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Avanços nucleares ou promessas vagas: o que pode sair da cúpula Trump-Kim

11.jun.2018 - O líder norte-coreano, Kim Jong-un (à esq.), e o presidente dos EUA, Donald Trump - Saul Loeb/AFP
11.jun.2018 - O líder norte-coreano, Kim Jong-un (à esq.), e o presidente dos EUA, Donald Trump Imagem: Saul Loeb/AFP

Em Washington (EUA)

25/02/2019 13h16

A dúvida que ronda a nova cúpula Donald Trump - Kim Jong Un é se os Estados Unidos e a Coreia do Norte conseguirão alcançar um acordo histórico ou se farão tudo ir pelos ares.

Observadores antecipam uma ampla gama de resultados possíveis oriundos dessa segunda cúpula. A seguir, alguns cenários que podem emergir do encontro de quarta-feira em Hanói, no Vietnã:

  • Fracasso completo: improvável

O homem-chave norte-americano na Coreia do Norte, Stephen Biegun, e seu colega asiático, Kim Hyok Chol, estão realizando conversas em Hanói para preparar o caminho para os líderes. Um colapso total da cúpula parece "improvável porque Trump e Kim estão muito envolvidos na reunião", afirma Viping Narang, professor do Instituto de Tecnologia de Massachusetts.

Mas o que vai sair das conversas é outra história. A primeira cúpula dos dois líderes em Singapura terminou com uma declaração vaga, que concordava com uma "desnuclearização completa", e que Pyongyang definiu como o fim das armas nucleares na península coreana.

Os Estados Unidos afirmam estar buscando a desnuclearização "verificável e irreversível" da Coreia do Norte, uma formulação à qual Pyongyang certamente resistirá.

  • Repetição de Singapura: derrota para Trump

Uma simples repetição da declaração de Singapura seria vista nos Estados Unidos como uma derrota para Trump. "O que seria um fracasso é outra declaração vaga sobre intenções com muito pouca ação concreta que cada parte está comprometida a assumir", explicou Jung Pak, um ex-analista da CIA que agora é membro sênior da Brookings Institution.

Narang concorda que uma repetição de Singapura seria o resultado favorito da Coreia do Norte, que não enfrentaria novas restrições.

"Há um paradoxo: para a cúpula ser útil para os norte-coreanos, as reuniões em nível do trabalho devem ser tão vagas e extensivas quanto possível", afirma Narang. "Mas para que a cúpula seja útil para os Estados Unidos, as reuniões em nível de trabalho devem fornecer algo concreto", acrescenta.

Um diplomata ocidental, falando sob condição de anonimato, disse que, se nada importante surgir do encontro, os falcões em torno de Trump, como seu assessor de Segurança Nacional, John Bolton, poderão pressionar ainda mais para que acabem com as conversas e se concentrem na pressão.

  • Trump cede terreno

Não importa o quanto a equipe Trump o prepare, esse nada tradicional presidente dos Estados Unidos pode rejeitar o conselho de especialistas e, como costuma fazer, seguir seu instinto.

Tal cenário seria visto como uma catástrofe por grande parte do establishment de Washington, que passou décadas tentando decifrar a Coreia do Norte.

"Um fracasso seria os Estados Unidos darem mais do que recebem", disse Abraham Denmark, diretor do programa para a Ásia do Centro Acadêmico Internacional Woodrow Wilson.

A Dinamarca expressou o temor de que Trump possa declarar o fim formal da Guerra da Coreia de 1950-53, que terminou com um armistício, sem uma ação significativa de Pyongyang.

"Declarar o fim da guerra é uma concessão importante e não deve ser feito de ânimo leve", disse ele, temendo um efeito sobre a dinâmica entre as duas Coreias.

Um grande temor para a Coreia do Sul e o Japão é que Trump chegue a um acordo que restrinja apenas os mísseis intercontinentais, que podem alcançar os Estados Unidos, e não fazer nada sobre os de curto alcance que os ameaça.

O secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, falou em várias ocasiões da cúpula norte-coreana como uma forma de proteger os americanos, o que aumenta as preocupações na região.

  • Desnuclearização verificável

O melhor resultado para os Estados Unidos seria um acordo verificável, passo a passo, em que os norte-coreanos se comprometam a acabar com seu programa nuclear além das promessas verbais.

As concessões norte-coreanas com as quais os Estados Unidos poderiam reivindicar a vitória incluem a suspensão de todos os mísseis e instalações nucleares do regime e a destruição de alguns deles, disse a Dinamarca.

Para Narang, a destruição do complexo de Yongbyon, principal centro nuclear da Coreia do Norte, seria um passo importante.

Mas a chave para Washington seria inspeções da Agência Internacional de Energia Atômica da ONU para verificar se a Coreia do Norte está se livrando de suas armas nucleares.

Em troca, Washington poderia abrir um escritório diplomático em Pyongyang, um passo em direção a relações diplomáticas completas, ou declarar o fim da guerra.

O objetivo mais urgente de Kim é o levantamento das sanções internacionais que frearam suas esperanças de desenvolvimento econômico. Os Estados Unidos insistem que não fornecerão ajuda até que a desnuclearização seja alcançada.

Mas Biegun recentemente sugeriu: "Nós não dissemos que não faremos nada até que vocês façam tudo".