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As perigosas consequências de um Brexit sem acordo

13/03/2019 09h54

Londres, 13 Mar 2019 (AFP) - Depois de rejeitar pela segunda vez o acordo de Brexit negociado entre o governo britânico e a União Europeia, o Parlamento de Westminster deve decidir nesta quarta-feira se aceita uma saída brutal do bloco, uma possibilidade que preocupa o país duas semanas antes da data prevista.

Ninguém pode prever com certeza o que acontecerá se o Reino Unido for obrigado, em 29 de março, a uma retirada brutal, mas, diante da incerteza, as autoridades britânicas alertaram a população, em várias notas técnicas, sobre algumas das coisas que podem fazer para se preparar se o pior acontecer.

- Gastos bancários e de telefonia-Na telefonia móvel, o roaming gratuito acabaria imediatamente, de modo que os britânicos em Madri, Paris ou Berlim teriam que pagar taxas adicionais. E os habitantes da Irlanda do Norte devem ficar atentos para que seus telefones não se conectem a operadores da vizinha República da Irlanda caso se aproximem da fronteira.

Algo semelhante deve acontecer com os cartões de crédito e débito, que sofreriam despesas adicionais, enquanto os procedimentos bancários seriam "mais lentos", segundo Londres.

- Transporte aéreo e ferroviário -Os aviões britânicos perderiam a licença para voar na Europa.

Para evitar o caos nos aeroportos e não deixar o país isolado do continente, as autoridades europeias alcançaram, em fevereiro, um acordo preliminar para permitir os voos entre o Reino Unido e a Europa.

No entanto, as companhias aéreas britânicas não vão poder estabelecer ligações entre duas cidades europeias.

Da mesma forma, para suavizar as perturbações nos serviços de trem de alta velocidade Eurostar, a Comissão Europeia adotou uma proposta que garante a continuidade do transporte de passageiros e carga comercial através do túnel sob o Canal da Mancha.

Um relatório confidencial do governo britânico, publicado pelo Financial Times, considera que, se as autoridades francesas decidirem realizar controles de passaporte mais rigorosos para os viajantes ingleses, longas filas serão formadas, o que poderá afetar até 15.000 passageiros por dia.

- Papeis e mais papeis -Os trâmites administrativos deverão disparar a um nível de pesadelo. As empresas britânicas que fazem negócios com a Europa terão que preencher montanhas de declarações alfandegárias.

Os turistas britânicos que quiserem alugar um veículo vão precisar de uma carteira de motorista internacional, porque a sua não seria válida no continente, e até mesmo animais de estimação precisariam de novos documentos de viagem depois de perderem seus passaportes europeus.

- Medicamentos e esperma -A situação será mais preocupante para as pessoas que dependem de tratamento médico: as autoridades pediram às companhias farmacêuticas que fizessem reservas adicionais para seis semanas, além dos três meses que já haviam estabelecido.

Isso deve permitir cobrir interrupções de curto prazo devido ao bloqueio alfandegário.

Da mesma forma, o Reino Unido não terá mais acesso aos bancos de esperma europeus. Os estabelecimentos britânicos deverão desenvolver novos acordos e poderão ter que recorrer a importações de países terceiros.

- Advertências aos consumidores -O governo britânico também alertou que as compras online feitas em euros poderão sofrer "aumentos de preços e tempos de tratamento mais lentos".

E atividades lúdicas como assistir a um filme no celular ou tablet enquanto viajam pelo continente poderão ser muito mais complicadas: em teoria, os britânicos poderão perder o acesso a serviços de streaming quando estiverem fora do Reino Unido, porque o país não fará mais parte do "mercado único digital" europeu.

- Uísque e pedigree -Os britânicos estão orgulhosos de seu uísque escocês e de seu queijo Stilton, mas o status de todos os seus produtos permaneceria no ar porque perderiam sua "denominação de origem protegida" (DOP) na Europa.

Os 86 produtos DOP britânicos respondem por um quarto de todas as suas exportações de alimentos e bebidas.

E mesmo os criadores de cavalos puro-sangue no Reino Unido teriam dificuldade em exportar seus animais para o continente porque seus certificados de pedigree não seriam mais válidos.

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