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EUA: Manifestantes protestam pela segunda noite contra morte de jovem negro

12.abr.2021 - Homem levanta o punho em frente aos policiais de Minnesota que montam guarda do lado de fora da delegacia do Brooklyn Center depois que um policial atirou e matou Daunte Wright - Kerem Yucel/AFP
12.abr.2021 - Homem levanta o punho em frente aos policiais de Minnesota que montam guarda do lado de fora da delegacia do Brooklyn Center depois que um policial atirou e matou Daunte Wright Imagem: Kerem Yucel/AFP

Em Minneapolis (EUA)

13/04/2021 06h35

Minneapolis vivia ontem a segunda noite de protestos, apesar do início do toque de recolher na cidade americana, agitada pela morte supostamente acidental de um jovem negro por uma policial, em meio ao julgamento do ex-policial acusado pela morte de George Floyd, que mantém os Estados Unidos sob suspense.

O presidente americano, Joe Biden, pronunciou-se mais cedo sobre o ocorrido no fim de semana, quando morreu Daunte Wright, dizendo que manifestações pacíficas são compreensíveis, mas que não há "absolutamente nenhuma justificativa" para saques.

Após os protestos da noite de domingo, o prefeito de Minneapolis, Jacob Frey, decretou toque de recolher, que entrou em vigor às 19h de ontem também na vizinha Saint Paul e nos três condados da região metropolitana, incluindo Hennepin, onde ocorreu o incidente.

Centenas de pessoas se reuniram ontem para uma vigília no cruzamento do subúrbio de Minneapolis em que Daunte Wright foi morto. E uma escultura de punho fechado foi levada para o local, transferida da área onde Floyd foi assassinado.

Wright, 20 anos, foi morto a tiros por "acidente" enquanto dirigia no domingo pelo Brooklyn Center, um subúrbio de Minneapolis, segundo a polícia. Os agentes haviam ordenado que o motorista do veículo parasse por uma infração de trânsito. Quando descobriram que ele tinha um mandado de prisão pendente, tentaram prendê-lo.

Além do toque de recolher, mil soldados da Guarda Nacional foram mobilizados para evitar novos tumultos. Ignorando a ordem da prefeitura, dezenas de manifestantes continuaram agitando cartazes e cantando palavras de ordem sob a chuva, em frente à delegacia de Brooklyn Center City.

Ontem, o comandante da polícia dessa localidade, Tim Gannon, disse que o caso foi "acidental" e que a policial envolvida não queria atirar, mas confundiu sua arma de fogo com sua pistola elétrica de imobilização. "Foi um tiro acidental que resultou na trágica morte" de Wright.

A policial, que de acordo com seu superior era uma agente experiente, foi suspensa.

Autoridades judiciais do estado de Minnesota publicaram em um comunicado a identidade da agente envolvida. Kimberly Potter, policial de Brooklyn Center há 26 anos.

Morte por asfixia

Essa nova morte de um cidadão negro pelas mãos da polícia reacendeu o trauma de uma cidade que sofreu várias noites de incidentes após a morte de George Floyd em 25 de maio de 2020. Na noite deste domingo, a polícia disparou gás lacrimogêneo para dispersar uma multidão que se reunia em frente à delegacia de Brooklyn Center.

Após os incidentes, a defesa do ex-agente acusado pela morte de Floyd, Derek Chauvin, pediu ao juiz que conduz o processo que isolasse o júri, preocupado que as manifestações pudessem influenciar sua decisão. Mas tanto a promotoria quanto o juiz se recusaram a isolar o júri. "Vamos isolá-los na segunda-feira, quando antecipamos as alegações finais", informou o magistrado.

Chauvin enfrenta acusações de homicídio culposo e doloso em segundo grau por seu papel na morte de Floyd, após imobilizá-lo colocando o joelho sob seu pescoço quando ele havia sido preso por supostamente ter feito um pagamento com uma nota falsa.

Vários vídeos mostram Chauvin pressionando o pescoço de Floyd por mais de nove minutos enquanto ele repetidamente lhe diz que não consegue respirar. As imagens desencadearam uma onda de protestos contra o racismo e a brutalidade policial nos Estados Unidos e no mundo.

A promotoria busca provar que a morte de Floyd foi causada por asfixia por parte da ação de Chauvin durante a prisão, e, para isso, convocou vários médicos a depor. Já a defesa argumenta que o óbito está relacionado ao fentanil encontrado em seu sangue, que se soma a fatores de saúde.

Ontem, testemunhou o renomado cardiologista Jonathan Rich, que afirmou que a morte ocorreu devido aos baixos níveis de oxigênio induzidos pela "asfixia posicional" a que foi submetido. "Não vejo nenhuma evidência de que uma overdose de fentanil tenha causado a morte de Floyd", ressaltou Rich.

A poderosa organização de direitos civis ACLU afirmou que a morte de Wright foi uma das 260 causadas pela polícia até agora em 2021. "O que precisa acontecer para que a polícia pare de matar pessoas de cor?", perguntou em um comunicado Ben Crup, o advogado da família Floyd, que também representará os parentes de Wright.