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Ex-presidente egípcio Mursi enterrado no Cairo

18/06/2019 06h05

Cairo, 18 Jun 2019 (AFP) - O corpo do ex-presidente egípcio Mohamed Mursi, que faleceu na segunda-feira de modo súbito depois de passar seis anos na prisão, foi sepultado nesta terça-feira em Medinat Nasr, bairro do Cairo.

"Foi sepultado em Medinat Nasr (...) na presença de sua família. As orações fúnebres ocorreram no hospital da prisão de Tora", para onde Mursi foi levado após desmaiar no tribunal, disse o advogado Abdelmoneim Abdel Maksud.

Mursi, do movimento Irmandade Muçulmana, primeiro presidente eleito democraticamente do Egito, em 2012, destituído em 2013 pelo atual chefe de Estado, o general Abdel Fatah al Sisi, morreu durante uma audiência em um tribunal do Cairo.

Segundo fontes das forças de segurança e judiciais, o ex-presidente, que estava preso desde julho de 2013, depôs perante o tribunal antes de desmaiar. Ele chegou a ser levado para um hospital, onde faleceu.

A rede de televisão estatal informou que a morte foi causada por parada cardíaca.

"Ele falou diante do juiz por 20 minutos, então, se exaltou e desmaiou. Ele foi rapidamente levado para o hospital onde morreu", disse a fonte judicial, acrescentando que Mursi não apresentava ferimentos visíveis.

Mursi, um engenheiro de 67 anos procedente de uma família de agricultores, foi preso após sua destituição e julgado em vários casos, incluindo um de espionagem em favor do Irã, Catar e grupos militantes, como o Hamas, em Gaza.

Ele também foi acusado de fomentar atos de terrorismo.

Ao ser consultado pela AFP, seu advogado Maksud, declarou: "Não conseguimos vê-lo no tribunal por causa do vidro blindado, à prova de som. Mas outros detentos nos contaram que já não tinha pulso".

"Eu o vi em uma maca no complexo judicial da prisão de Tora", completou, antes de afirmar que nem ele nem a família do ex-presidente sabiam para que hospital foi levado.

O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan Erdogan, aliado do ex-presidente, imediatamente prestou homenagem ao colega, chamando-o de "mártir".

"A História não esquecerá dos tiranos que o levaram à morte, prendendo-o e ameaçando executá-lo", disse Erdogan em um discurso na televisão em Istambul.

O Partido da Liberdade e da Justiça, braço político da Irmandade Muçulmana, também acusou as autoridades egípcias de "lento assassinato", denunciando as "más condições" de detenção de Mursi.

O emir do Catar também manifestou sua "profunda tristeza".

Nas eleições presidenciais de 2012, se apresentou como o fiador dos ideais democráticos da revolta de 2011, lançada pela juventude liberal e laica, mas à qual se juntou a Irmandade Muçulmana.

Substituto de última hora para a primeira escolha da Irmandade Muçulmana, que era o empresário Jairat Al Shater, Mursi venceu a eleição com uma margem estreita em relação ao candidato do regime de Hosni Mubarak.

O modo de vida simples e afável de Mursi, casado e pai de cinco filhos, agradou nos primeiros meses de sua presidência. Mas rapidamente ele incomodou grande parte da população, que o acusou de ser um "fantoche" da Irmandade, ajudando-a a monopolizar o poder, sendo incapaz de restaurar a segurança ou de recuperar uma economia duramente abalada.

- Anódino e torpe -"Ele era visto como o fantoche da Irmandade, colocando seus membros em cargos do governa, o que irritava a burocracia acima e a população", diz Mustafa Kamel Al Sayid, cientista político.

Crises se sucederam e, um ano depois de sua eleição, em 30 de junho de 2013, milhões de egípcios tomaram as ruas para exigir sua renúncia. Seu inimigo, o ex-chefe do Exército, general Abdel Fatah Al Sissi, aproveitou a situação para justificar a destituição de Mursi três dias depois e iniciar uma violenta repressão contra seus partidários.

A polícia e soldados mataram mais de 1.400 manifestantes pró-Mursi em poucos meses. Centenas foram condenados à morte, em julgamentos em massa expeditos, descritos pela ONU como "sem precedentes na história recente".

Depois de sua destituição, Mursi foi condenado a um total de 45 anos de prisão em dois casos: incitação à violência contra os manifestantes no final de 2012 e espionagem a favor do Catar.

Durante seus julgamentos, ele apareceu no banco dos réus atrás de vidros blindados para evitar suas ataques, o que não o impediu de se apresentar como um presidente vítima de um "golpe de Estado" militar.

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