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Após sanções, Irã acusa EUA de fechar a porta para a diplomacia

8.mai.2019 - Presidente do Irã Hassan Rouhani discursa na capital Teerã - Presidência do Irã/AFP
8.mai.2019 - Presidente do Irã Hassan Rouhani discursa na capital Teerã Imagem: Presidência do Irã/AFP

Em Teerã

25/06/2019 09h13

O Irã acusou nesta terça-feira o governo dos Estados Unidos de fechar de forma "permanente" a via diplomática e de "mentir" sobre sua intenção de negociar, um dia depois do anúncio de novas sanções americanas.

Ao mesmo tempo em que aumentou a pressão em um contexto já muito tenso após os ataques contra petroleiros e a destruição de um drone americano pelo Irã na região estratégica do Golfo, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, fez apelos ao diálogo.

Na segunda-feira, Trump anunciou sanções contra o guia supremo, o aiatolá Ali Khamenei, e o chefe da diplomacia, Mohamad Javad Zarif, a face da política iraniana de distensão com o Ocidente, considerado um moderado e odiado pelos ultraconservadores iranianos.

"Ao mesmo tempo que pedem negociações, eles tentam punir o ministro das Relações Exteriores. É evidente que mentem", declarou o presidente iraniano, Hassan Rohani.

O porta-voz do ministério das Relações Exteriores, Abbas Musavi, afirmou que "impor sanções estéreis contra o guia supremo do Irã e o chefe da diplomacia iraniana é fechar de maneira permanente a via da diplomacia.

O secretário americano do Tesouro, Steven Mnuchin, explicou que as sanções pretendem congelar "bilhões de dólares" de ativos do país e afirmou que Zarif seria incluído na lista de sanções econômicas "esta semana".

"Problemas mentais"

"Sanções, para quê?", questionou Rohani. "Para congelar os ativos do guia? Mas nossos dirigentes não são como os dos outros países que têm bilhões em suas contas no exterior para que vocês possam impor sanções".

"Esta Casa Branca sofre de problemas mentais. Não sabe o que fazer", completou o presidente iraniano.

Irã e Estados Unidos romperam as relações diplomáticas em 1980, depois da Revolução Islâmica e da tomada de reféns na embaixada americana em Teerã. Uma aproximação aconteceu durante o governo de Barack Obama, com a conclusão em 2015 de um acordo internacional sobre o programa nuclear iraniano.

Com o acordo, Teerã se comprometeu a não produzir armamento atômico e a limitar drasticamente seu programa nuclear, em troca da suspensão de parte das sanções internacionais.

Após sua chegada ao poder, Trump decidiu retirar Washington de forma unilateral do acordo e restabelecer as sanções econômicas.

Apesar das medidas punitivas, o conselheiro de Segurança Nacional americano John Bolton afirmou durante uma visita a Israel, outro país inimigo do Irã, que a porta segue aberta para "verdadeiras negociações" com Teerã. Ao mesmo tempo criticou o que chamou de "silêncio ensurdecedor" dos iranianos ante a proposta de diálogo.

Nos últimos meses, a tensão aumentou entre os dois países, especialmente após a destruição, em 20 de junho, de um drone americano com um míssil iraniano.

Nesta terça-feira, a Rússia, aliada do Irã, respaldou a versão iraniana do incidente.

O secretário do Conselho de Segurança da Rússia, Nikolai Patrushev, afirmou que o drone americano estava no espaço aéreo iraniano e não no espaço aéreo internacional, como indica Washington.

"Tenho informações do ministério russo da Defesa de que o drone estava no espaço aéreo iraniano", declarou. "Não vimos provas do contrário", completou.

Diante do temor de um confronto entre os países, o Conselho de Segurança da ONU pediu o "diálogo". França, Alemanha e Grã-Bretanha, países signatários do acordo nuclear com o Irã, defenderam a busca por alternativas para reduzir a tensão. A China fez um apelo por "sangue frio".

Um dia depois da destruição do drone, Trump afirmou que cancelou no último momento ataques contra o Irã. A imprensa americana, no entanto, informou que o presidente autorizou uma série de ciberataques contra sistemas de lançamento de mísseis e uma rede de espionagem iraniana.

No dia do anúncio das novas sanções, o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, fez visitas oficiais aos Emirados Árabes Unidos e Arábia, dois países produtores de petróleo aliados de Washington e grandes rivais regionais de Teerã.

Os ataques contra petroleiros, em maio e junho - que Washington atribui a Teerã e que o regime iraniano nega - e a destruição do drone perto do Estreito de Ormuz, ponto de passagem crucial para o comércio mundial do petróleo, provocaram a disparada das cotações do combustível e o temor sobre o transporte de petróleo por esta via marítima.

Na quarta-feira, o Conselho de Segurança deve se reunir para examinar a aplicação do acordo nuclear iraniano. As divergências devem aumentar, pois o Irã anunciou que suas reservas de urânio enriquecido devem superar, a partir de quinta-feira, o limite previsto no pacto.

Até o momento, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) certificou que o Irã respeita os compromissos assumidos no acordo de 2015.