, 31 dez 2017 (AFP) - País submetido durante anos a sanções internacionais por suas atividades nucleares, o Irã é palco, desde quinta-feira (28), de manifestações contra a situação econômica e contra o poder, as mais importantes nos últimos anos.

Embora o número de manifestantes tenha se limitado a algumas centenas de pessoas nos primeiros dias, esta foi a primeira vez - desde 2009 - que tantas cidades foram palco de protestos de cunho social.

Duas pessoas faleceram nos protestos, e mais de 200 foram detidas.

- Mashhad -Em 28 de dezembro, centenas de pessoas se manifestaram na segunda maior cidade do país, Mashhad (nordeste), contra a alta dos preços, contra o desemprego e contra o governo de presidente Hassan Rouhani.

Em Mashhad, 52 pessoas foram detidas. Segundo o chefe do tribunal revolucionário, citado pela agência Fars, ligada aos conservadores, essas pessoas foram detidas por gritarem "palavras de ordem severas". A maioria foi posta em liberdade, segundo a televisão estatal.

O veículo de comunicação reformista Nazar indicou que também houve manifestações, em número menor, em Yazd (sul), Sharhud (norte) e Kashmar (nordeste).

- Condenação de Washington -Em 29 de dezembro, centenas de pessoas se manifestaram em Qom (norte), gritando "Morte ao ditador" e "Libertem os presos políticos", segundo vídeos divulgados nas redes sociais. Outros manifestantes pediam ao regime que abandone seu apoio militar e financeiro aos movimentos regionais aliados para se ocupar de seu próprio povo.

O primeiro-vice-presidente iraniano, Eshaq Jahanguiri, acusou a oposição de estar por trás dos movimentos de protesto.

"Alguns incidentes no país nesses dias aconteceram sob o pretexto de problemas econômicos, mas parece que há algo mais por trás deles", afirmou.

Os Estados Unidos condenaram as detenções.

"Os dirigentes iranianos transformaram um país próspero, dotado de uma história e de uma cultura ricas, em um Estado relegado à deriva, que exporta principalmente violência, banho de sangue e caos", disse em um comunicado o Departamento de Estado.

- 'Manifestações ilegais' -Em 30 de dezembro, o regime também lançou milhares de pessoas às ruas para celebrar o aniversário da grande mobilização pró-governo que marcou o fim da contestação contra a reeleição na Presidência de Mahmud Ahmadinejad em 2009.

O ministro iraniano do Interior pediu à população que não participe de "manifestações ilegais".

"Até agora, as forças de segurança do Poder Judiciário tentaram administrá-la para que não houvesse problemas", declarou Abdolreza Rahmani Fazli.

Na metade do dia, dezenas de estudantes que se haviam se reunido na frente da Universidade de Teerã foram dispersadas pelas forças de segurança com gases lacrimogêneos. Depois, centenas de estudantes favoráveis ao governo tomaram o controle do local.

À tarde, centenas de pessoas protestaram no bairro da universidade expressando sua rejeição ao governo, antes de dispersados pela polícia.

O presidente americano, Donald Trump, reiterou suas advertências em relação ao poder iraniano, afirmando que "os regimes opressivos não podem durar para sempre".

As autoridades bloquearam durante horas os telefones celulares, amplamente utilizados pelos iranianos.

- Manifestantes mortos -Dois manifestantes morreram na madrugada de 31 de dezembro durante confrontos na cidade de Dorud (oeste), indicou o vice-governador da província de Lorestan, Habibollah Khojastehpur, assegurando que as forças de segurança não atiraram contra os manifestantes.

O governo advertiu aos manifestantes dizendo: "Aqueles que destroem os bens públicos, criam desordem e atuam na ilegalidade devem responder por seus atos e pagar o preço".

O acesso às redes sociais Telegram e Instagram de dispositivos móveis voltou a ser suspenso.

A poucas horas do Ano Novo, outros 200 manifestantes se reuniram no centro de Teerã.

De acordo com o vice-prefeito de Teerã, 200 manifestantes foram detidos no sábado na capital.

O presidente Rohani reconheceu neste domingo que o governo deve "permitir um espaço" para que a população possa expressar suas "inquietudes diárias", mas condenou "a violência e a destruição de bens públicos".