Imagens de satélite revelam canais de pesca usados 4.000 anos atrás

Canais utilizados por ancestrais dos maias para pescar na península de Yucatán há cerca de 4.000 anos foram descobertos por cientistas liderados pela antropóloga Eleanor Harrison-Buck, da Universidade de New Hampshire, nos EUA. Os achados foram publicados em um artigo no periódico Science Advances na sexta (22).

O que aconteceu

Os cientistas identificaram os canais em Belize com o auxílio de drones e imagens de satélite do Google Earth. Eles acreditam que a rede tenha sido utilizada por povos da região por pelo menos mil anos —mas o período pode ter sido maior.

Os canais estão situados em uma área pantanosa. "A imagem aérea foi crucial para identificar um padrão distinto de zigue-zague linear [como os] canais", afirmou Eleanor à agência Associated Press.

Marieka Brouwer Burg, professora da Universidade de Vermont, com o assistente de campo Melvin Quilter durante a pesquisa em Belize
Marieka Brouwer Burg, professora da Universidade de Vermont, com o assistente de campo Melvin Quilter durante a pesquisa em Belize Imagem: Divulgação/Belize River East Archaeology (BREA) Project

Os cientistas viajaram até o local, que fica no Santuário de Vida Selvagem de Crooked Tree, e confirmaram por meio de escavações o que identificaram nas imagens aéreas. Essas escavações revelaram a extensão dos canais antigos que serviam para "prender peixes", já que represavam a água de enchentes anuais dos rios. Para confirmar a época a que pertenciam, 26 materiais dos canais foram datados com isótopo radioativo, o Carbono-14.

A pesca era feita pelos ancestrais dos maias com lanças pontiagudas que atravessavam os peixes, apontou o estudo. Os pesquisadores encontraram pontas farpadas das lanças nos canais e acreditam que o circuito era usado para a pesca de espécies de água fresca, como bagre.

Os canais encontrados nas escavações do projeto BREA
Os canais encontrados nas escavações do projeto BREA Imagem: Reprodução/Science Advances/Belize River East Archaeology (BREA) Project

Os pesquisadores apontam que o povo que pescava em Yucatán nesta época era seminômade, ou seja, não estava sempre no mesmo local. Os canais caíram em desuso quando os maias começaram a se assentar em vilarejos permanentes, praticando a agricultura, e uma cultura diferente começou a surgir ali.

Paisagem maia era drasticamente diferente. Eles construíram templos religiosos, estradas, pirâmides e outros monumentos. Desenvolveram sistemas complexos de escrita, matemática e astronomia —o que é conhecido pelo maior número de sítios arqueológicos que permaneceram do período posterior aos canais de Yucatán.

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Parece provável que os canais permitiram coletas anuais de peixes e encontros sociais, o que poderia ter encorajado pessoas a voltarem para esta área ano após ano e se reunir por períodos mais longos de tempo. Investimentos tão intensivos na paisagem podem ter levado finalmente ao desenvolvimento de uma sociedade complexa característica da pré-colombiana civilização maia, o que aconteceu subsequentemente nesta região por volta de 1.200 a.C.
Marieka Brouwer Burg, professora de antropologia da Universidade de Vermont e codiretora do projeto de Arqueologia Oriental do Rio Belize, em comunicado à imprensa

Pesca pode ter sido ligação entre duas culturas. O estudo aponta que a possibilidade de pescar (e alimentar populações crescentes) em grande escala por meio destes canais pode ter permitido que as populações se tornassem sedentárias, isto é, fixassem endereço finalmente na península —dando origem à cultura maia séculos depois.

Grupos que se fixaram podem ter sido grandes. Segundo estimativas dos cientistas, a rede de canais pode ter gerado pescados suficientes para alimentar cerca de 15 mil pessoas ao ano.

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