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Índia ataca campo islamita em território sob controle paquistanês

26/02/2019 17h15

Nova Délhi, 26 Fev 2019 (AFP) - A Índia anunciou nesta terça-feira que executou um "ataque preventivo" no qual matou uma grande quantidade" de membros de um grupo islamita em uma área do território da Caxemira controlado pelo Paquistão, país que denunciou uma "violação" da fronteira em disputa.

O ataque, de acordo com Nova Délhi, teve como alvo um campo de treinamento do grupo responsável pelo atentado suicida que matou 40 paramilitares indianos recentemente, o Jaish-e-Mohammed (JeM).

"A Índia atacou o maior campo de treinamento do Jaish-e-Mohammed em Balakot. Na operação, muitos terroristas, treinadores, comandantes e jihadistas preparados para atentados suicidas foram eliminados", declarou Vijay Gokhale, alto funcionário do ministério indiano das Relações Exteriores.

O Paquistão tem duas localidades com o nome de Balakot: uma situada praticamente na linha de cessar-fogo na Caxemira e outra na província de Khyber Pakhtunkhwa. O governo indiano não revelou qual das duas foi atacada.

Jaish-e-Mohammed (JeM, Exército de Maomé), um dos grupos armados mais ativos da rebelião separatista na Caxemira, preparava novos atentados suicidas na Índia, afirmaram as autoridades indianas.

"Diante do perigo iminente era necessário um ataque preventivo imediato", disse Gokhale.

O campo de treinamento ficava em uma floresta, no topo de uma colina, afastado da população civil, explicou o diplomata.

O Paquistão anunciou mais cedo que respondeu a uma breve incursão da Força Aérea indiana sobre a Caxemira.

"A Índia cometeu uma agressão inoportuna à qual o Paquistão responderá no momento e no local de sua eleição", segundo um comunicado divulgado na terça-feira após uma reunião da qual participaram vários ministros e altos representantes do exército paquistanês.

A China, como a União Europeia (UE), pediu "moderação" aos dois países.

"A Índia violou a linha de controle" (que serve de fato como fronteira entre os dois países na Caxemira), acusou, por sua vez, o porta-voz das Forças Armadas paquistanesas, o general Asif Ghafoor, no Twitter.

"A Força Aérea foi mobilizada. Os aviões indianos foram embora", completou.

As aeronaves indianas fizeram a incursão do lado do setor de Muzaffarabad, capital da Caxemira paquistanesa, indicou o militar em um segundo tuite.

"Entraram por três ou quatro milhas (4 a 6 km) no território".

"Confrontados com a resposta oportuna e eficaz da Força Aérea paquistanesa, liberaram às pressas uma carga útil enquanto fugiam, que caiu perto de Balakot. Não há vítimas nem danos", escreveu o general.

Ghafoor publicou fotos que mostram, segundo ele, o impacto da carga e pedaços de metal retorcido em uma parte da floresta.

Em um incidente separado, quatro civis morreram e dez ficaram feridos em uma troca de tiros, do lado paquistanês na Cachemira, informou Islamabad.

- 'Iniciativa perigosa' -A Índia acusa o Paquistão de apoiar as incursões de rebeldes islamitas e a rebelião armada na Caxemira, o que o governo paquistanês nega.

As duas potências nucleares do sul da Ásia disputam há sete décadas a região himalaia de Caxemira.

"A existência de infraestruturas de treinamento tão grandes, capazes de formar a centenas de jihadistas, não pode funcionar sem que as autoridades percebam", afirmou o diplomata indiano.

O primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, reuniu nesta terça-feira o comitê de segurança.

O atentado de 14 de fevereiro provocou uma onda de indignação na Índia, com pedidos de represália. O primeiro-ministro Modi cultiva uma imagem de político duro e aspira o segundo mandato.

O analista militar paquistanês Hasan Askari considera que "a iniciativa adotada pela Índia para satisfazer sua opinião pública é perigosa".

"Se tais ações continuarem, podem virar um conflito maior que levará a região a uma grave crise", disse à AFP.

Islamabad, que nega facilitar as ações de militantes islamitas na Caxemira indiana assim como as atividades dos rebeldes separatistas armados, já ameaçou responder em caso de represália indiana.

Na sexta-feira o governo anunciou que assumiu o controle de um complexo suspeito de funcionar como a sede do grupo JeM em Bahawalpur (centro), frequentado por 600 estudantes e 70 professores, segundo o ministério do Interior.