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Choque após tiroteio na Flórida (EUA) dá lugar a medidas contra porte de armas

Atirador deixa várias vítimas em competição de videogame na Flórida - Reprodução
Atirador deixa várias vítimas em competição de videogame na Flórida Imagem: Reprodução

Em Miami (EUA)

27/08/2018 19h29

Como um mal recorrente, a Flórida foi abalada no domingo (26) por mais um tiroteio em sua lista de tragédias e a sociedade americana discute, mais uma vez, a posse de armas de fogo, agora diante das eleições legislativas de novembro.

No domingo, um jovem de 24 anos atirou durante o torneio de videogames "Madden NFL 19", em um shopping de Jacksonville, nordeste da Flórida, matando duas pessoas e ferindo outras nove antes de cometer suicídio.

Em 2016, 49 pessoas morreram em Orlando. No ano seguinte, cinco faleceram em Fort Lauderdale. Em fevereiro passado, 17 perderam a vida no massacre na escola de Parkland, ao norte de Miami.

Levando-se em conta os tiroteios onde mais de quatro pessoas foram baleadas, desde o incidente em Orlando ocorreram outros 61 ataques na Flórida, segundo Gun Violence Archive.

"Temos que mudar. Realmente temos que parar e dizer: algo não vai bem", declarou no domingo o governador republicano Rick Scott.

É a primeira vez que Scott se choca com a Associação Nacional do Rifle (NRA, em inglês), o poderoso lobby que defende o livre porte de armas de fogo, mas sua posição já havia mudado após o massacre em Parkland, quando implementou medidas antipáticas aos pró-armas.

Scott aumentou de 18 para 21 a idade mínima para a compra de armas e proibiu os dispositivos que permitem que as armas semiautomáticas disparem rajadas.

Apesar de consideradas limitadas pelos ativistas contra as armas, as medidas marcaram uma mudança de paradigma em um dos estados mais permissivos nesta área.

Os promotores desta mudança foram os sobreviventes do tiroteio em Parkland, que iniciaram a campanha nacional "Marcha por Nossas Vidas".

Desde o começo do verão boreal, estes ativistas viajam por todo o país incentivando os jovens a votar no dia 6 de novembro, quando serão eleitos governadores e membros do Congresso.

"Sabemos que não haverá mudança até exigirmos isto em novembro e depois", escreveu David Hogg, um dos jovens sobreviventes de Parkland, pouco depois do tiroteio em Jacksonville.

Rebecca Heimbrock, uma estudante de Maryland de 15 anos, convocou uma manifestação para esta terça-feira (28), em Washington, diante dos gabinetes dos legisladores que recebem apoio financeiro da NRA.

"Acredito que este movimento será efetivo nas eleições e creio que os adultos estão nos ouvindo", disse Heimbrock à AFP.

Votos contra as armas

O tiroteio de Jacksonville renovou o debate, mas é preciso saber se a indignação se traduzirá em mais votos para os políticos contrários às armas.

Michael McDonald, professor associado de ciências políticas da Universidade da Flórida e especialista em eleições prevê uma maior afluência de votos de jovens motivados pelo movimento contra as armas.

"Ainda é cedo para se saber, mas há muitos indícios de que teremos uma eleição com alta participação". Uma das razões é que "há muito interesse em se votar" devido ao clima político atual.

Esta maior participação virá, principalmente, dos jovens, e "o tema do controle de armas, sem dúvida, motivará alguns eleitores".

Usando o 14 de fevereiro - data do tiroteio em Parkland - como referência, um estudo da empresa de análises de dados TargetSmart revela que o número de jovens com entre 18 e 29 anos que se registraram para votar em 39 estados do país cresceu 2,16% em relação ao mesmo período imediatamente anterior ao massacre.

O estudo, realizado em julho, revelou que na Pensilvânia o registro de jovens eleitores cresceu 16%, no Arizona, 8,2, e na Flórida, 8%.

"Com o crescimento da geração Y e o aumento da população urbana em nosso estado (Flórida) tem crescido o eleitorado composto por gente que quer leis racionais sobre armas", avaliou o ex-legislador democrata Rod Smith ao jornal "Politico Florida".

"Estas tragédias da última década, ou mais recentes, não podem ser ignoradas."