Militares mataram milhares de civis na Colômbia por resultados, diz ex-presidente
O ex-presidente e ganhador do Nobel da Paz Juan Manuel Santos admitiu nesta sexta-feira (11) que milhares de civis foram executados por militares na Colômbia pela pressão que receberam para apresentar resultados na luta contra a guerrilha, e pediu perdão por estes crimes.
"Não me resta a menor dúvida de que o pecado original, o que no fundo deu lugar a estas atrocidades, foi a pressão para produzir baixas", assim como "os prêmios por fazê-lo", disse Santos em uma declaração voluntária à Comissão da Verdade que investiga o conflito de meio século com as extintas Farc.
A Comissão é um órgão extrajudicial criado no âmbito dos acordos de paz em 2016, impulsionados por Santos e que levaram ao desarmamento dos rebeldes.
Santos esteve no poder entre 2010 e 2018 e antes foi ministro da Defesa de Álvaro Uribe (2002-2010). Sob o mandato deste último foram cometidos milhares de assassinatos de civis que depois eram apresentados como guerrilheiros mortos em combate.
Comovido, o ex-presidente pediu perdão aos parentes das vítimas presentes em seu comparecimento.
"Peço perdão a todas as mães e a todas as suas famílias, vítimas deste horror, do fundo da minha alma. Que isto nunca mais volte a acontecer", enfatizou.
A Jurisdição Especial para a Paz, que julga os mais graves crimes do conflito com as Farc, documentou 6.400 homicídios de civis por militares durante o mandato de Uribe, três vezes mais do que o estimado há pouco pela procuradoria.
O alto comando militar sempre negou que os assassinatos, incentivados por um "body count" ou contagem premiada de corpos, tenham sido uma prática sistemática no exército.
No entanto, Santos afirmou que são "uma mancha indelével na honra do Exército, que tem motivos de sobra para se vangloriar, mas que também deve ter a inteireza para reconhecer a verdade e pedir perdão. É uma das formas de ressarcir o dano".
Conhecidas no jargão militar como "falsos positivos", as execuções de civis são o maior escândalo do exército colombiano. Oficiais e soldados confessaram sua participação no tribunal de paz, em busca de benefícios penais.
Santos disse à Comissão da Verdade que soube dos crimes dos militares quando assumiu a pasta da Defesa, em 2006, mas diminuiu a credibilidade das denúncias.
Segundo o ex-presidente, as advertências do escritório da Alta Comissária para os Direitos Humanos da ONU e o Comitê Internacional da Cruz Vermelha foram fundamentais para investigar e sancionar 30 oficiais e suboficiais.
"Depois soubemos que os paramilitares colaboraram com membros das forças militares para produzir estes falsos positivos", acrescentou.
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