EUA acusam Taleban de impedir que afegãos deixem o país
Cabul, 19 Ago 2021 (AFP) - Os talebans mantêm postos de controle hoje ao redor do aeroporto de Cabul e impedem a saída de afegãos que desejam abandonar o país, acusou o governo dos Estados Unidos, que pediu uma passagem livre.
Dezenas de milhares de pessoas tentam fugir do Afeganistão desde que o movimento islamita radical assumiu no domingo (15) o poder no país, após uma ofensiva militar relâmpago que permitiu a tomada da capital em 10 dias após duas décadas de guerra.
Os afegãos, que recordam o regime taleban precedente, que governo o país entre 1996 e 2001, marcado por violações dos direitos humanos, não confiam nas promessas de moderação apresentadas nos últimos dias pelo grupo.
Os insurgentes, no entanto, constituem aos poucos suas autoridades políticas, após a chegada do exílio do cofundador do movimento taleban, mulá Abdul Ghani Baradar, que ao lado de outros dirigentes do grupo se reuniu com o ex-presidente afegão Hamid Karzai.
Afegãos bloqueados
O governo dos Estados Unidos expressou preocupação ontem com as informações de assédio e postos de controle para cidadãos afegãos, apesar das promessas dos talibãs de não adotar represálias.
"Ao que parece estão impedindo a chegada ao aeroporto dos afegãos que desejam sair do país", afirmou a subsecretária de Estado, Wendy Sherman.
"Esperamos que permitam que todos os cidadãos americanos, todos os cidadãos de outros países e todos os afegãos que desejam partir o façam de forma segura e e sem assédio", disse.
O porta-voz dos talebans, Zabihullah Mujahid, prometeu durante a semana que o novo regime será "positivamente diferente" do que governou entre 1996 e 2001, quando imperou uma interpretação rigorosa da sharia (lei islâmica), com apedrejamentos e a negação dos direitos das mulheres.
Apesar das promessas, a vitória dos talebans gerou uma onda de pânico: uma multidão correu para o aeroporto de Cabul, a única porta de saída do Afeganistão.
"Estou tentando desesperadamente partir", declarou à AFP um afegão que já trabalhou para uma ONG alemã.
"Na terça-feira eu fui ao aeroporto com meus filhos e minha família, os talebans e os americanos atiravam contra as pessoas, mas a multidão continuava avançando porque todos sabem que uma situação pior que a morte os aguarda do lado de fora do aeroporto", disse.
Caos e críticas
O governo dos Estados Unidos enviou 6.000 militares para garantir a segurança do aeroporto de Cabul e retirar os 30 mil americanos e civis afegãos que trabalharam para Washington e temem por suas vidas. Até o momento, pouco mais de 5.000 pessoas deixaram o país.
Reino Unido, França e Espanha, entre outros países, também organizam operações de retirada.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, muito criticado em seu país e no exterior pela gestão da retirada das tropas de seu país, admitiu ontem "dificuldades" e disse que uma certa forma de "caos" era inevitável.
"A ideia de que, de alguma forma, havia uma forma de ter saído sem que isso resultasse em um caos não vejo como seria possível", declarou o presidente durante entrevista à rede ABC.
Na frente internacional, os talibãs parecem ter conseguido uma recepção menos hostil que há duas décadas, quando apenas três países (Paquistão, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita) reconheceram seu regime.
Até o momento, nenhum país reconheceu oficialmente um governo taleban, mas China, Turquia, Rússia e Irã já enviaram sinais de abertura aos talebans. Os países ocidentais, no entanto, são muito mais reticentes e afirmam que desejam julgar por "ações" e não palavras.
Na política interna, os insurgentes divulgaram imagens do ex-presidente Karzai com Anas Haqqani, irmão mais novo de Sirajuddin Haqqani, líder da rede Haqqani, classificada como terrorista por Washington, e que tem o status de número dois dos talebans.
Os contatos foram bem recebidos por aquele que era o presidente do país até a tomada de poder pelos talebans, Ashraf Ghani, que fugiu no domingo para os Emirados Árabes Unidos. "Desejo sucesso ao processo" declarou Ghani em um vídeo, no qual também disse que está em negociações para "voltar ao Afeganistão".
Mas o governo dos Estados Unidos considera que Ghani, que sucedeu Hamid Karzai em 2014, "não é mais uma pessoa que conta no Afeganistão".
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